Centristas mostram preocupação com turbulência na sucessão de Portas
Nuno Melo está a ser pressionado para avançar como candidato à liderança.
Foi um apelo geral à calma interna o que os membros da comissão política do CDS ouviram depois de Paulo Portas anunciar que já não se vai recandidatar a líder do partido. Um dos mais fortes candidatos a suceder a Portas, o eurodeputado Nuno Melo, está a ser pressionado para avançar.
A necessidade de travar qualquer luta fratricida interna foi sublinhada pela maioria dos centristas na reunião da comissão política nacional de segunda-feira à noite. Na sala, Portas assegurou que a secretaria-geral terá um papel de absoluta isenção perante as candidaturas que se apresentem. Quem ouviu registou o plural usado na frase.
Nuno Melo, vice-presidente com o pelouro das relações institucionais, não tem mostrado vontade de avançar como candidato à liderança do CDS-PP, apesar de ser o dirigente mais popular no partido a seguir a Paulo Portas. Mas, ao que o PÚBLICO apurou, o eurodeputado está a ser pressionado para ser candidato.
Na sua página de Facebook são várias as mensagens de apelo para que venha a liderar o partido. Essa decisão será decisiva para que outras candidaturas avancem ou não. É o caso de Assunção Cristas, ex-ministra da Agricultura, também vice-presidente do partido, que dificilmente concorrerá contra um candidato forte e que muitos consideram ser o natural sucessor de Portas.
Os apelos à serenidade no partido acontecem numa altura em que cresce a contestação interna à decisão de Portas de abdicar de interpelar o primeiro-ministro nos debates quinzenais e ceder o lugar a seis deputados para intervirem rotativamente. Entre eles - Assunção Cristas, Cecília Meireles, Pedro Mota Soares, João Almeida, Telmo Correia e o próprio líder parlamentar Nuno Magalhães - estão possíveis candidatos à liderança.
Depois de Hélder Amaral, vice-presidente da bancada e membro da comissão executiva, ter criticado fortemente a decisão em declarações ao PÚBLICO, o porta-voz do partido Filipe Lobo d’Ávila engrossou a contestação. “Quem decide as lideranças do CDS são os seus militantes. Não são os seus Politburos. Não há herdeiros legítimos nem há uma qualquer short list deixada pelas lideranças cessantes.Terá que haver candidato, com vontade, projecto e equipa”, escreveu na sua página de Facebook.
Castro avisa líder que não pode “virar as costas” ao partido
Pouco tempo depois de Paulo Portas ter anunciado que vai deixar a liderança do CDS-PP no próximo congresso (que será marcado em Março ou Abril), o antigo presidente do partido José Ribeiro e Castro veio apontar a “responsabilidade” do ainda líder de conduzir o partido neste novo ciclo político.
"Considero mal, não apoio a forma como o partido está a ser conduzido, mas creio que o presidente do partido tem a responsabilidade, a obrigação de conduzir o partido no ciclo político que já se iniciou, não pode virar costas e ir-se embora", afirmou à Lusa José Ribeiro e Castro.
Segundo o antigo deputado, o congresso já devia ter sido realizado no primeiro trimestre de 2015, a "tempo de se reflectir e tomar decisões que se projectariam no ciclo político" que está agora a ter início. "Não faz sentido nenhum que o presidente do partido que forçou o adiamento do congresso para depois de se iniciar o ciclo político, o qual já está em velocidade de cruzeiro, se vá embora", salientou.
José Ribeiro e Castro disse respeitar a decisão de Paulo Portas de sair da liderança, mas considerou que o deveria fazer noutra altura.
Já Filipe Anacoreta Correia, conselheiro nacional e membro da corrente crítica da direcção de Portas, fez um elogio. “Mais uma vez Paulo Portas revela uma grande maturidade política. Faz isto com certeza porque compreende que é um momento pessoal, mas também porque entende que isso vai ao encontro do interesse do país e do partido”, afirmou à Lusa.
"Essa noção de saber sair, que é tão rara na política, não pode deixar de ser vista como um elogio a Paulo Portas", acrescentou Filipe Anacoreta Correia, líder da tendência interna Alternativa e Responsabilidade, corrente crítica à actual liderança.
Questionado pela Lusa se vai apresentar candidatura à liderança do partido no próximo congresso, Filipe Anacoreta Correia disse que “é cedo” para falar sobre o assunto e considerou que o actual momento “deve ser visto como uma oportunidade no partido”.
“Acho que os portugueses pedem de facto alguma renovação e acho que o partido deve encarar este momento como uma oportunidade de crescimento, de amadurecimento e no partido vamos encontrar soluções”, disse, salientando que vai estar empenhado no processo e participar no debate interno que se vai iniciar.
Filipe Anacoreta Correia foi o último nome do CDS a ser eleito pela lista de Lisboa e entra no Parlamento se Paulo Portas abdicar de ser deputado.