Uma quase desconhecida na direcção do Museu do Chiado
Aida Rechena, que iniciou funções esta semana, quer aproximar o museu da comunidade e trabalhar as questões de género.
Como vê o meio da arte contemporânea a escolha da nova directora do Museu do Chiado? Julião Sarmento, uma das principais figuras da arte contemporânea portuguesa, disse ao PÚBLICO não conhecer Aida Rechena, tal como o escultor Rui Chafes, que ganhou em 2015 o Prémio Pessoa.
O mesmo disseram outras figuras da arte, entre artistas e curadores, que não quiseram ser identificados.
Raquel Henriques da Silva, que dirigiu o Museu do Chiado entre 1993 e 1997, adiantou ter sido “uma total surpresa". "Esperemos, agora, pelo trabalho.”
Aida Rechena é licenciada em História, mestre e doutorada em Museologia, competências lhe concedem “espaço em qualquer museu”, defende em conversa com o PÚBLICO. A nova directora do Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado (MNAC-MC), em Lisboa, assumiu funções na segunda-feira.
Natural de Monsanto, no concelho de Idanha-a-Nova, Aida Rechena deixa para trás a direcção do Museu Francisco Tavares Proença Júnior, em Castelo Branco, cargo que ocupava desde 2005 e que acumulou, entre 2012 e Setembro último, com a chefia do Museu da Guarda. Acredita que “a experiência de direcção” que tem, “sempre relacionada com a área de museus e património”, a preparou para a posição que agora assume. Do seu percurso académico consta ainda uma pós-graduação em Arqueologia.
Antes de chegar ao museu albicastrense, Aida Rechena foi técnica superior na Câmara Municipal de Odivelas, no Instituto Português do Património Arquitectónico, no Museu de Angra do Heroísmo e na Direcção Regional de Educação. Foi, aliás, no museu açoriano que a museóloga desenvolveu o gosto pela museologia, como explicou ao PÚBLICO em 2005.
Aida Rechena sucede a David Santos, que se demitiu do cargo em Julho devido a “incompatibilidades insuperáveis” com a tutela, disse na altura. Contactado pelo PÚBLICO, o ex-director do museu não quis comentar a escolha da nova directora.
Sobre o trabalho pouco avança Aida Rechena. Não teve ainda oportunidade de se “reunir com nova directora da Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC)”, Paula Silva, que também asumiu o cargo no dia 11 de Janeiro. Por esse motivo, Aida Rechena disse não poder ainda falar do projecto que tem para o museu, um projecto que o subdirector da DGPC, Samuel Rego, classificou à Lusa como “o mais consistente e inovador para os desafios do futuro”.
Ao PÚBLICO Samuel Rego, que integrou o júri do concurso público ao lado de Inês Cordeiro, directora da Biblioteca Nacional de Portugal, e Margarida Acciaiuoli, historiadora de Arte e professora da Universidade Nova de Lisboa, explica porquê. “O projecto tem em consideração toda a colecção do Museu do Chiado, desde a origem, desde 1850, até à actualidade.” Dos nove projectos candidatos, aquele apresentado por Aida Rechena “foi o que mais equilíbrio garantia em termos de trabalho museográfico”, acrescenta.
Samuel Rego destaca “a larga experiência de Aida Rechena à frente de museus”, que sublinha ser “o que se procura para este cargo”, lembrando que a directora não vai trabalhar sozinha, contando com o apoio e a articulação permanente com a DGPC. O subdirector da DGPC refere ainda “que Aida Rechena mostrou uma grande porosidade no fenómeno da criação artística contemporânea”. Quanto aos desafios do futuro do museu, o subdirector da DGPC especifica que passam por “encarar a ampliação como uma oportunidade e aproximar o museu da comunidade a nível local, regional e nacional”. Aida Rechena chega ao Museu do Chiado numa altura em que a primeira fase do projecto de ampliação do espaço para as instalações do antigo Governo Civil de Lisboa se encontra concluída há meses.
É destes mesmos objectivos que fala Aida Rechena. À semelhança do que procurou fazer nos museus que dirigiu no passado, pretende “aproximar o Museu do Chiado da comunidade. Não só da comunidade envolvente – a zona do Chiado –, mas também de públicos flutuantes, como turistas e não-residentes, e do público nacional”. Isto, porque só entende “a museologia e os museus como espaços abertos à comunidade”, diz.
Mostra-se especialmente entusiasmada com a ampliação do museu, explicando que entra num “período muito importante” com “um grande potencial de trabalho e de projecção externa do museu”, acredita. Aida Rechena diz ainda que quer “aproveitar esta ampliação ao máximo e rentabilizá-la em termos museológicos e culturais, potencializando a colecção”.
A museóloga, cuja tese de doutoramento – Sociomuseologia e Género. Imagens da Mulher em Exposições de Museus Portugueses – lhe valeu o Prémio de Melhor Estudo sobre Museologia da Associação Portuguesa de Museologia em 2012, nota que a sua “área de investigação prioritária é museologia e género” e acredita que “nada melhor do que a arte contemporânea para trabalhar as questões das mulheres artistas, porque hoje mulheres e homens têm oportunidades e acesso igual à criação artística”. No contexto da colecção do Museu do Chiado, Aida Rechena planeia analisar “quais são as vertentes de igualdade de género que podem ser exploradas”.
Texto editado por Isabel Coutinho