Monsanto: floresta intocada, parque urbano ou nenhum dos dois?

O parque florestal foi tema de debate na Assembleia Municipal de Lisboa. Como fazer dele um espaço “vivido” mas não “invadido” foi uma das questões em pano de fundo.

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Enric Vives-Rubio

Monsanto deve ser “uma floresta preservada a 100%”, “um parque urbano” ou algo a meio caminho, se é que tal é possível? No debate que a Assembleia Municipal de Lisboa promoveu sobre o parque florestal foi notório que a resposta não é unânime e que há quem gostasse de ver reunida numa só solução o melhor de todos os mundos.

Foi o deputado do Pessoas-Animais-Natureza quem apontou, numa altura em que ia já longo o debate que teve lugar esta quinta-feira, a existência de “uma esquizofrenia latente” entre a ideia da “floresta preservada a 100%” e a do “parque urbano”.

“É uma dicotomia que tem que ser de alguma forma integrada dentro de todos nós”, considerou Miguel Santos, defendendo que “tem que haver bom senso”. O que, advogou, passa por permitir a “fruição” de Monsanto pelas pessoas, sem que tal implique reduções da “mancha verde” do parque florestal ou da sua biodiversidade.

“Queremos um parque vivido e não invadido”, afirmou por sua vez o deputado centrista Diogo Moura, que com esta frase resumiu aquela que foi a mensagem deixada por vários dos oradores que o antecederam.

Nesse sentido, o deputado manifestou-se contra a realização em Monsanto de “eventos de grande dimensão”, que em seu entender contribuem para a “degradação” do espaço, e apelou a que “não se caia na tentação” de transformar esta área de Lisboa num “parque urbano”.

Em sentido contrário pronunciou-se um dos três cidadãos que se increveram para falar neste debate. Lembrando que Lisboa “não tem um grande parque urbano”, ao contrário do que sucede noutras capitais europeias, Nuno Mendonça Raimundo sustentou que esse pode ser o papel de Monsanto.

Para este cidadão, o parque florestal está hoje “totalmente desligado da cidade”, e apresenta no seu interior vários “equipamentos espalhados, sem qualquer ligação”. “Monsanto não pode ser vivido pelas pessoas se não tiver condições para tal”, defendeu a esse respeito Nuno Mendonça Ribeiro, apontando a melhoria dos acessos como uma das soluções a adoptar.

Outra ideia deixada por este orador foi a de que se deslocalize para o parque florestal o Jardim Zoológico. “Apelo às pessoas para que não cedam a fundamentalismos. O abate de uma árvore hoje pode dar lugar a algo muito melhor no futuro”, afirmou, numa declaração que não foi bem recebida por parte do público.

Uma outra intervenção que aqueceu o debate foi a de Artur Lourenço, da Plataforma por Monsanto, que se mostrou muito critico da actuação do executivo camarário. Admitindo que é possível observar “progressos” no parque florestal, este cidadão considerou no entanto que são também “muitos” os “problemas” existentes em Monsanto e as “ameaças” que sobre esta área recaem.

Entre os aspectos negativos, Artur Lourenço elencou o “abate de árvores injustificado para favorecer objectivos privados”, o excesso de tráfego automóvel no parque, a permissão dada à realização de “grandes eventos” como a Semana Académica e a existência de “problemas urgentes a resolver” ao nível da manutenção e da vigilância.

“Os principais vigilantes do parque são hoje os seus utilizadores”, afirmou o representante da Plataforma de Monsanto, denunciando que “nalgumas zonas” se assiste a “um regresso da prostituição” e a “um aumento dos furtos”.   

Uma das intervenções seguintes coube ao comandante da Polícia Florestal, que procurou afastar a ideia de que há falta de vigilância em Monsanto, explicando que ela é feita pela força que representa (em automóvel, a cavalo e através de câmaras de videovigilância) e também pela Polícia Municipal de Lisboa. “Fazemos o possível dentro do efectivo que temos”, concluiu o subcomissário José Paulo Santos.  

Quem também teve direito a intervir neste debate (cuja realização foi proposta pelo PEV) foram os presidentes das juntas de freguesia na área de Monsanto, vários dos quais sustentaram a necessidade de se melhorar os acessos ao parque. Um pedido que deixou preocupada a Provedora dos Animais, Inês Sousa Real, que sublinhou que “o aumento das acessibilidades tem que ser ponderado” por forma a garantir que não se põe em causa a biodiversidade.

Em nome da câmara, o vereador da Estrutura Verde repetiu a promessa já feita de que “em breve” será possível usufruir do Monte das Perdizes (onde funcionava o campo de tiro) e do antigo aquaparque e adiantou que “para o ano” deverá começar a circular no interior do parque um autocarro eléctrico. José Sá Fernandes congratulou-se ainda com o facto de o sistema de gestão florestal de Monsanto ter sido recentemente certificado.

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