Cineasta iraniano Keywan Karimi vai mesmo ser preso e chicoteado
Tribunal de recurso acusa documentário Escrever na Cidade, centrado nos graffitis políticos de Teerão, de propaganda contra o governo e “insulto à santidade”.
A justiça iraniana reduziu de seis para um ano a pena de prisão a que o cineasta Keywan Karimi fora condenado em Outubro de 2015, mas mantém as 223 chicotadas e a multa pecuniária decididas em primeira instância. Karimi é acusado de propaganda anti-governamental e blasfémia por ter realizado, em 2012, um filme que mostra a evolução da sociedade iraniana desde a revolução islâmica, em 1979, através dos slogans traçados nas paredes e muros de Teerão: Neveshtan bar Shahr (Escrever na Cidade).
A decisão agora anunciada é definitiva, não sendo passível de novo recurso, e Karimi já fez saber que irá cumprir a pena. “Não tenciono deixar o país”, assegurou este jovem realizador e produtor de 30 anos. “Terei de passar tempo na prisão, mas sou optimista, penso em muita gente famosa que foi encarcerada, e isso dá-me energia”, escreveu Karimi num e-mail. O seu assumido objectivo é agora conseguir protelar o início da pena de prisão para depois do Ano Novo iraniano, que se celebra em meados de Abril. “Quando a minha mãe já tiver superado a quimioterapia e eu já tiver acabado de rodar o meu novo filme”, explicou.
O processo que levou à sentença contra o realizador iniciou-se em Setembro de 2013, quando Karimi, nascido numa familia sunita do Curdistão iraniano, colocou na Internet um trailer de Escrever na Cidade. Sem ter visto o filme, que só veio a estrear-se há pouco mais de uma semana em Espanha, no festival de cinema documental Punto de Vista, em Pamplona, a Guarda Revolucionária invadiu a casa do cineasta, destruiu os discos duros dos seus computadores e manteve-o preso duas semanas em regime de solitária. Acabou por ser libertado sob fiança e tem estado desde então a tentar contestar judicialmente a sentença que lhe foi aplicada.
As autoridades iranianas têm recebido vários apelos para anular a pena imposta a Kairami, designadamente uma carta subscrita por mais de 600 realizadores de diferentes países, incluindo o mauritano Abderrahmane Sissako, autor do premiadíssimo Timbuktu (2014), o cambojano Rithy Panh ou os franceses Claude Lanzmann e Jean-Jacques Beineix. Um significativo conjunto de 130 cineastas iranianos já subscreveu também um documento de apoio a Karimi, apelando a que o seu processo seja reexaminado.
Depois das penas de prisão a que foram condenados recentemente dois outros cineastas – Jafar Panahi e Mohammad Rasoulof –, a sentença aplicada a Karimi vem confirmar o endurecimento das restrições à liberdade de expressão no regime iraniano.