Obama cumpriu dois mandatos com medidas históricas
Como assumiu no discurso sobre o Estado da Nação, não conseguiu mudar a forma de fazer política em Washington e, por isso, falhou algumas promessas.
Barack Obama entrou no último ano da sua presidência com muitos objectivos por cumprir. Porém, em dois mandatos (e sobretudo no segundo, quando tinha condições mais desfavoráveis, devido à composição do Congresso) conseguiu resultados que surpreenderam opositores e críticos e que, na opinião do Huffington Post, o equiparam aos melhores presidentes americanos da era moderna.
Êxitos
Mal entrou na Casa Branca, Obama fez aprovar no Congresso um pacote de estímulo (o Programa de Auxílio Económico) que estancou a crise financeira e económica aberta pela falência do banco Lehman Brothers. Porém, no plano interno, seria outra a medida que ganharia o rótulo de histórica e que é considerada o seu verdadeiro legado: o Obamacare. Aprovada em 2010, a Lei de Protecção dos Doentes e de Cuidados de Saúde Acessíveis criou um sistema de acesso a seguros de saúde de custos reduzidos e acessíveis à maior parte da população, um objectivo que outros presidentes perseguiam há mais de 50 anos. Outra lei aprovada na sua presidência acabou com a política “don’t ask, don’t tell”, que de forma camuflada proibia a presença de homossexuais nas Forças Armadas.
Histórica também, mas no plano internacional, foi a normalização das relações diplomáticas e comerciais com Cuba, conseguida entre 2014 e 2015. Para encerrar este capítulo da Guerra Fria, aberto com a luta de Washington contra o regime cubano na ilha que é vizinha dos EUA, falta o Congresso aprovar o fim do embargo económico à ilha governada pelos irmãos Castro. Um processo mais longo que o cubano (pelo menos que se saiba) foi a assinatura do acordo com o Irão para desmantelar o programa nuclear iraniano — o acordo foi alcançado no final do ano passado e abriu caminho para o regresso do Irão à arena internacional (George W. Bush inscreveu-o na lista de países do “eixo do mal”), assim como ao fim das sanções económicas contra esta república islâmica.
Fracassos
O maior deles foi reconhecido por Obama na quarta-feira: o Presidente não conseguiu criar um ambiente novo em Washington — com que muitos americanos sonhavam quando aderiram ao “Yes, we can” com que foi eleito. As posições extremaram-se entre a presidência e o Congresso, sobretudo depois de a oposição republicana ter passado a dominar o Senado e a Câmara de Representantes, ao ponto de ter havido um "shutdown" (2013): através da suspensão do financiamento público (inclusive para o pagamento de salários), o Congresso fechou o Governo. O agudizar da bipolarização impediu progressos noutras matérias, uma delas numa área pouco consensual e que era uma promessa antiga de Obama, a grande reforma da lei de imigração. Através de uma ordem executiva (um decreto presidencial, um recurso que denuncia a falta de diálogo e entendimento entre a presidência e os legisladores), Obama pôs em prática medidas para regularizar a situação de cinco milhões de imigrantes.
No campo externo, os fracassos centram-se numa zona do globo, o Médio Oriente. O Presidente democrata não conseguiu qualquer avanço no processo de paz israelo-palestiniano, com as duas partes a travarem uma guerra sangrenta no Verão de 2014 na Faixa de Gaza. E depois de cinco anos de guerra na Síria, os EUA não conseguiram afinar uma estratégia diplomática ou militar relativamente a este conflito, que se agravou com a progressão do jihadismo do Estado Islâmico.
Incógnitas
Noutra zona de conflito Obama cumpriu uma promessa que fez aos americanos, a de retirar as suas tropas do Afeganistão e do Iraque. Mas se os militares saíram, a missão que realizavam não ficou terminada e a instabilidade política mantém-se nestes dois países assolados pelo terrorismo. O encerramento da prisão na base de Guantánamo (em Cuba, num território cuja devolução o Governo de Havana já disse querer), outra promessa antiga de Barack Obama, continua por cumprir. Muitos presos (ligados ao terrorismo) já foram retirados do local, outros libertados, e o fim da prisão pode acontecer até Novembro, quando os americanos elegem outro Presidente. Mas entre os políticos de Washington e no Pentágono o tema não é consensual. Desconhecido é também o alcance de outro decreto presidencial, assinado já este ano para acabar com outra guerra: a quantidade de mortes no país devido à proliferação de armas de fogo. Obama decidiu tornar mais difícil as suas vendas, apesar da oposição de republicanos e democratas.