Material nuclear não pode cair nas mãos de “loucos”, diz Obama

Cimeira de Segurança Nuclear em Washington chegou ao fim. Mais de cem nações assinaram emenda para evitar que terroristas obtenham material nuclear.

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Obama fala numa conferência de imprensa na cimeira realizada em Washington Mandel Ngan/AFP

O Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, pediu nesta sexta-feira aos líderes mundiais para aumentarem a segurança de instalações nucleares vulneráveis, de modo a impedir que “homens loucos” de grupos como o Estado Islâmico (EI) tomem posse de armas nucleares ou de “bombas sujas” radioactivas.

Obama falou na Cimeira de Segurança Nuclear, em Washington, nos Estados Unidos, alertando para que o mundo enfrenta uma ameaça contínua de terrorismo nuclear, apesar do progresso que se tem feito na redução destes riscos. “Não podemos ser complacentes”, afirmou. Nenhum grupo foi ainda bem-sucedido na obtenção de materiais para produzir uma bomba, assegurou Obama, mas a Al-Qaeda há muito que procura estes materiais.

Há preocupações semelhantes em relação aos militantes do EI que estiveram por trás dos ataques recentes a Paris e a Bruxelas. “Não há dúvida de que se estes homens loucos pusessem as mãos em bombas nucleares ou em material nuclear, eles iriam com certeza usá-lo para matar todas as pessoas inocentes que conseguissem”, disse. “Mudaria o nosso mundo.”     

O Presidente recebeu mais de 50 líderes mundiais para esta quarta e última cimeira, que teve como objectivo confinar o material nuclear de modo a protegê-lo do terrorismo nuclear – “uma das grandes ameaças à segurança mundial” no século XXI, disse.

A presidência de Obama acaba em menos de dez meses, é este o prazo que tem para prosseguir uma das suas iniciativas principais de política externa. Embora tenham havido ganhos, os defensores do controlo de armas dizem que o processo diplomático – que Obama criou e defendeu – perdeu velocidade e pode abrandar ainda mais quando sair da Casa Branca em Janeiro.   

Um boicote feito pelo Presidente russo Vladimir Putin, que não quis juntar-se a uma cimeira dominada pelos Estados Unidos, numa altura em que a tensão entre Washington e Moscovo tem aumentado devido à Ucrânia e à Síria, pode ter contribuído para os resultados da cimeira, marcados em grande parte por medidas técnicas em vez de avanços políticos.

Numa conferência de imprensa que fechou a cimeira, o Presidente democrata tornou claro que as primárias do Partido Republicano, com as declarações controversas feitas pelo candidato Donald Trump, eram um assunto nas conversas paralelas dos líderes que participaram na cimeira.

Obama foi severo ao rejeitar as recentes declarações de Trump que sugeriu que deveria ser permitido à Coreia do Sul e ao Japão construírem o seu próprio arsenal nuclear, o que contraria décadas de política externa norte-americana. “A pessoa que fez estas declarações não tem grande conhecimento sobre política externa e política nuclear, ou ainda sobre a Península da Coreia e o mundo em geral”, disse Obama, acrescentando que os norte-americanos não querem ninguém que defenda este tipo de posições na Casa Branca.

Ameaça das “bombas sujas”

Os ataques bombistas em Bruxelas em Março aumentaram a preocupação de que o Estado Islâmico poderia, mais cedo ou mais tarde, atacar uma central nuclear, roubar material e desenvolver bombas sujas radioactivas. Segundo Obama, encontrou-se um vídeo de militantes daquele grupo com as rotinas diárias de um responsável de uma central nuclear belga.

O Presidente dos Estados Unidos disse que 102 países ratificaram uma emenda a um tratado de segurança nuclear para reforçar a segurança contra o roubo e o contrabando nuclear. “Reduzimos os riscos de uma forma mensurável”, disse. Mas acrescentou que com cerca de 2000 toneladas de material nuclear armazenado no mundo, “nem todo o material está seguro como deveria estar”.  

Os Estados Unidos e o Japão anunciaram ainda que tinham completado uma tarefa já há muito prometida de retirarem todo o urânio muito enriquecido e plutónio de um reactor de investigação japonês. O Japão, manifestamente contra as armas nucleares, foi o único país que sofreu um ataque nuclear na história da humanidade.

Obama não mencionou a ausência de Putin na cimeira. Mas disse que como o líder da Rússia estava reforçar o seu exército, seria improvável que houvesse novos acordos sobre a redução do vasto armamento nuclear das duas nações durante o resto da presidência de Obama.

O Presidente dos Estados Unidos convocou uma reunião separada com os líderes dos países mais poderosos para fazer um balanço do pacto nuclear que os Estados Unidos negociaram com o Irão em Julho último. É um ponto crítico da sua agenda de desarmamento nuclear e um dos principais legados da sua política externa.

A primeira Cimeira de Segurança Nuclear foi inaugurada há quase seis anos, depois do discurso de Obama em Praga, em 2009, onde anunciou o objectivo de um mundo livre de armas nucleares. Não há qualquer garantia que um sucessor de Obama vá dar prioridade a esta questão.