Lucro da EDP caiu 12% em 2015 para 913 milhões

Presidente da EDP diz que a tarifa social deve ser paga pelo Estado ou pelos consumidores que não têm direito ao desconto e garante que as autoridades europeias têm a mesma opinião.

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António Mexia falou num "momento particularmente exigente para o sector" Daniel Rocha

Pela primeira vez desde 2008, os resultados líquidos da EDP ficaram abaixo dos mil milhões de euros, saldando-se em 913 milhões (menos 12% face a 2015). Um resultado em que Portugal pesou pela negativa, quer pela menor produção eléctrica de origem hídrica, quer pela diminuição da remuneração dos activos de distribuição do grupo, explicou a EDP.

Ainda assim, o lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda) subiu 8% no ano, para 3,9 mil milhões de euros, ajudado pelo crescimento do negócio de renováveis (com destaque para os Estados Unidos) e do Brasil. “Um resultado operacional interessante num momento particularmente exigente para o sector", quer a nível regulamentar, quer fiscal, observou o presidente do grupo EDP em conferência de imprensa nesta quinta-feira.

“O resultado deste ano é claramente afectado por Portugal, muito pela produção hídrica, mas também por um conjunto de regras que não estavam cá quando foram tomadas as decisões e que penalizam o investimento”, disse António Mexia. O gestor destacou o facto de a taxa de remuneração aplicada aos activos do grupo ter caído de 7,41% para 5,49% em 2015, considerando a contribuição extraordinária sobre o sector energético (CESE), que foi introduzida pelo anterior Governo PSD/CFDS, mas prorrogada pelo actual executivo.

Na divulgação das contas anuais, o presidente da EDP foi questionado sobre a tarifa social (já que a proposta orçamental para este ano deverá conter a medida acordada com o Bloco de Esquerda para transferir o custo total de financiamento para os produtores de electricidade), mas também não perdeu a oportunidade de criticar a CESE e repetir que “as medidas extraordinárias devem sair”, porque, segundo acredita, “os tempos mudaram”. “Não faz sentido ter um imposto sobre o investimento que recai apenas sobre um único sector”, criticou ainda.

Dos 1,7 mil milhões de euros que a EDP investiu no ano passado, 700 milhões foram aplicados em Portugal, o que dá à empresa o estatuto de “maior investidor do país”. Mas medidas como a CESE (que no ano passado custou à EDP cerca de 60 milhões de euros) e a imposição de financiamento da tarifa social “não favorecem o investimento”, alertou.

No caso da tarifa social (desconto que a EDP estava a atribuir a 116 mil clientes em Fevereiro), Mexia recorreu mesmo a um documento de 2015 da Comissão Europeia, para dizer que as autoridades comunitárias consideram que medidas de apoio aos consumidores vulneráveis devem ser financiadas através dos orçamentos dos Estados, ou recorrendo aos restantes consumidores (como é o caso da tarifa social do gás, que é financiada pelos clientes de gás que não são elegíveis para os descontos). Portugal não escolheu nenhum destes caminhos, lembrou Mexia, dizendo, no entanto, que a EDP “é totalmente a favor” de medidas que protejam os consumidores mais vulneráveis.

Sem querer adiantar se a imputação dos custos com a tarifa social e o ASECE (apoio extraordinário ao consumidor de energia, um desconto cumulativo ao desconto da tarifa social, que até à data era assegurado pelos cofres públicos) poderá reflectir-se num aumento de preços da electricidade, o presidente da EDP comentou que a solução defendida a nível europeu é “a mais justa e eficaz”, porque “permite que o sistema [eléctrico] seja mais eficiente e não se traduza em subidas não controladas das tarifas".

De acordo com os cálculos do Bloco e do PS, a factura das eléctricas com a tarifa social e o ASECE – que os partidos querem ver chegar a um milhão de agregados familiares através de atribuição automática – deverá rondar os 100 milhões de euros, cabendo à EDP a fatia de leão do financiamento.

Pela positiva nas contas de 2015, Mexia destacou mais uma vez a aposta do grupo nas renováveis (em 2015 o lucro da EDP Renováveis subiu 32% para 167 milhões de euros) e na diversificação de geografias que garantiu à EDP “resultados resilientes”. No Brasil, apesar da seca e da depreciação do real, o Ebitda cresceu 38% para 857 milhões de euros, beneficiando da consolidação integral da central de Pecém.

No ano passado, a dívida líquida da EDP voltou a agravar-se (atingiu 17,4 milhões de euros), falhando uma das metas propostas pelo grupo para este ano. A empresa explicou a evolução pelo facto de uma mais-valia de 500 milhões associada à venda de activos eólicos nos Estados Unidos só ter sido contabilizada no início deste ano. A dívida já está abaixo dos 17 mil milhões e a EDP promete agora mantê-la num nível inferior a 16,5 mil milhões de euros em 2016.

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