Regresso das fronteiras será desastre para a economia
Um estudo da Fundação Bertelsmann concluiu que as perdas em todas as áreas do crescimento da UE podem chegar aos 470 mil milhões de euros entre 2016 e 2025.
Os empresários europeus estão cada vez mais preocupados com a possibilidade do colapso da zona sem fronteiras partilhada por 26 países, por causa da pressão do enorme fluxo de migrantes. Desde fabricantes de automóveis a empresas de logística, lançam-se avisos sobre potenciais grandes perdas.
Alguns usam palavras como “terrível” e “devastador” para descreverem a possibilidade de chegar ao fim um acordo de 30 anos, Schengen, que se transformou num sustentáculo essencial da paz e da prosperidade europeia.
Schengen já foi temporariamente suspenso por oito países para impedir que os migrantes entrassem nos seus territórios, e os receios estão a aumentar numa Europa em marcha atrás em direcção a controlos fronteiriços que são onerosos e demorados.
Estendendo-se agora da Grécia, a Sul, à Islândia, a Norte, e abrangendo mais de 400 milhões de pessoas, a zona Schengen forneceu um espaço sem fronteiras ao movimento comercial e de pessoas desde que o primeiro pacto foi assinado entre dez nações, em 1985. É considerado um dos projectos de maior sucesso e de maior criação de riqueza da União Europeia, que incluiu países não-membros e de que só escolheram não fazer parte (na Europa Ocidental) o Reino Unido e a Irlanda.
Um dos grandes benefícios de Schengen é que permite que as empresas trabalhem sem precisar de fazer grande armazenamento de componentes, uma vez que estes podem ser fornecidos a tempo e horas sempre que são encomendados.
Mas esta zona sem fronteiras foi levada ao limite com a entrada na UE de mais de um milhão de refugiados e imigrantes no ano passado.
“O fim de Schengen seria terrível para nós”, diz o director executivo da Opel, Karl-Thomas Neumann, sublinhando que o fabricante de automóveis depende da confiança na entrega rápida de produtos e componentes da Alemanha, Espanha, Polónia, Reino Unido e Itália. “Temos uma enorme operação logística no Sul da Europa: qualquer falha terá um impacte imediato na cadeia de produção”.
A associação europeia de aeroportos ACI advertiu que o colapso de Schengen criará maiores congestionamentos e custará aos maiores aeroportos centenas de milhões de euros para redesenhar os terminais. “O impacte seria devastador”, disse Olivier Jankovec, director-geral da ACI, acrescentando não acreditar que o pior vá acontecer.
Noutras áreas de negócio, os especialistas em entregas DHL Express, UPS e TNT, desvalorizam o impacte do desmoronamento de Schengen, dizendo que têm formas de mitigar os efeitos. Mas a DHL avisa: “Os controlos fronteiriços atrasarão as entregas nos países afectados. Além disso, são prováveis aumentos no custo do combustível e dos salários numa determinada rota, tal como custos administrativos acrescidos”.
É difícil avaliar qual seria o impacte macroeconómico do encerramento de Schengen — pode variar entre o imediato abrandamento do comércio e quebras profundas para sectores como o turismo.
Um estudo da DG Move, o directório-geral da UE para a mobilidade e transportes, avaliou o efeito de um pequeno abrandamento causado pelo regresso dos controlos de fronteira, sobre as cerca de 57 milhões de viagens para transporte rodoviário de mercadorias realizadas por ano. “Partindo do princípio de que em cada viagem é atravessada uma fronteira e que o tempo de espera é de uma hora, os custos podem aumentar em cerca de três mil milhões de euros por ano.”
Este é um número pequeno no contexto dos 13,9 biliões da economia da União Europeia. Mas o impacte pode ser bastante maior, sobretudo se o encerramento for duradouro. Um estudo da Fundação Bertelsmann, alemã, concluiu que as perdas em todas as áreas do crescimento da UE podem chegar aos 470 mil milhões de euros entre 2016 e 2025.
Outro estudo, este francês, sugere que o encerramento de um grande número de fronteiras “fará decrescer o comércio entre os países Schengen entre 10% e 20%”.
Na mesma linha, a Morgan Stanley estima que um aumento de 5% no preço dos transportes resultaria numa perda de 0,2% no Produto Interno Bruto global. “A suspensão de Schengen minaria o funcionamento do mercado único, prejudicando o comércio entre países, os transportes e o turismo”, diz a consultora. Reuters