Exposição ao Banif penaliza rating da Auto-industrial

Empresa era o segundo maior accionista privado do banco mas o seu risco de liquidez aumentou com resolução aplicada à instituição.

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Auto-Industrial tem quota de 12% na venda de carros da Ford em Portugal Ricardo Santos

A Auto-Industrial, empresa de venda de automóveis de Coimbra que era o segundo maior accionista privado do Banif, viu a sua notação financeira cair de “B” (altamente especulativo) para “C” (risco iminente), atribuída pela ARC, empresa portuguesa de ratings. Num comunicado a que o PÚBLICO teve acesso, a ARC justifica a decisão com um “aumento do risco de liquidez decorrente das maturidades da dívida e das incertezas da resolução aplicada ao Banif”, cujo negócio (que não inclui activos problemáticos) foi vendido ao Santander por 150 milhões de euros.

Apesar da melhoria dos resultados financeiros, fruto do aumento das vendas de automóveis generalizado no país durante o ano passado, o “risco de liquidez” é considerado alto pela ARC que, na sua análise, sublinha que o grupo fundado em 1920 (e as suas participadas CAM – Camiões Automóveis e Motores e Auto-Industrial SGPS) assegura 12% das vendas da Ford em Portugal, 11% das vendas da Opel e 7,5% da Mercedes. “Na actividade de importação e venda de tractores agrícolas, o grupo tem cerca de 20% de quota no mercado em Portugal”, detalha. Até 15 de Novembro do ano passado, a dívida financeira total do grupo liderado por Mário Leite Santos ultrapassava os 66,6 milhões de euros, menos 5,9 milhões de euros do que no final de Junho. E tendo em conta as “perdas contabilísticas na venda das acções do Banif no segundo semestre de 2015”, deverá registar prejuízo no ano completo, indica a agência e notação.

As projecções para este ano são positivas. Contudo, 70% da dívida financeira “necessita de ser renovada ou refinanciada”. “O grupo está a negociar com os bancos a extensão da maturidade da dívida, está à procura de novos financiamentos de outros bancos e também planeia vender activos imobiliários de forma a reduzir a dívida”, diz a ARC. Contudo, o facto de 25% da sua dívida ser devida ao Banif coloca problemas de liquidez.

Desde 2009 que a Auto-Industrial tem um acordo com o Banif que a tornou no segundo maior accionista do banco nascido no Funchal. Foi nesse ano que Mário Leite Santos e Horácio Roque anunciaram a incorporação do Banco Mais, detido pela Auto-Industrial, no Banif. O Banco Mais era uma sociedade financeira focada na área automóvel e quando se fundiu tinha operações em Espanha, Polónia, Hungria, Eslováquia e Brasil. Com a crise nas vendas de automóveis e na banca e a entrada da troika em Portugal, o cenário económico agravou-se. A entrada do Estado no Banif em 2012, com a injecção de 700 milhões de euros no capital social e de 400 milhões em obrigações convertíveis em acções, diluiu as posições dos accionistas privados, como a da Rentipar, sem conseguir responder às necessidades de capital do banco.

Entretanto, a Rentipar (que passou como herança indivisa para a família de Horácio Roque e é liderada por Teresa Roque, filha do banqueiro) avançou com um pedido de insolvência. De acordo com o Jornal de Negócios, que cita o documento onde a decisão é fundamentada, a empresa refere que o facto de não ter conseguido negociar uma dívida que tem ao Novo Banco tornou “inegável” a sua incapacidade para cumprir “as suas obrigações contratuais”. A instituição presidida por Stock da Cunha é um dos quatro principais credores da Rentipar, que deixou de receber dividendos do Banif, o seu principal negócio, em 2010, ano em que se começaram a agravar os problemas do banco.

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