A fama súbita da floresta do Uganda onde apareceu o vírus Zika

Aqui os sintomas da doença são ligeiros e não há epidemia.

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O vírus foi descoberto em 1947 por cientistas britânicos que investigavam a febre amarela ISAAC KASAMANI/AFP

Ainda há pouco tempo, a floresta Zika, no Uganda, era uma pequena reserva conhecida apenas pelos ornitólogos e pelos cientistas. Mas a epidemia do vírus com o mesmo nome, que afecta o continente americano, veio dar-lhe uma fama súbita.

Este vírus, transmitido por um mosquito e que se acredita que provoca malformações congénitas, propaga-se de "forma explosiva na região das Américas", onde entre três a quatro milhões de casos deverão ser registados este ano, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), que convocou uma reunião de emergência para esta segunda-feira.

A milhares de quilómetros de distância, no Uganda, o ambiente é menos alarmista. "Algumas pessoas que vivem perto da floresta e que já ouviram falar [no problema] começam a estar inquietas", diz Gerald Musika, um antigo guarda florestal.

Ele próprio, que durante sete anos percorreu os trilhos desta selva onde o vírus foi identificado em 1947, só descobriu o Zika há duas semanas. Já Ruth Mirembé, de 24 anos, e que habita a zona da floresta junto ao rio, soube da doença pelo Facebook, mas não está preocupada, garante.

A maior parte dos casos locais apresentam sintomas ligeiros, como erupções cutâneas, febre e, às vezes, olhos vermelhos. Até agora as autoridades de saúde mundiais só tinham identificado a epidemia de 2007, na ilha de Yap na Micronésia.

O que começou a ocorrer no Brasil no ano passado está ser relacionado (embora não cientificamente provado) com o nascimento de milhares de bebés com microcefalia, uma deficiência incurável e por vezes mortal.

O ministro da Saúde ugandês sublinhou, num comunicado, que não havia casos do vírus no seu país e que a actual epidemia não se disseminou a partir da África Oriental: "Não temos qualquer caso registado há vários anos e não há epidemia [no Uganda]." Por este país já passaram o ébola e a misteriosa "síndrome do cabeceio".

Hoje, a floresta, próxima da estrada do aeroporto internacional do Uganda em Entebbe, a 25 quilómetros da capital, Kampala, é um local de investigação para o Instituto de Pesquisa do Vírus do Uganda (UVRI), cuja sede fica a uma quinzena de quilómetros dali. Um sinal desbotado pelo sol e pelo tempo proíbe a entrada na zona. A área, que se chama Ziika (que na língua local, o luganda, significa "exuberante"), tem 12 hectares e mais de 60 tipos de mosquitos.

A UVRI tem orgulho em dizer que o seu visitante mais famoso foi o ex-Presidente americano Jimmy Carter, que ali foi para "observar aves". Semanalmente a floresta acolhe estudantes de todo o mundo, do Canadá à Alemanha.

Os pormenores sobre a descoberta do vírus, relatados num artigo publicado em 1952 pela Royal Society of Tropical Medicine and Hygiene britânica, descrevem "uma zona arborizada chamada Zika" onde os cientistas procuravam a febre amarela nos pequenos macacos rhesus.

Um cientista do UVRI, Julius Lutwana, explicou à AFP que foram colocadas gaiolas com macacos em diferentes alturas numa torre metálica de 36 metros, o que permitiu que os investigadores trabalhassem na floresta densa.

"As amostras de sangue foram retiradas dos macacos para tentar identificar a febre amarela e de facto foi assim que o Zika foi encontrado", disse Lutwana, de 56 anos.

Perto de 70 anos depois desta descoberta, ainda não há vacina, nem tratamentos específicos ou testes de diagnóstico rápidos contra o que as autoridades sanitárias americanas descrevem como "um novo vírus".

"O que aconteceu na América do Sul foi uma pequena mudança no vírus... e essas mutações tornaram-no mais agressivo para o homem, criando graves e novos problemas", diz Lutwana. Este cientista está em sintonia com o ministro da Saúde e considera que não existem riscos particulares para o seu país, onde a população sempre conviveu com este vírus.

"O Zika sempre foi uma doença benigna. Em cinco ou dez pessoas infectadas, só uma ou duas apresentam um pouco de febre", sublinha. "O facto de estarmos expostos a muitos outros vírus do mesmo grupo deu-nos uma certa imunidade."

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