O novo job de Maria Luís
A ex-ministra das Finanças vai para uma financeira. Com ligações ao Banif.
A ex-ministra das Finanças, uma das pessoas que neste país melhor conhece os dossiers relativos ao Banif, acaba de ser contratada por uma empresa financeira britânica que está envolvida na avaliação dos activos tóxicos deste banco. Além do Banif, a carteira de clientes da Arrow Global inclui, entre outros, títulos tão importantes como o BCP, Santander, Montepio e Banco Popular, gerindo activos no valor de 5,5 mil milhões de euros. Ou seja, Maria Luís Albuquerque, a quem como governante competia a gestão da dívida pública nacional e a salvaguarda do sistema financeiro, vai passar agora para uma empresa especializada na angariação e recuperação de dívida pública e privada e de análise de risco.
Antecipando-se à polémica que esta contratação vai provocar, a actual deputada do PSD já veio negar "influência" nas decisões tomadas pela Arrow Global, que a meio do ano passado adquiriu duas sociedades portuguesas, a Whitestar Asset Solutions e a Gesphone, que conseguiram consideráveis mais-valias na gestão e venda de crédito mal parado do Banif. De notar, que a mesma Arrow Global ainda mantém fortes expectativas relativamente a negócios em curso ligados ao mesmo banco.
Mas Maria Luís Albuquerque não se limitou a antecipar o mar de dúvidas suscitado pela sua entrada na financeira britânica, quis também prevenir os danos políticos que a sua decisão pode causar ao PSD e evitar as fortes críticas de que já está a ser alvo, devido à acumulação do seu cargo de deputada com o de directora não-executiva para o Comité de Auditoria Risco da financeira britânica. Daí o comunicado a dizer que não há "nenhuma incompatibilidade ou impedimento legal" e a rotular "qualquer outra leitura" sobre esta nomeação como "mero aproveitamento político-partidário". Ou seja, Maria Luís Albuquerque quer fazer-nos acreditar que o facto de ter sido ministra de Estado e das Finanças e a sua actual qualidade de deputada não pesam nesta contratação. Mais, deseja fazer crer que as suas futuras funções valem pouco. "São de natureza estritamente executiva", diz. Mas não é isso que pensa a Arrow Global cujo comunicado começa logo por realçar as actuais e anteriores funções políticas de Maria Luís no desempenho de "cargos de topo no Ministério das Finanças e no Tesouro público português". Quem não quer ser lobo não lhe veste a pele e é óbvio que esta contratação merece passar pelo crivo da Comissão de Inquérito ao Banif, com início este mês, e que, entre outros aspectos, deverá investigar o papel do anterior Governo no estado a que o Banif chegou. Ora Maria Luís Albuquerque está no lugar cimeiro dos responsáveis políticos cujas decisões (ou omissões) neste caso poderão ler lesado gravemente os cofres públicos, razão pela qual todas as suas acções devem ser escrutinadas. Infelizmente, os resultados destas comissões de inquérito têm fraquíssimas consequências, mas para a imagem de Passos Coelho e do PSD, o novo job de Maria Luís terá, a curto prazo, efeitos devastadores.