Ferrari quer ser sinal vermelho na hegemonia da Mercedes

Favoritismo da Mercedes é incontornável, mas Ferrari quer voltar às vitórias já em 2016. Como é habitual, a Austrália marca o arranque de um Mundial com muitos focos de interesse.

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Paul Crock/AFP

Por muitas voltas que se dê, literalmente, não há como evitar a grande questão que se coloca no arranque da temporada de 2016 de Fórmula 1 (F1), na Austrália: quem pode ameaçar a hegemonia da Mercedes?

A bem do espectáculo, nem mesmo o adepto mais entusiasta da marca alemã gostaria de ver repetidos os habituais passeios de domingo à tarde em que os Mercedes prateados transformaram as corridas de F1, mas a verdade é que o passado recente diz-nos que o único carro capaz de rivalizar com um Mercedes foi… outro Mercedes!

Os números não deixam margem para dúvidas. Nas duas últimas épocas a construtora de Estugarda venceu 32 das 38 provas do mundial. Só na época passada, que contou com 19 corridas, a Mercedes venceu 16, somando a isso 12 dobradinhas e 18 pole positions.

Repetir uma temporada sem emoção competitiva é tudo o que não se quer para 2016 e essa é uma preocupação assumida do “patrão” da disciplina, Bernie Ecclestone. “Espero que, quer a Ferrari, quer a Red Bull possam ser capazes de voltar aos lugares que lhe estão reservados e que sejam capazes de discutir o título até ao fim”.

Curiosamente é no seio da Mercedes que pode estar uma das “chaves” para uma maior emoção em 2016. O chefe da equipa alemã, Toto Wolff, confirmou que para 2016 “aligeirou” o código de conduta a ser seguido pelos seus pilotos, resultando daí uma maior autonomia para cada um escolher as respectivas estratégias e para se confrontarem em pista.

“Aprendemos coisas no passado e fizemos alterações. A luta entre os nossos dois pilotos é um grande desafio para nós e uma mais-valia para a F1. Com certeza vão existir momentos delicados, mas temos que estar preparados”, afirmou.

Para já os dados concretos ainda são poucos, mas os últimos testes realizados em Barcelona permitem tirar algumas conclusões. Para aquela que vai ser a época mais longa de sempre da F1, com 21 Grandes Prémios confirmados, a equipa alemã optou por não levar ao limite o novo W07, preferindo fazer uma maratona que terminou muito perto das 1300 voltas ao traçado catalão, o que equivale nada mais, nada menos, do que à totalidade da temporada.

Mesmo a rodar longe dos limites, numa opção que muitos consideraram arrogante, os números são mais impressionantes quando se sabe que foram conseguidos em apenas oito dias e que para isso a Mercedes utilizou somente dois propulsores, quando a regulamentação exige que cada um dure, no mínimo, (apenas) cinco provas.


Pela experiência do passado, sabe-se que os testes de início de época pouco valem na hora de medir o andamento real dos monolugares, mas, a haver um vencedor de pré-época, esse título seria da Ferrari. A escuderia italiana deixou uma imagem muito positiva das duas semanas na Catalunha. Não foi tudo perfeito, pois o novo SF16-H levantou algumas dúvidas nos primeiros dias, sobretudo no capítulo da fiabilidade, mas as dúvidas deram lugar a certezas e essas mostraram uma enorme evolução face a 2016. O novo Ferrari acabou rápido e consistente, como provam as 142 voltas concluídas só no último dia de testes, em que foi o mais rápido em pista.

E é por isso que a Ferrari é vista como a maior (e única) esperança para combater as “flechas prateadas” e devolver a tão ansiada competitividade que teima em não reaparecer na F1. Para já, ainda não se sabe o que vale o novo Mercedes em velocidade pura, mas é justo salientar que, com “calçado” idêntico, os Ferrari conseguiram marcas semelhantes à dos bicampeões mundiais. “Nós sabemos que a Ferrari está próxima. Não sabemos se vamos estar à frente ou atrás, mas penso que a diferença vai ser mínima”, assegurou o vice-campeão do mundo, Nico Rosberg, dias antes do início do campeonato.

Mas há mais pontos de interesse além das equipas de topo, nomeadamente nas formações do meio da tabela. Este é o campeonato da Williams, Red Bull, Toro Rosso e da surpreendente Force India. Dado o “salto” do Ferrari, quer Williams, quer RedBull, devem partir mais distantes dos quatro da frente. Ainda assim, a marca britânica respira confiança e parte em busca de mais uma boa temporada, depois do terceiro posto no Mundial de construtores em 2015. Menos optimista, a formação austríaca deverá andar a ser seguida de muito perto pela filial Toro Rosso e pela Force India.

Talvez as maiores incógnitas sejam a McLaren e a Renault. A equipa britânica surge com expectativas renovadas no novo MP4/31, que tentará apagar a má imagem deixada em 2015. A dupla Alonso/Button (a mais experiente do pelotão) mantém-se ao volante à espera que o motor Honda consiga os mínimos padrões competitivos. Já a Renault, que herdou a vaga da Lotus, inicia nova experiência na F1 com um carro que, segundo admite a própria marca, é para lutar por títulos no prazo de três anos. Não se esperam grandes feitos do novo RS16, que é, sem dúvida, um dos monolugares mais vistosos da grelha.

Dos últimos lugares não devem escapar a estreante Haas, a Manor e a Sauber, cujos problemas financeiros têm limitado consideravelmente a evolução do carro, que não deve repetir o fulgor inicial de 2015.

Quanto à norte-americana Haas, que faz estreia absoluta na disciplina, apostou numa dupla experiente, que poderá dar muitos motivos para sorrir à equipa. O francês Romain Grosjean, com 10 pódios na carreira, abandonou o projecto da Lotus para embarcar numa nova aventura, na qual terá como companheiro de equipa o mexicano Esteban Gutiérrez. A equipa mostrou que tem ainda muito para aprender, mas é também a principal candidata a baralhar as contas do pelotão.

Contas feitas, em 2016 a questão do título deverá ser um assunto a quatro, com as equipas de segunda linha à espreita para, sempre que possível, estragarem essa equação. Se a Ferrari vai conseguir chegar à favorita Mercedes é o que vamos tentar perceber já na corrida da madrugada de domingo, mas não faltam motivos de interesse para seguir de perto a nova época de F1, que só termina a 27 de Novembro, em Abu Dhabi.


Algumas alterações para a nova época
 

  • Tudo novo na qualificação

Depois de muita polémica, o novo formato da qualificação acabou por ser aprovado. A nível desportivo é a alteração mais significativa da nova época. Assim, em 2016 a qualificação continua a ser feita em três fases (Q1, Q2 e Q3), mas com um sistema por eliminatórias.A Q1 terá a duração de 16 minutos e contará com os 22 carros em pista. Após os primeiros sete minutos o mais lento é eliminado, processo que se repete a cada 90 segundos até sobrarem 15. São esses que passarão para a Q2 (15 minutos). Nessa etapa, após seis minutos, as eliminações repetem-se a cada 90 segundos até ficarem os oito apurados para a Q3. Na derradeira fase (14 minutos), as eliminações dão-se após os primeiros cinco minutos, até que fiquem em pista os dois carros que irão discutir a pole position.

  • Ultra-macio - aderência máxima

De seis para sete. A Pirelli confirmou a introdução de um novo composto para 2016, que alargará a escolha de pneus slicks. Os ultra-macios, de desgaste rápido, vão surgir com banda roxa a partir do GP do Canadá (12 Junho) e vão proporcionar aderência máxima aos monolugares. Quanto ao resto nada muda: super-macios (vermelho), macios (amarelo), médios (branco), duros (laranja), intermédios (verde) e de chuva (azul).

  • Menos rádio, mais autonomia

Depois da polémica das últimas épocas, as comunicações entre o piloto e as equipas durante a corrida vão ser restringidas para o mínimo essencial. O objectivo passa por diminuir interferências externas no desenrolar da prova e no desempenho do piloto, que assim ficará muito mais dependente de si e da própria leitura de corrida.

  • GP da Europa e da Alemanha

Numa estreia absoluta, o GP da Europa vai correr-se no novíssimo circuito citadino de Baku, num traçado que irá criar novos desafios aos pilotos. As ruas medievais da cidade vão ser a base do traçado, que promete muitas manobras apertadas. Depois de falhar o calendário de 2015, a F1 regressa à Alemanha, a um dos circuitos mais emblemáticos do desporto motorizado. Hockenheim entra em cena a 31 de Julho.

  • Transmissão em canal aberto

A F1 volta a ser transmitida fora de um canal premium (Eurosport), numa mudança que pode reavivar o interesse do público português pela disciplina máxima do desporto motorizado. Assim as batalhas em pista o justifiquem, a hora de almoço das famílias pode voltar a ser retardada a favor dos sempre emocionantes arranques.


 

 

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