Quase metade dos jovens nos centros educativos cometeu crimes por diversão

Inquérito feito pelo Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos aos rapazes e raparigas nos seis centros educativos do país

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Daniel Rocha

Porque cometem os adolescentes crimes? Para obter dinheiro ou bens, por diversão/adrenalina, por causa do consumo de bebidas alcoólicas/drogas ilícitas, indica um inquérito feito pelo Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e das Dependências (SICAD) aos rapazes e às raparigas internados nos seis centros educativos do país.

Neste primeiro inquérito aos comportamentos aditivos, feito em parceria com a Direcção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais (DGSP), 66% dos jovens declararam ter tido comportamentos tipificados como crime para obter dinheiro/bens, 40% por diversão/adrenalina, 34% para custear o consumo de substâncias psicoactivas, 19% por estarem sob o efeito de droga/álcool e 4% a ressacar.

O questionário foi preenchido em Junho de 2015 pelos 142 rapazes e raparigas que se encontravam a cumprir medida de internamento nos seis centros educativos, o que então correspondia a 93% da população. O que falta para alcançar os 100% explica-se com as fugas recorrentes. Por exemplo, em Fevereiro deste ano, também deviam estar 149 jovens internados e 5 estavam em “ausência não autorizada”.

O estudo revela padrões de consumo superiores aos rapazes e raparigas da mesma idade (12 a 20 anos) que frequentam o ensino regular público. De acordo com o sumário executivo, a que o PÚBLICO teve acesso, “nos doze meses anteriores ao internamento, 82% consumiram bebidas alcoólicas e 80% substâncias ilícitas”. Atendendo aos últimos 30 dias, o consumo declarado é de 72% no que concerne a bebidas alcoólicas e de 68% no que diz respeito a substâncias ilícitas.

Consomem, sobretudo, cannabis (79%), bebidas espirituosas (74%), cerveja (66%), estimulantes como anfetaminas ou ecstasy (22%). Quase metade (44%) fumava cannabis com uma frequência quase diária antes de serem internados. Muitos bebiam até ficarem alegres (53%) ou embriagados (29%). E bem mais de metade (62%) tinha por hábito consumir mais do que uma substância.

A entrada no centro educativo faz cair o consumo, mas não é suficiente para o parar: 37% já ingeriu bebidas alcoólicas e 36% drogas ilícitas depois de ter começado a cumprir a medida de internamento. Não se pense que o fizeram sempre dentro dos centros educativos: a medida pode ser executada em regime aberto, semiaberto e fechado – a maior parte pode sair no fim-de-semana ou nas férias e muitos frequentam alguma escola ou algum estágio no exterior. Mesmo assim, 10% admite já ter consumido bebidas alcoólicas nas instalações do centro educativo e 23% diz o mesmo sobre drogas ilícitas.

Quase todos rapazes

Não se queixam de sobrelotação: desde Novembro de 2014, o número de jovens internados é inferior à lotação dos centros educativos. Em Fevereiro deste ano, a taxa de ocupação era de 75%, segundo a Direcção Geral de Reinserção e Serviços Prisionais, eram quase todos rapazes (86%). A maior parte contava 16 (36) ou 17 anos (42).

Na tipologia de crimes registados nos processos de origem, continuam a predominar os crimes contra o património (47%), sobretudo roubos e furtos. Seguiam-se os crimes contra as pessoas (43%), com destaque para a ameaça, a coacção e a ofensa à integridade física simples ou agravada.

O estudo agora divulgado indica que “65% dos jovens cometeram pelo menos parte dos crimes sob o efeito de bebidas alcoólicas ou de substâncias ilícitas": 34% estiveram por vezes sob o efeito de bebidas alcoólicas, 8% sempre; e 45% estiveram por vezes sob efeito de drogas ilícitas e 4% sempre.

Os autores do estudo elencam os factores de risco: muitos destes rapazes e raparigas experienciaram rupturas: alterações da estrutura familiar, mudança de casa, transferência de escola. Antes de terem sido condenados a uma medida de internamento, a maior parte frequentava anos escolares anteriores ao que seria de esperar, quase todos costumavam faltar às aulas e já tinham sido suspensos ou expulsos – 16% não conferiam utilidade à escola e 70% não gostavam de a frequentar. Ali, quase todos frequentam cursos de educação e formação de adultos.

Conforme o inquérito, “estes jovens desvalorizam mais o risco associado ao consumo de cannabis do que os jovens em geral – metade considera que, desde que consumida poucas vezes, não traz grandes problemas”. Aprofundando, 76% consomem quando se juntam aos amigos – 37% sempre. E, com frequência, 21% roubam ou furtam quando estão com amigos – 11% sempre.

Para muitos (56%) consumir drogas é uma forma de lidar com as dificuldades da vida. Não lhes faltavam exemplos: 28% eram capazes de identificar familiares próximos que se costumam embriagar. A aprovação era inferior quando o que estava em cima da mesa eram substâncias ilícitas.

Questionados sobre o futuro, mais de metade declarou pretender mudar de estilo de vida: 85% desejavam mudar quanto à prática de crimes, 75% quanto a hábitos de consumo de bebidas alcoólicas, 67% por cento quanto ao uso de substâncias ilícitas e 66% quanto a jogos.  É elevada a prática de jogos electrónicos (83%) que não envolvem dinheiro  e até de jogos a dinheiro (33%), um hábito que também cai com a entrada nos centros educativos, mas que também não se extingue. 

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