Donos de discotecas do Cais do Sodré penhoram edifício para exigir negociações

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Novo projecto implica o desaparecimento do Tokyo, que tem música ao vivo Nuno Ferreira Santos

Os donos das discotecas Jamaica, Tokyo e Europa, em risco de fechar no Cais do Sodré, em Lisboa, decidiram penhorar o edifício onde estes espaços se encontram para exigir negociações com os proprietários.

"Pagámos ontem [terça-feira] as custas judiciais e dentro de pouco tempo os proprietários vão ser notificados. Isto vai obrigar a que eles se sentem à mesa connosco porque desta forma não podem vender o edifício", disse à agência Lusa o gerente do Tokyo e do Jamaica, Fernando Pereira.

O também dirigente da Associação Cais do Sodré – que esteve ao final da tarde a ser ouvido pela comissão permanente de Economia, Turismo, Inovação e Internacionalização da Assembleia Municipal de Lisboa – acrescentou que depois desta acção "existem outras possibilidades, que estão estudadas". Apesar de não revelar pormenores, indicou que o objetivo é "esticar a permanência ali por mais uns aninhos".

No início deste mês, os arrendatários Fernando Pereira (Jamaica e Tokyo) e Pedro Vieira (Europa) divulgaram a denúncia dos seus contratos de arrendamento, feita pelos senhorios, que venderam o edifício a uma imobiliária. Esta, por sua vez, vendeu-o a um grupo hoteleiro francês.

A venda obriga a que, até meados de Abril, os inquilinos deixem o prédio onde se encontram, na Rua Nova do Carvalho, para ali nascer um hotel que será dedicado à música, segundo Fernando Pereira.

Indicando que o projeto de arquitectura que prevê demolição já teve aval da câmara, o representante apontou que só se prevê a manutenção do Jamaica devido à sua "marca forte" e por estar localizado "no canto e não incomodar tanto". Para o lugar do Tokyo (que tem música ao vivo) e do Europa (mais dedicado à electrónica), projeta-se um "'spa' com piscina e com balneários", referiu.

Na reunião desta quarta-feira, a deputada do PSD Rosa Carvalho da Silva defendeu que é necessário avançar com uma providência cautelar "para parar com todo" o processo e salientou que "a melhor defesa é o ataque". Também os deputados socialistas Simonetta Luz Afonso e José Leitão sustentaram que a medida "permite negociar com alguma força".

Fernando Pereira afirmou que isso foi colocado em cima da mesa, mas foi abandonado porque "as providências cautelares têm de ser defendidas muito rapidamente em tribunal e se não tiverem sustentação caem por terra".

O dono do Jamaica adiantou à Lusa que, entretanto, o Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa decidiu favoravelmente ao pedido de indemnização feito por este arrendatário contra os senhorios, no valor de 200 mil euros. Em causa está a derrocada que ocorreu há cinco anos no edifício e que obrigou ao encerramento da discoteca por quatro meses. O objetivo é que este dinheiro venha a ser "diluído nos próximos anos de renda" do Jamaica, assinalou.

Falando na sessão, a presidente da Junta de Freguesia da Misericórdia, Carla Madeira (PS), disse estar a acompanhar a situação com "particular preocupação". A comissão municipal decidiu que vai realizar uma recomendação à Câmara de Lisboa, que será apreciada em plenário na Assembleia Municipal, bem como apresentar uma moção à Assembleia da República.