Câmara de Gaia apresenta queixa-crime contra ex-administrador da Gaianima

Angelino Ferreira diz que auditoria que revelou ilegalidades em contratos da Gaianima no valor de 4,4 milhões foi feita por "pessoas na esfera do PS" e não tem "credibilidade".

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Martin Henrik

A Câmara de Vila Nova de Gaia garantiu esta quinta-feira que vai apresentar queixa-crime contra o ex-administrador da Gaianima Angelino Ferreira. O antigo responsável financeiro da empresa municipal acusou quarta-feira o município de ter contratado “a pessoas na esfera do PS” uma auditoria, sem “credibilidade”, que em 2014 revelou ilegalidades financeiras em contratos da Gaianima num valor de 4,4 milhões de euros, o que originou a abertura de um inquérito-crime. Questionado pelo PÚBLICO, Angelino Ferreira não quis reagir à intenção da autarquia anunciada em comunicado.

O município considera “absolutamente intoleráveis, e reveladoras de uma falta de pudor assinalável, as declarações ontem [quarta-feira] proferidas por Angelino Ferreira”. Para o município, as declarações do economista são “gratuitas e difamatórias". Em comunicado, a câmara sublinha que a auditoria foi “determinada e definida pelo actual presidente da câmara, o socialista Eduardo Vítor Rodrigues, enquanto Angelino Ferreira era administrador da Gaianima”.

A empresa municipal foi extinta em meados de 2015 e a sua gestão está a ser investigada pela Polícia Judiciária na sequência de uma denúncia apresentada pela autarquia após a auditoria. Aliás, na terça-feira a PJ fez 24 buscas, algumas delas na câmara, na empresa municipal Gaiurb e em casas de directores de empresas com as quais a Gaianima celebrou contratos. Em causa estão vários crimes, entre eles, o de administração danosa, que alegadamente terão ocorrido durante os mandatos de Luís Filipe Menezes (PSD). O antecessor de Eduardo Vitor Rodrigues (PS), porém, não é visado neste processo. Menezes estará a ser investigado no âmbito de outros processos.

Angelino Ferreira, também ex-administrador da SAD do FC Porto, demitiu-se no final de 2014, antes de serem conhecidas as conclusões da auditoria, tendo então declarado que “o que estava em causa era uma guerra política, na qual não queria ser joguete”.

Já esta quarta-feira, o economista fez questão de explicar que foi o conselho de administração em que estava que pediu a realização da auditoria – só não tendo então escolhido os auditores - “quando começou a haver ruído” sobre a gestão da Gaianima na comunicação social. Fê-lo, disse, para se “defender” servindo a auditoria para atestar a boa gestão. O resultado, contudo, foi contrário ao objectivo inicial.

Já a câmara diz que o administrador “apresentou demissão, talvez por coincidência, quando conheceu os resultados da auditoria”. O município sublinha ainda que “antes da posse do actual executivo, já o Tribunal de Contas promovia uma auditoria ao universo municipal de Vila Nova de Gaia cujos resultados estão alinhados com a auditoria realizada pela empresa”.

Entre os suspeitos no inquérito-crime, que decorre no Departamento de Investigação e a Acção Penal do Porto, estarão alguns ex-administradores da empresa municipal. Entre 2012 e 2013, o período analisado pela auditoria, o conselho de administração era presidido por Ricardo Almeida (actual vereador do PSD, na oposição, na Câmara do Porto) e integrado pelos administradores não-executivos Angelino Ferreira e pelo ex-futebolista João Vieira Pinto. A inspecção considera que os administradores violaram de forma “reiterada” as regras de contratação pública e a lei dos compromissos, à revelia da câmara.

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