Direitos dos clientes do Banif estão salvaguardados, mas há coisas que vão mudar
Santander já reuniu com a “alta direcção” do banco adquirido para acelerar a integração que lhe permitirá ser a segunda maior entidade financeira privada do país.
O presidente do Banco Santander Totta, António Vieira Monteiro, encontrou-se nesta segunda-feira com a alta direcção do Banif, um encontro que serviu para tranquilizar os trabalhadores do banco e para iniciar o processo de integração dos clientes da instituição adquirida.
O processo de integração, que o Banco Santander quer ver concretizado “o mais rapidamente possível”, sem se comprometer com um calendário, garante os direitos essenciais dos depositantes, designadamente o montante integral dos depósitos, independentemente do seu valor. Também os clientes com empréstimos e outros produtos financeiros tradicionais têm as condições negociadas salvaguardadas.
Essa garantia é dada pelo Banco de Portugal, pelo Governo e pelo próprio Santander. Mas há coisas que vão mudar, que não apenas o desaparecimento da marca ou a eventual supressão de alguns balcões, quando geograficamente se verificar uma sobreposição.
Como admite Joaquim Rodrigues da Silva, jurista da Deco Proteste, à medida que forem vencendo as aplicações, depósitos ou outros produtos financeiras, é natural que se verifique uma uniformização dos preçários, o que é válido para as condições de remuneração, mais conhecidas por taxas de juro.
No caso dos empréstimos, a actualização de taxas de juro também só é possível nos contratos revistos periodicamente, muito frequente nos empréstimos às empresas, ou o crédito revolving, que vai sendo renovado com regularidade, como os cartões de crédito.
O crédito à habitação fica excluído dessa actualização por iniciativa do banco, uma vez que as actualizações, normalmente indexadas à Euribor, estão fixadas no contrato e não podem ser por apenas uma das partes.
Se a remuneração futura dos depósitos ou os juros cobrados nos empréstimos não agradarem aos clientes do banco vendido, não lhes resta outra solução que não seja a de procurar quem lhe ofereça melhores condições.
A uniformização dos preçários também inclui outra componente, a das comissões cobradas pelos diferentes serviços, que também são diferentes e que mudam com grande regularidade.
O responsável pelo departamento de serviços financeiros da associação de defesa do consumidor destaca, no entanto, que as alterações ao nível das comissões poderão até beneficiar os ex-clientes do Banif. É que, garante o jurista, as simulações feitas pela Deco Proteste mostram que o Banif é uma das instituições que mais cobra por um conjunto de serviços.
Se a uniformização das comissões for feita pelo valor mais baixo, os novos clientes do Santander até ficariam a ganhar. Se os valores subirem, os se forem alteradas condições sem o seu consentimento, Joaquim Rodrigues da Silva aconselha os clientes a queixarem-se ao Banco de Portugal e à Deco.
O responsável adianta que desde o início da semana passada registaram um aumento de pedidos de esclarecimento relativos à segurança do Banif. Os primeiros contactos estavam essencialmente relacionados com a segurança dos depósitos, mas desde a suspensão das acções do banco, na passada quinta-feira, que receberam dezenas de pedidos de esclarecimentos de accionistas e obrigacionistas.
Para já, e de acordo com fonte oficial do Santander, os balcões do Banif “estão a funcionar com normalidade” e ”não há conhecimento de ocorrência de levantamentos anormais por parte de clientes” do banco agora adquirido, como terá acontecido na semana passada.
Com a aquisição da actividade comercial do banco objecto de resolução, o Banco Santander Totta, detido pelo banco espanhol Santander, reforça a sua quota de mercado em Portugal em 2,5%, passando a deter 14,5% dos créditos e depósitos nacionais, o que permite à instituição liderada por António Vieira Monteiro passar a ser “a segunda maior entidade financeira privada do país”.
O Banif tem uma rede de 150 balcões, que servem 400 mil clientes. Possui uma carteira de cerca de 6000 milhões de euros em depósitos e 5500 milhões de euros em créditos. A instituição é especialmente relevante nas regiões autónomas da Madeira e Açores, nas quais conta com quotas de mercado muito elevadas.