Arte chokwe vai ser o primeiro tema de trabalho da Fundação Sindika Dokolo no Porto
De visita a Luanda, Rui Moreira manifestou a disponibilidade da Câmara do Porto para colaborar no processo de inventariação de peças levadas de Angola nos anos da guerra civil. Reabilitação da Casa Manoel de Oliveira deve iniciar-se "muito brevemente".
Será com uma exposição inteiramente dedicada à arte chokwe que a Fundação Sindika Dokolo vai inaugurar a sua sede do Porto, a Casa Manoel de Oliveira que em Janeiro adquiriu em hasta pública por 1,58 milhões de euros. De visita a Luanda a convite da fundação, o presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira, avançou que já decorrem reuniões entre a autarquia, o arquitecto Eduardo Souto de Moura, autor do projecto, e a fundação para definir um plano de reabilitação do imóvel, que deverá concretizar-se "muito brevemente". Também em declarações à agência Lusa, Sindika Dokolo explicou que as equipas técnicas estão a avaliar as necessidades de intervenção, e que a abertura do espaço "vai depender da rapidez de execução das empresas de construção do Porto".
O patrono da Fundação Sindika Dokolo (e genro do Presidente angolano José Eduardo dos Santos) afirmou querer participar "de maneira proactiva" no "enriquecimento da vida cultural" da cidade não só através das actividades a desenvolver na Casa Manoel de Oliveira, que será a sede da instituição na Europa, como com "vários outros projectos" que tem em agenda, incluindo uma parceria com a Casa da Música. "Queríamos fazer ao mesmo tempo uma presença angolana no Porto, mas também uma ponte e um sítio de troca, de encontro, com base numa relação virada para o futuro, construtiva. Eu, pessoalmente, estou muito entusiasmado com o que esse instrumento vai permitir entre Angola e o resto do mundo", disse Sindika Dokolo depois da reunião deste sábado com Rui Moreira.
A Câmara Municipal do Porto está já a colaborar com a Fundação Sindika Dokolo no seu projecto de inventariação e de aquisição de peças de arte chokwe levadas de Angola durante os anos da guerra civil (1975-2002). Rui Moreira acordou com Sindika Dokolo condições especiais de acesso ao arquivo histórico e documental sobre a arte e o povo chokwe (originário do Norte de Angola e do Sul da República Democrática do Congo) que está na posse da autarquia. "Vai-nos permitir recolher informação, disponibilizá-la a professores e universidades angolanas e criar um banco de dados na Internet para que os colecionadores que suspeitam da origem de obras no seu poder possam verificar se pertencem aos museus nacionais angolanos", disse o patrono da fundação, que está a liderar o processo de repatriamento das obras negociando activamente com coleccionadores privados. Já no início deste mês a Fundação Sindika Dokolo entregou ao Presidente angolano duas máscaras e uma estatueta saqueadas durante o conflito armado e recuperadas após vários anos de negociação com coleccionadores europeus.
Para Rui Moreira, a relação institucional com a Fundação Sindika Dokolo é o melhor exemplo da "cooperação profícua" que deve existir entre as cidades geminadas do Porto e de Luanda. O intercâmbio de residências artísticas e exposições é um dos aspectos a ter em conta na revisão do protocolo de geminação, reconheceu anteriormente o autarca portuense.
A coleção de arte da Fundação Sindika Dokolo, criada em 2003, em Luanda, é composta por mais de três mil obras, entre pinturas, gravuras, fotografias, vídeos e instalações, da autoria de 90 artistas de 25 países. No ano passado, a fundação promoveu no Porto a exposição You Love Me, You Love Me Not e anunciou vários projectos a desenvolver na cidade em 2016, incluindo o Festival de Música do Atlântico e uma extensão da Bienal da Poesia de Luanda.