Um polícia e dois civis em estado crítico após tiroteio em Lisboa
Agentes da investigação criminal da PSP baleados na sequência de uma rixa entre duas famílias no Bairro da Ameixoeira. Vítimas foram transportadas para o Hospital de Santa Maria.
Três agentes da investigação criminal da PSP, um deles em estado grave, e dois civis, igualmente em estado crítico, foram baleados nesta terça-feira no Bairro da Ameixoeira, perto do aeroporto da capital. O incidente terá ocorrido pouco antes das 20h durante uma rixa entre duas famílias de etnia cigana que envolveu uma troca de tiros. Entre os civis, duas mulheres, uma delas foi atingida no abdómen.
O porta-voz da PSP, intendente Hugo Palma, fez saber que dois grupos do bairro se desentenderam por volta das 19h40 e começaram aos tiros. Três polícias das equipas da Investigação Criminal da 3.ª Divisão da PSP, em Benfica, apareceram (ou foram chamados ou já estavam no bairro). Terão sido apanhados pelo tiroteio. Estavam vestidos à civil, num carro descaracterizado, “e viram-se obrigados a responder”, explicou o intendente da PSP. Dois civis, ambas mulheres, foram apanhados no meio do fogo, não se sabe se atingidos pela polícia ou se por algum dos elementos dos grupos rivais.
Os agentes, com idades entre os 30 e os 40 anos, terão sido atingidos em condições que ainda não estão completamente esclarecidas. "Estavam três polícias num carro e todos terão sido alvo de disparos. Não sabemos se dentro ou fora da viatura", disse o intendente Hugo Palma, acrescentado não ter informações sobre o estado clínico das vítimas. O PÚBLICO apurou que os polícias foram para o hospital no seu próprio carro.
Segundo uma outra fonte policial, os agentes terão sido atingidos com tiros de caçadeira e estão a receber tratamento no Hospital de Santa Maria, em Lisboa. Contactado pelo PÚBLICO, o assessor de imprensa da unidade hospitalar apenas adiantou que deram entrada no hospital três polícias e não um, mas dois civis. Não avançou nenhuma informação sobre o estado das vítimas, mas o PÚBLICO apurou junto de fonte ligada à emergência médica que um dos polícias estará em estado grave.
Segundo o intendente Hugo Palma, não foram feitas detenções até cerca das 23h. Entretanto, a segurança no bairro foi reforçada com agentes de esquadras locais.
“Temos medo"
Eram oito da noite, ia aquecer o comer, estava à janela a estender roupa quando ouvi os tiros. Fui logo para dentro. O meu marido ainda lá está [dentro de casa] cheio de medo”, contava uma moradora do bairro da Ameixoeira, cuja casa fica à entrada da Rua António Vilar — uma rua larga e comprida, com prédios de sete, oito andares, habitados sobretudo por famílias de etnia cigana.
“O problema é esse, juntaram famílias ciganas vindas de sítios diferentes, tudo aqui, e deu nisto”, acrescentava um residente que também não se quis identificar. Todos dizem que o ambiente no bairro é muitas vezes tenso. Mas nesta terça-feira foi pior do que o habitual.
Depois dos tiros, a rua foi cortada, um perímetro de segurança foi montado e avistavam-se agentes com lanternas a recolher indícios nas bermas dos passeios e por baixo dos carros estacionados. Uma caçadeira foi recuperada. Do que se passou realmente sabia-se ainda pouco ao final da noite.
Após o tiroteio, a PSP mobilizou de imediato o Corpo de Intervenção, mas deparou-se com um problema. Na sede da Unidade Especial da Polícia, onde se integra o Corpo de Intervenção (CI), não estavam elementos de reserva, apurou o PÚBLICO. Um grupo de 70 agentes tinha ido em serviço para o jogo de futebol que opôs as selecções de Portugal e da Bélgica em Leiria. Há cerca de um mês, na sequência dos mais recentes atentados terroristas na Europa, que o CI não tem grupos de reserva, já que foram aplicados em patrulhamentos e segurança de embaixadas. Esse grupo do CI foi mobilizado para a Ameixoeira com o objectivo de garantir o perímetro de segurança e apoiar eventuais buscas por armas.
Fonte oficial do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) adiantou também que o alerta foi dado às 19h55 para uma situação descrita como "agressão com arma de fogo". O INEM, ao contrário da PSP, contabiliza apenas três vítimas: duas delas agentes da PSP e um civil. No local, estiveram as viaturas médicas de emergência e reanimação dos hospitais de Loures e do Santa Maria, duas ambulâncias do INEM e uma dos Bombeiros Voluntários de Camarate.
O bairro onde o tiroteio ocorreu é predominantemente de habitação social, no caso prédios da empresa municipal de Lisboa Gebalis. “Há anos que eu e o meu marido queremos sair do bairro”, contava ao PÚBLICO a mesma moradora cuja casa fica à entrada da Rua António Vilar. “Temos medo mas não temos dinheiro para sair.”