Medina reconhece falhas da Emel mas recusa “criar ilusões”
Presidente da Câmara de Lisboa diz que a falta de estacionamento nas zonas de acesso automóvel condicionado “é um problema que não tem resolução material, física”, porque os carros “pura e simplesmente não cabem” no espaço existente.
Para os moradores dos bairros históricos não é surpresa que os pilaretes retrácteis junto às zonas de acesso automóvel condicionado funcionam mal ou nem sequer funcionam, mas o presidente da Câmara de Lisboa admitiu ter ficado “intrigado” com o porquê de alguns deles estarem avariados há cinco anos. Perante uma plateia repleta de moradores descontentes com a situação, Fernando Medina pediu explicações ao presidente da Empresa Municipal de Mobilidade e Estacionamento de Lisboa (Emel), admitiu que houve “uma falha” da empresa e da própria autarquia, mas recusou-se a criar “ilusões” e prometer o fim dos problemas de estacionamento.
Na reunião descentralizada da câmara que se realizou esta quarta-feira, e que era dedicada às freguesias de Santa Maria Maior, Misericórdia e Santo António, foram várias as intervenções a criticar a intervenção da empresa presidida por Luís Natal Marques. “Infelizmente a Emel não está a funcionar bem”, constatou o munícipe Eduardo Grilo, enquanto Maria Gomes afirmou que a empresa “está a roubar as pessoas”.
Mais original foi a critica de Graciete Bernardo, que além de dizer que “a Emel não funciona” condenou o facto de aos moradores dos bairros com acesso condicionado ser atribuído apenas um dístico de estacionamento por cada habitação. “Eu não posso vir a casa dormir com o meu marido”, afirmou, provocando gargalhadas na assistência e entre os vereadores. “Isso é uma critica severa”, reagiu Fernando Medina com humor.
Num registo mais sério, o autarca não se coibiu de pedir ao presidente da Emel que lhe explicasse como é possível que, como denunciaram vários moradores, os pilaretes no acesso ao Castelo estejam sem funcionar há cinco anos. “O sistema está obsoleto”, respondeu-lhe Natal Marques, acrescentando que o problema está no facto de as câmaras existentes junto aos acessos não funcionarem, o que faz com que os funcionários que operam o sistema a partir da sala de controlo da empresa não vejam o que ali se passa.
“Os acidentes são muitos, em resultado do facto de se estar a trabalhar às cegas”, explicou o responsável, que reconheceu que no caso concreto do Castelo “todos os pilaretes estão em baixo”. A expectativa de Natal Marques é que até “Junho, princípio de Julho” o sistema de acesso aos bairros históricos esteja “a funcionar como deve ser”.
“É uma falha do ponto de vista da câmara, da Emel”, assumiu por sua vez Fernando Medina. Apesar da admissão de culpa, o autarca sustentou que o problema de estacionamento no Bairro Alto, Santa Catarina, Castelo e Alfama pode ser “atenuado” (desde logo com a resolução dos problemas de funcionamento dos pilaretes retrácteis) mas não resolvido.
“Convém não criar ilusões”, defendeu, para depois lembrar que “o número de dísticos” de residente atribuído nas zonas de acesso automóvel condicionado “é várias vezes o número de lugares existente”. E esse, alegou, “é um problema que não tem resolução material, física”, porque os carros daqueles que têm dístico “pura e simplesmente não cabem” no espaço existente. Para ilustrar essa tese, Fernando Medina notou que em Santa Catarina há “5,4 dísticos por lugar”, no Castelo “3,7” e em Alfama “quatro”.
O autarca reconheceu também que “é bem possível” que haja “inscrições ilegais para obter dísticos”, possibilidade que tinha sido antes mencionada por Natal Marques. “A probabilidade de o sistema ser contornado é grande”, admitiu o presidente da câmara.
Fernando Medina aproveitou para pedir aos serviços municipais que lhe façam chegar uma lista dos lugares de estacionamento que estão reservados a diferentes entidades no interior dos bairros, deixando em aberto a possibilidade de algumas dessas situações serem anuladas, dado o “cenário de escassez de lugares”.
Reuniões são “exercício de pseudo democracia”
Um “exercício de pseudo democracia”. É assim que a Associação de Moradores do Bairro Alto (AMBA) se refere às reuniões descentralizadas que a Câmara de Lisboa promove nas diferentes freguesias, com o objectivo anunciado de “ouvir mais perto o que os cidadãos têm a dizer sobre as zonas da cidade onde vivem”.
A AMBA considera que esse objectivo, que diz ser divulgado pela autarquia “no seu folheto de propaganda” das reuniões, como aquela que esta quarta-feira se realizou no Museu da Farmácia, não encontra eco na “realidade”.
“Os munícipes pronunciam-se, ano após ano, sobre questões importantes para as zonas da cidade onde vivem, mas as suas necessidades e os seus anseios não são ouvidos e, em geral, os pontos abordados mantêm-se de um ano para o outro”, critica a associação, num comunicado distribuído à comunicação social. Nele constata-se ainda que a câmara “não dialoga com os munícipes, sobretudo em situações em que ‘aparentemente’ outros interesses mais altos se levantam”.
Face a tudo isso, a AMBA, que “representa os moradores da freguesia da Misericórdia”, diz-se “cansada de ‘brincar’ ao faz de conta” e tomou a decisão de não participar na reunião desta quarta-feira.