Morreram 110 jornalistas por causa da sua profissão em 2015
Os ataques ao Charlie Hebdo e os homicídios de jihadistas fizeram subir os números.
O jornalista sírio Naji Jerf, assassinado segunda-feira na Turquia, foi o último a morrer este ano por motivos associados ao trabalho. O relatório anual da organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF), divulgado esta terça-feira, mostra que 67 jornalistas morreram no exercício de funções ou por motivos associados ao trabalho. As circunstâncias em que ocorrem as restantes 43 mortes de jornalistas registadas ao longo deste ano não foram esclarecidas.
O repórter, membro de um colectivo chamado Raqqa is Being Slaughtered Silently, era autor de um documentário sobre a acção do Estado Islâmico na Síria, Islamic State in Aleppo, tinha sido alvo de ameaças e já tinha conseguido visto para viajar para França, mas foi morto a tiro, em plena luz do dia, numa cidade turca.
A RSF destaca o aumento da violência em 2015 contra os profissionais do jornalismo: no ano passado, tinham-se registado 66 mortes. Estes são números que traduzem “o fracasso de iniciativas concebidas para proteger jornalistas”, diz o relatório. Dos 67 jornalistas mortos deliberadamente este ano, 49 foram assassinados, como Jerf, e outros 18 morreram enquanto exerciam funções.
O país com mais jornalistas assassinados este ano foi o Iraque, onde 11 profissionais morreram, sobretudo em Mossul, a Norte do país, às mãos do Daesh (outro nome para o Estado Islâmico) e em segundo lugar surge a Síria, com dez. No entanto, 64% dos homicídios ocorreram fora de zonas em conflito.
França, um país “pacífico”, surge em terceiro na lista, depois de o ataque ao jornal satírico Charlie Hebdo em Janeiro ter provocado 12 mortos, oito das quais jornalistas, reivindicado pela Al-Qaeda na Península Arábica. Segue-se o Iémen (oito), o Sudão do Sul (sete), a Índia (nove), o México (oito), as Filipinas (sete) e as Honduras (sete). Nenhum dos oito casos registado nas Honduras foi esclarecido.
De cordo com a RSF, as circunstâncias das 43 mortes que ficaram por explicar este ano não são conhecidas por falta de transparência nas investigações e de “boa-fé por parte dos governos”. Ocorreram sobretudo em países onde não existe legislação sobre o assunto. O relatório aponta a impunidade de crimes de violência contra jornalistas principalmente em regiões da América Latina, do Médio Oriente e da África subsaariana.
Apesar de a ONU ter recentemente aprovado a resolução 2222 sobre a protecção de jornalistas em zona de guerra, responsabilizando os Estados pela protecção de jornalistas nas missões de paz, a RSF diz que esta pode tornar-se “uma boa resolução e nada mais”.
“Muitos governos falham em cumprir com as suas obrigações perante a lei internacional”, referiu em comunicado Christophe Deloire, secretário-geral da RSF. A criação de um mecanismo para reforçar as directivas internacionais sobre a protecção de jornalistas, acrescentou, “é essencial”.
Entre as atrocidades contra estes profissionais, 54 jornalistas foram feitos reféns, sobretudo na Síria, e 153 foram detidos. O país com mais detenções foi a China, de onde uma jornalista francesa foi recentemente expulsa por questionar a acção do governo na província de Xinjiang contra a comunidade muçulmana.
Texto editado por Clara Barata