Multiplicação de hotéis no Porto pode pôr em causa Património da Humanidade

Numa visita ao Centro Português da Fotografia, a secretária de Estado da Cultura, Isabel Botelho Leal, mostrou preocupação sobre o crescente número de hotéis no Porto e mostrou apoio à candidatura das Caves de Vinho do Porto a Património Mundial.

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Na lista da Sociedade de Reabilitação Urbana estão cinco projectos com alvará de construção, todos na Ribeira Paulo Pimenta

A secretária de Estado da Cultura disse à Lusa esta quinta-feira que o número crescente de hotéis no Centro Histórico do Porto, apesar de importante para a economia, pode pôr em causa a classificação como Património da Humanidade. “Não deixo de acreditar que o aparecimento de novos hotéis é importante para a economia, mas como em tudo na vida deve haver um equilíbrio porque o património não deixa de ser as pessoas e quem vive nos sítios”, frisou Isabel Botelho Leal, que falava à margem de uma visita ao Centro Português de Fotografia, no Porto, exprimindo uma opinião "absolutamente pessoal”.

O Porto tem actualmente 30 pedidos de licenciamento para novos hotéis, correspondentes a processos referentes à intenção de executar empreendimentos turísticos que ainda não receberam alvará de construção. “Não queremos uma ribeira onde haja só hotéis, não tendo pessoas a viver lá porque depois esvazia-se, deixa de ser real", salientou a governante. O Centro Histórico do Porto foi classificado como Património da Humanidade em 1996, celebrando este ano 20 anos.

Na Câmara do Porto estão a tramitar 15 licenciamentos para empreendimentos turísticos, todos pedidos entre 2014 e 2015, e há seis novos hotéis que abriram recentemente com alvará emitido. A explosão destes pedidos de licenciamento para novos hotéis está também a registar-se na Sociedade de Reabilitação Urbana (SRU) - Porto Vivo, entidade em fase de municipalização, onde deram entrada mais 15 pedidos para novas unidades hoteleiras.

Na lista da SRU, a que a Lusa teve acesso, estão enumerados com alvará de construção cinco projectos, todos a edificar na zona da Ribeira, Património Mundial. Estão também em fase de projecto mais dez hotéis, todos com o pedido feito entre 2014 e 2015. A SRU tem assistido a um aumento de pedidos de informação para adquirir edifícios na zona histórica, tanto de portugueses como de estrangeiros, que procuram espaços para lojas, casas de habitação ou edifícios para hotelaria, hostels ou alojamento local. 

A Rua das Flores é uma das ruas mais desejadas para abrir negócio, mas as ruas da Vitória, Mouzinho da Silveira, Almada ou a Avenida dos Aliados, são outras artérias assinaladas no mapa da cidade e onde as unidades hoteleiras estão a crescer a um ritmo avassalador.

Candidatura das Caves de Vinho do Porto a Património Mundial recebe apoio

Isabel Botelho Leal, afirmou ainda que o Governo vai apoiar a candidatura das Caves do Vinho do Porto a Património da Humanidade. "Vamos apoiar esta candidatura porque vai ser benéfica para a região e para o país", disse a governante.

Em Novembro de 2015, o presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, Eduardo Vítor Rodrigues, adiantou querer apresentar a candidatura das Caves de Vinho do Porto a Património da Humanidade neste verão. A equipa que irá preparar a apresentação da candidatura, que pretende também incluir o centro histórico de Gaia ocupado pelas Caves, já foi constituída, estando já concluído o estudo de ordenamento do território naquele espaço. O presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, também já se mostrou disponível a ajudar Gaia no processo de candidatura.

A secretária de Estado realçou que esta candidatura vai ser "boa" para promover, ainda mais, o país e a região lá fora, numa altura em que o número de turistas tem aumentado "exponencialmente". "Quanto mais poderemos oferecer melhor", disse.

Em anteriores declarações à Lusa, a diretora da Associação de Empresas do Vinho do Porto (AEVP) assumiu temer as restrições causadas por uma eventual classificação pela Unesco das caves em Gaia que, frisou, "não são um museu vivo", mas uma indústria. Isabel Marrana alertou que "a candidatura terá de ser cuidada e em parceria" com a AEVP, destacando que "as caves estão legalmente situadas" naquele local, tal como "um conjunto de camiões a circularem e linhas de engarrafamento".

Já Manuel de Novaes Cabral, presidente do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP), acredita que a elevação das Caves do Vinho do Porto a Património Mundial "fecha um ciclo virtuoso que vai renovar o valor turístico, cultural e económico da região, das cidades, do Vinho do Porto e do seu património". Assinalou que este passo "significa um reforço da salvaguarda e da divulgação de um património único que traz notoriedade e valor para todos os agentes económicos e culturais envolvidos", acrescentando que "todas as iniciativas que valorizem o vinho do Porto e a região são importantes".

A candidatura está a ser preparada desde Janeiro de 2003, tendo a direcção da AEVP reunido com o então presidente da câmara, Luís Filipe Menezes, para discutir a candidatura a Património Mundial das caves, proposta pela autarquia. Em 2006, o Governo socialista da altura apoiou a candidatura das Caves do Vinho do Porto a Património Mundial da Humanidade. A então ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, considerou que o projecto tinha condições para ser aceite pela UNESCO.