Mais dinheiro para o Teatro Municipal do Porto em 2016 – a cidade não o “deixa parar”

Rivoli volta a ser a casa da dança e do teatro internacional; Campo Alegre passa a ser a casa do Drumming e de Victor Hugo Pontes.

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Ha!, de Bouchra Ouizguen, estará na festa dos 84 anos do Rivoli HERVÉ VERONESE
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Partituur, espectáculo para todas as idades da croata Ivana Müller
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O coreógrafo e bailarino francês François Chaignaud, um dos nomes do foco Homem ou Mulher? ODILE BERNARD SCHROEDER
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A filipina Elsa Jocson parte do submundo de Manila GIANNINA OTTIKER
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Romeo Castellucci traz ao Porto o seu espectáculo de choque KLAUS LEFEBVRE
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Ivanov, de Tchékhov, na encenação do iraniano Amir Reza Koohestani MANI LOTFIZADEH
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Violet, de Meg Stuart, que regressa ao Porto quase um ano depois da sua residência na cidade TINE DECLAERCK

Não foi a primeira vez que Rui Moreira entrou no Rivoli para reiterar (e festejar) in loco a transformação do seu compromisso eleitoral de um Teatro Municipal do Porto (TMP) reaberto à cidade numa realidade de carne e osso. Mas foi a primeira vez que o fez debaixo do palco e sem Paulo Cunha e Silva (1962-2015), o vereador da Cultura que o “acompanhava nessa missão” e que teve de substituir inesperadamente: “Tivemos de garantir no próprio dia que as coisas continuavam – e temos, para usar uma expressão muito portuense, feito das tripas coração. Sendo a Cultura a nossa prioridade, era inevitável que fosse o próprio presidente da Câmara a assumir o pelouro”, disse esta quinta-feira no final da apresentação da nova temporada dum TMP que terá orçamento reforçado em 2016 (900 mil euros, contra os 830 mil do ano passado).

Um orçamento a crescer 7 a 8% – “o que é perfeitamente razoável numa cidade que está de boas contas” – para uma programação com “um ritmo que vai desacelerar”, mas pouco. “Sabemos que a cidade não nos deixará parar”, insistiu o presidente da Câmara, depois de “um brevíssimo balanço” do primeiro ano completo de programação do TMP: 130 mil espectadores, uma taxa de ocupação de 80% considerada “muito interessante”, 219 espectáculos (25 dos quais estrangeiros), 35 coproduções com artistas e companhias locais.

2016 não será muito diferente. O TMP quer continuar a ser um teatro de “carácter internacional mas cada vez mais vinculado à cidade”, o que explica o rácio da programação para os primeiros sete meses do ano (15 espectáculos estrangeiros, 13 de criadores do Porto), a parceria com o Instituto Politécnico do Porto numa nova pós-graduação em Dança Contemporânea, o reinvestimento no programa educativo Paralelo e a vocação do seu segundo pólo, o Teatro do Campo Alegre, para acolher estruturas locais.

Às que já lá residiram em 2015, juntam-se agora o Drumming – Grupo de Percussão, até aqui instalado “em condições muito precárias” no Quartel do Bom Pastor, e a Nome Próprio do coreógrafo Victor Hugo Pontes (que, a propósito, chega ao Rivoli quase no fim da temporada, a 1 de Julho, com o seu espectáculo para a Companhia Nacional de Bailado, Carnaval).

Teatro, dança e política

O programa especial com que o Rivoli festejará o seu 84.º aniversário a 23 de Janeiro, e que o PÚBLICO já tinha antecipadoHa!, da coreógrafa marroquina Bouchra Ouizguen, Partituur, da coreógrafa croata Ivana Müller, um programa de curtas da Casa da Animação, um concerto especial dos HHY & The Macumbas e uma festa algumas ruas acima, no Passos Manuel –, é necessariamente um dos acontecimentos mais sublinhados na agenda do TMP para os primeiros meses do ano, e a sua entrada oficial em 2016.

Mas há mais novidades estruturais. A primeira é o festival DDD – Dias da Dança, que porá o público e (espera o director artístico Tiago Guedes) um contingente assinalável de programadores nacionais e internacionais a deambular entre Porto, Gaia e Matosinhos para ver espectáculos de coreógrafos internacionais (Raimund Hoghe e Ambra Senatore) e nacionais (Vera Mantero, Marlene Monteiro Freitas, Flávio Rodrigues e Joana Castro, Cristina Planas Leitão), alguns dos quais “estão só à espera de ser descobertos”.

A outra será o ciclo Porto Best Of, com curadoria de Miguel Guedes, que porá uma banda consagrada da cidade a reinterpretar o mais icónico dos seus álbuns, com primeira parte a cargo de uma banda emergente – os primeiros do alinhamento, a 9 de Março, são os GNR, que revisitam Psicopátria, de 1986 (o último disco gravado com Alexandre Soares), depois de um concerto dos Lobo. E ainda: o programa Aquecimento Paralelo, que permitirá aos espectadores interessados um treino coreográfico inspirado nos elementos de cada espectáculo de dança da programação, e a entrada em cena das editoras Matéria Prima e Lovers & Lollypops como consultoras do ciclo de concertos Understage.

Na dança, os regressos da CNB (que “há 18 anos não estreava uma peça no Porto” e o fará a 29 de Janeiro com o Programa Reportório, seguido da apresentação do primeiro espectáculo de Faustin Linyekula para a bienal Artista na Cidade, Portrait Series: I Miguel) e de Meg Stuart, que quase um ano depois da longa residência que fez na cidade mostrará Violet no Rivoli, também marcam a agenda para 2016. Quantum, que o coreógrafo suíço Gilles Jobin criou em residência no CERN, e o foco Homem ou Mulher?, que levará o Rivoli a cruzar as fronteiras de género com François Chaignaud e Elsa Jocson (criadora filipina que mergulha no submundo de Manila com a sua prática inspirada nas linguagens apócrifas do striptease e da dança do varão), são outras apostas de Tiago Guedes. 

No teatro, as já anunciadas vindas do italiano Romeo Castelucci, com o espectáculo de choque Sobre o Conceito do Rosto no Filho de Deus; do iraniano Amir Reza Koohestani, com Ivanov; e do português João Branco, o filho da ex-directora do Rivoli Isabel Alves Costa há muito radicado em Cabo Verde, com uma encenação a partir de um original de José Eduardo Agualusa.

A temporada também permitirá a estreia de várias co-produções (idealmente com carreiras aumentadas). Entre elas estarão as quatro que o TMP fará com o também revigorado FITEI – Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica para a estreia de espectáculos de Joris Lacoste, Cláudia Dias com Pablo Fidalgo Lareo, Gonçalo Waddington e Tiago Correia.

De resto, campo aberto ao Teatro Nacional São João, que Rui Moreira vincou ser a instituição de referência na área e que, tal como todos os outros agentes “que aguentaram a cultura na cidade quando não havia uma política municipal”, a Câmara não quer atropelar. Não por uma questão de programação, mas por uma questão de política: “Transformámos o que era feito de forma caótica e espontânea numa afirmação política da cidade, mas não queremos ser a hidra que afoga as outras iniciativas.”

 

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