PSD e CDS deverão “divergir” no futuro
Faz sentido que Passos Coelho anuncie um alinhamento com a social-democracia? Acha que esse é o caminho?
Acho que deve ser e era o caminho que o partido estava a tomar. O partido é um partido social-democrata. Eu gostava de desafiar, para isto não ser uma discussão de impressões vagas, qualquer pessoa escolher 300 medidas que o Governo anterior tomou e, em contexto de recursos escassos e programa de ajustamento, e vamos testar essas medidas todas para sabermos se eram ou não sociais-democratas. É evidente que quando os recursos são escassos temos hipóteses mais limitadas de cumprir os nossos objectivos e valores. Quando tivermos de decidir a quem é que pedimos mais? Não foi a quem tinha mais? Não foi apoiar a quem tinha menos e fazer em parceria com a sociedade civil? Veja a diferença nas pensões. Sabíamos que, com recursos escassos para reforçar as pensões mais baixas, o PSD decidiu sempre aumentar sempre as pensões mínimas e agora propusemos na Assembleia da República fazer um aumento à luz da inflação, a esquerda preferiu para essas pessoas dar um aumento significativamente menor.
A estratégia que definida no próximo congresso tem que ter em conta que dificilmente o PSD voltará a governar a não ser que tenha uma maioria absoluta?
A escolha é dos portugueses. A seguir às eleições, os equilíbrios eleitorais tiveram uma perturbação e mudaram. Isso não significa que a postura do PSD mude. O PSD é hoje o maior partido português e é o maior no Parlamento. O que tem de fazer é construir a sua proposta e o seu caminho próprio, persuadindo os portugueses que essa solução seja a melhor e esperando que o resultado que nos possa ser dado seja o mais robusto e que nos permita governar.
Depois do fim da coligação, o PSD e o CDS não poderão ser muito agressivos um com o outro porque uma coligação, ainda que pós-eleitoral, com este contexto, parece inevitável…
O PSD ganhou várias eleições com maioria absoluta. O professor Cavaco fez isso. Olhando hoje para a realidade, com quem temos uma diferença é com o PS. Ainda para mais com esta radicalização do PS à esquerda, arrastado com o BE e com o PCP. Diria que tem havido, nos últimos anos, uma grande coerência na forma como o PSD e o CDS vêem o país. São partidos diferentes e haveremos de divergir no futuro, seguramente. Agora, olhando para o espectro político, a forma como PSD e o CDS vêem o mundo é muito mais próximo do que aquilo que nos separa do PS.
Neste congresso, o PSD tem de refrescar?
Percebo a tentação dessa conversa. Passos Coelho tem feito o equilíbrio entre esse movimento de respiração, desde loco com a sociedade civil, de várias gerações, com o aproveitamento dos seus mais experientes. O PSD tem na direcção nacional, ministros, pessoas de uma excepcional capacidade, a última coisa que o PSD podia andar a fazer é guerras ou disputas entre pessoas. Temos um líder, no qual eu acredito muitíssimo, é um vencedor, ganhou duas eleições, conseguiu fazer Portugal ultrapassar uma fase dificílima e pôr o país a crescer. Eu vejo-o com toda a capacidade e energia para oferecer a solução de Governo que o país precisa, muito mais séria, moderada, sustentável, que permita, numa nova fase, corrigir desigualdades e aprofundar crescimento da economia.
Acha que ele vai conseguir ficar na oposição muito tempo, se for esse o caso?
Como ele já tem dito não há pressa. Acho que isso nos distingue bastante do PS. O PS é um partido para eleições, fica desesperado, deita abaixo líderes a meio do seu percurso por causa de eleições. Fazem e desfazem orçamentos e previsões, propõem uma coisa e o seu contrário só por causa de eleições. Nós estivemos disponíveis para o país nas situações mais difíceis não vemos a eleição e o acesso ao poder como um fim.