Autoridades francesas iniciam desmantelamento parcial da "Selva" de Calais
A polícia fez um pré-aviso aos habitantes do campo antes de começar a destruí-lo. Mais de três mil pessoas, incluíndo crianças, serão afectadas por esta decisão.
Dezenas de polícias iniciaram, esta manhã, o desmantelamento parcial do campo de refugiados em Calais, no Norte de França. As operações na zona sul da chamada “Selva” de Calais começaram depois de a justiça francesa dar luz verde à demolição.
Há registo de confrontos entre polícia, migrantes e activistas. Segundo informações avançadas pela agência Reuters, a polícia lançou gás lacrimogénio contra cerca de 150 migrantes e activistas que estavam a atirar pedras. Três abrigos improvisados foram incendiados e um activista britânico foi detido.
Várias ONG informaram o jornal The Guardian de que a polícia fez um pré-aviso aos residentes do campo, que teriam uma hora para o abandonar. Caso não o fizessem, seriam detidos. “As pessoas foram informadas de que tinham de sair, caso contrário seriam presas. Muita gente estava confusa. Estavam a sair com os seus sacos-cama, não sei para onde estariam a ir”, afirmou uma porta-voz da organização britânica Help Refugees.
Na quinta-feira, o Tribunal de Lille confirmou uma ordem do Governo francês para expulsar os migrantes que vivem na parte sul do acampamento de Calais, embora algumas infra-estruturas sociais improvisadas - como escolas ou teatros - devam permanecer intactas.
As autoridades francesas afirmaram no início do mês que pretendiam desmantelar parte da "Selva" de Calais, avisando que entre 800 e mil migrantes teriam que abandonar o campo. O ministro do Interior Francês, Bernard Cazeneuve, afirmou na semana passada que as autoridades francesas iriam trabalhar em conjunto com organizações humanitárias para recolocar os migrantes em contentores ou em outros centros de acolhimento em França.
Apesar disso, o número de migrantes afectados pelo desmantelamento da parte sul da “Selva” de Calais poderá ser muito maior do que aquele que é avançado pelas autoridades francesas. Várias ONG estimam que o número real corresponda a cerca de 3,400 pessoas, onde se contam 445 crianças, 305 delas desacompanhadas, números avançados pelo The Guardian.
Os habitantes da “Selva” de Calais vêm sobretudo de países em conflito no Médio Oriente, como a Síria, Iraque ou Afeganistão, assim como de países africanos como a Eritreia ou o Sudão. Grande parte destas pessoas tem como objectivo atravessar o Canal da Mancha e chegar a Inglaterra, muitas vezes através de traficantes que lhes permitem entrar no país ilegalmente.
A decisão de desmantelar parte da “Selva” de Calais levou a Bélgica a restabelecer o controlo das suas fronteiras, com receio de que um grande fluxo migratório se possa dirigir para o porto belga de Zeebrugge.
Texto editado por Joana Amado