Livraria Lello celebra “110 anos em boas mãos”, diz João Soares

O ministro da Cultura referiu a Lello como exemplo de que “a cultura pode ser motor para o desenvolvimento”. Até às 21h, a Lello está aberta ao público e em festa na Rua das Carmelitas.

Fotogaleria
A Livraria Lello serviu de inspiração à autora para as escadarias da academia de Hogwarts. Marco Duarte
Fotogaleria
Marco Duarte
Fotogaleria
Marco Duarte
Fotogaleria
Marco Duarte
Fotogaleria
Marco Duarte
Fotogaleria
Marco Duarte
Fotogaleria
Marco Duarte

Foi com o discurso do recém-nomeado Ministro da Cultura, João Soares, que a Livraria Lello abriu na manhã desta quarta-feira as suas portas ao público para comemoração do seu 110º aniversário. Os parabéns cantaram-se ao som do quarteto da Banda Sinfónica Portuguesa e os visitantes tiveram direito a postais, doces típicos, e poesia de Guerra Junqueiro e Florbela Espanca.

A 13 de Janeiro de 1906 que a livraria Lello, classificada em 2013 como património histórico da cidade, foi inaugurada na presença de políticos e intelectuais, entre eles Afonso Costa e Guerra Junqueiro, primeiro nome no Livro'Ouro da casa, que foi também hoje assinado por João Soares.

O ministro da Cultura assinalou no seu discurso que se revê nas “tradições republicanas” da livraria, inaugurada quatro anos antes da Implantação da República, palco de tertúlias para os intelectuais da época, e que agora “cumpre 110 anos em boas mãos”. João Soares agradeceu ainda à família Lello pelo seu papel na valorização da cultura nacional. “Este é um trabalho que serve o país, que serve a nossa cultura, e que tem que ser agradecido do fundo do coração por quem agora transitoriamente tem a responsabilidade do ministério da Cultura em Portugal”.

Nas declarações à imprensa, o ministro acrescentou que a livraria “é a prova de que a cultura tem mercado e tem um espaço de afirmação no plano comercial para o país, mas sobretudo que a cultura pode ser um motor para o desenvolvimento”. Ponto de referência na rota turística do Porto, a Lello atrai diariamente centenas de visitantes, e desde Julho do ano passado começou a cobrar a entrada com vouchers de 3€, dedutíveis na aquisição de livros.

“Conseguimos resgatar a essência da livraria”, afirma José Manuel Lello, director e bisneto de José Lello, co-fundador da Lello & Irmãos. “No Verão chegávamos a ter cerca de cinco mil pessoas a entrar aqui dentro, muitas delas sem interesse nem na arquitectura, nem nos livros.” Apesar de o número de visitantes ter diminuído, José Manuel Lello adianta que a medida “permite que as pessoas estejam aqui num ambiente tranquilo, calmo, e que, com o voucher, comprem mais livros”.

Resultado disso é que as vendas da Lello aumentaram 300% nos últimos seis meses. De uma média de 190 livros por dia, a livraria passou a vender cerca de 522, e é Fernando Pessoa que se destaca no topo das vendas. O presidente do Futebol Clube do Porto, Pinto da Costa, presente na cerimónia, admitiu-se fã confesso das obras do poeta, e admira que a Lello tenha tido “a inteligência de as ter disponíveis em varias línguas, o que faz com os turistas também a adquiram”.

"É um museu vivo" diz Eliane Oliveira, de Minas Gerais, Brasil, que já conhecia a Lello. Foi um dos primeiros lugares que quis visitar quando chegou à cidade pela primeira vez, em Julho do ano passado. Agora a viver cá, Eliane regressa à Lello sempre que pode, e esta quarta-feira voltou para fazer parte da festa e deixar uma mensagem no livro de honra, aberto aos visitantes. "Escrevi parabéns, e disse que a livraria nos inspira, alimenta a nossa imaginação".  

É na promoção da cultura e da história do país que a Lello mais tem apostado. “Tornámo-nos grandes exportadores da cultura portuguesa, da gastronomia, dos azulejos, de várias temáticas”, diz José Manuel Lello. As traduções das mais importantes obras da língua portuguesa têm lugar de destaque, havendo também espaço para novos autores e criações.

“Um dos méritos que esta casa teve ao longo destes 110 anos foi conseguir adaptar-se às grandes mudanças no ramo editorial e livreiro”, diz José Manuel Lello. “Tenho a certeza de que se o meu bisavô, fundador desta casa, estivesse aqui hoje ficaria boquiaberto ao ver como se transformou. O que era uma boa livraria em 1906, é uma boa livraria em 2016, e uma atracção turística da cidade do Porto”.

Pedro Pinto, que chegou no ano passado à  administração da Lello, revela que, em 2016, a livraria irá lançar um prémio de fotografia internacional, um guia da própria livraria e uma reconstituição da fotografia de Afonso Pais do dia da inauguração, em 1906, com intelectuais da actualidade.

Uma programação que pretende integrar os portuenses na já longa vida da livraria. “Entendemos que temos de partilhar com as instituições da cidade parte deste projecto. Nós queremos que isto seja uma casa sempre aberta às pessoas do Porto. Temos um grande orgulho em estarmos nesta cidade, uma cidade que amamos", afirma Pedro Pinto. 

Texto editado por Ana Fernandes

Sugerir correcção
Comentar