Sudão do Sul autoriza os soldados a violarem mulheres, denuncia a ONU

"A quantidade de violações e de violações em grupo descritas no relatório, são apenas um fragmento da realidade", disse o Alto Comissário para os Direitos Humanos.

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A guerra no Sudão do Sul matou dezenas de milhares de pessoas e fez dois milhões de deslocados ALI NGETHI/AFP

O exército do Sudão do Sul e as milícias que são suas aliadas foram autorizadas a violar mulheres como forma de pagamento pelos serviços militares prestados, denuncia um relatório das Nações Unidas. De acordo com a investigação feita, o exército está a aplicar uma política de "terra queimada" em que as propriedades são destruídas, os bens são pilhados e os civis são mortos ou sexualmente atacados — só no ano passado foram violadas no estado de Unity 1300 mulheres e raparigas.

A investigação das Nações Unidas, que se centrou no período entre Abril e Setembro de 2015, diz que ambos os lados da guerra civil do Sudão do Sul são responsáveis por "graves violações e abusos", mas sublinha que "o governo surge como responsável pelas mais graves e sistemáticas violações dos direitos humanos".

O governo nega as acusações e garante que vai investigar. "Temos regras e estamos a segui-las", disse à BBC um porta-voz do Presidente Salva Kiir.

Segundo o relatório da ONU, os soldados e as milícias operam segundo a premissa "façam o que quiserem e levem o que quiserem", que os autoriza a violar e raptar mulheres e crianças, assim como a roubar gabo e bens pessoais.

Uma das testemunhas ouvidas pelos investigadores da ONU contou que a sua filha de 15 anos foi violada por dez homens depois de o seu marido ter sido morto. Outros relataram a morte de homens, esquartejados depois de assassinados.

O Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos, Zeid Ra’ad Al Hussein, classificou o que se passa no Sudão do Sul como "crimes contra a humanidade" que considerou como "dos mais horríveis". "A escala e o tipo de violência sexual — cometida sobretudo pelas forças governamentais e milícias afiliadas — são descritas de forma devastadora como uma atitude calculada da parte dos que chacinam civis e destroem propriedades e matam gado. A quantidade de violações e de violações em grupo descritas no relatório, são apenas um fragmento da realidade", disse Zeid.

Num outro relatório, este feito da Amnistia Internacional (AI), é denunciada a morte, em Outubro do ano passado, de mais de 60 homens e rapazes às mãos das forças governamentais. Foram fechados num contentor onde sufocaram, sendo depois os seus corpos despejados num terreno perto da cidade de Leer, também no estado de Unity.

"Dezenas de pessoas tiveram uma morte lenta e agonizante às mãos das forças de um governo que as devia proteger", disse Lama Fakih, da AI. "Estas mortes horríveis têm que ser investigadas".

O Sudão do Sul é o mais jovem país do mundo, tendo-se tornado independente em 2011, mas nunca viveu em paz, como aliás o próprio Sudão afectado por duas longas guerras étnicas entre o Norte (de maioria dinka) e o Sul (de maioria nuer), uma entre 1955 e 1971 e outra entre 1983 e 2005.

Em Dezembro de 2013, o Presidente do Sudão do Sul, Salva Kiir, acusou o seu vice, Riek Machar, de preparar um golpe de Estado. Este negou a acusação e formou um exército para combater as forças governamentais. A guerra civil do Sudão do Sul que já matou dezenas de milhares de pessoas, fez dois milhões de deslocados. No Verão do ano passado, foi assinado um acordo para a criação de um governo de unidade nacional que nunca foi aplicado.

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