Área de produção para agricultura biológica aumentou 8% num ano
Há um "interesse renovado" em Portugal e o número de produtores está a aumentar. Com os apoios de Bruxelas a expectativa é juntar, este ano, 1300 novos agricultores a esta fileira
Portugal está longe de se destacar entre os seus pares europeus na produção biológica, mas o número de produtores e de área destinada a este tipo de agricultura está a aumentar. Os dados mais recentes da Direcção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural (DGADR) mostram que, entre 2013 e 2014, o número de agricultores registados aumentou 9% e a terra usada para produzir cresceu 8%, atingindo os 212.345 hectares. Este ano, a área deverá aumentar 35%, com a entrada neste negócio de 1300 produtores e mais verbas de Bruxelas.
A produção biológica está mais desenvolvida na agricultura do que, por exemplo, na indústria transformada. A DGADR indica que 86% dos operadores certificados são agricultores (3374 em 2014, um aumento de 9% em comparação com o ano anterior). Já na indústria existem 515 entidades, mais 23% do que em 2013. Contudo, neste valor incluem-se agricultores que são, em simultâneo, embaladores ou com actividade na indústria transformadora. Na aquacultura, por exemplo, o número de empresários é escasso (três em 2014 e um em 2013). Já no retalho, são 30 as empresas certificadas.
Jaime Ferreira, presidente da Associação Portuguesa de Agricultura Biológica (Agrobio), adianta que há um "renovado interesse pela agricultura biológica em Portugal, fruto da conjugação entre crise económica, novas gerações urbanas com fortes preocupações ambientais e com dificuldade em encontrar trabalho nas actividades tradicionais, e uma nova Política Agrícola Comum [PAC] 2014-2020", que pretende promover este modo de produção. A par da evolução que se tem vindo a verificar, espera-se um crescimento expressivo em 2015, graças às novas medidas de apoio de Bruxelas.
O presidente da Agrobio avança que, este ano, a área em agricultura biológica poderá ter aumentado "em 35%, correspondendo a 78 mil hectares em conversão e 1300 agricultores". Significa que terra que, até agora, estava ao abandono ou dedicada à agricultura tradicional passou a produzir produtos através deste método, que não recorre a pesticidas, adubos químicos de síntese ou organismos geneticamente modificados. “Há claramente novas culturas na vinha, ervas aromáticas, frutos secos, frutos vermelhos e também cogumelos”, adianta, sublinhando que se trata de áreas mais pequenas, mas com um número “expressivo” de agricultores.
Um outro sinal de que este mercado está a mexer são os relatos que chegam à Agrobio. Jaime Ferreira diz que há empresas que produzem e vendem produtos biológicos que conseguiram aumentar em 30% a sua facturação. “Abriram novos pontos de venda, e estão agendados mais para os próximos meses, sobretudo no retalho. A comercialização, ainda muito centralizada na área metropolitana de Lisboa, vai expandir-se ao Porto, Aveiro e outras áreas do país”, continua. O preço é um entrave à disseminação deste negócio, mas a Agrobio acredita que “tende a estabilizar ou mesmo diminuir” graças a um aumento expectável da produção.
A própria associação tem conseguido captar novos associados (mais de 500 por ano, nos últimos anos) e regista “um novo interesse pela formação”. Portugal tem apenas uma escola superior com esta área de ensino - a Escola Superior Agrária de Coimbra – a que se junta a oferta dada pela Agrobio, e há “muita gente a querer” aprender.
Do lado da investigação, têm sido desenvolvidos projectos, como o da produção de arroz biológico no Estuário do Sado. “Começaram por ser 40 toneladas e este ano são já 70 toneladas. Foi a primeira vez que se produziu arroz biológico nacional, com possibilidade de exportar”, continua o responsável.
Na indústria alimentar biológica quase tudo é importado e “há grande carência no mercado da fruticultura”. Por isso, o potencial de crescimento “é grande”. Jaime Ferreira acredita que, ao contrário da produção convencional, há mais oportunidades de negócio nesta forma de produzir e, por isso, pede ao Governo que aposte numa estratégia de produção e desenvolvimento. “A União Europeia é deficitária e é o maior mercado do mundo se considerarmos o conjunto dos seus países. Mas o essencial é aumentar a produção. Só assim haverá produtos mais acessíveis aos consumidores”, conclui.
Um relatório da Federação Internacional da Agricultura Biológica, baseado em dados de 2011 e 2012, mostra que Portugal tem uma quota de apenas 5,97% na produção mundial. Em 2011, gerou vendas de 21 milhões de euros, com uma área de 219.684 hectares, valor superior ao que se verificou em 2014 (212.345 hectares). Esta redução é explicada pela falta de incentivos comunitários à produção, cenário que entretanto se alterou com os novos apoios da PAC que já estão a ser utilizados pelos agricultores. A agricultura biológica representa 6% do total da área agrícola utilizada no país.
Na Europa este negócio está avaliado em 26,3 mil milhões de euros e a Alemanha é o maior produtor: vale mais um terço das vendas. Segue-se França, Reino Unido e Itália. Os países com maior consumo per capita de produtos biológicos são a Suíça, a Dinamarca e o Luxemburgo.
Considerando os países isoladamente, os Estados Unidos são o maior mercado do mundo, com vendas calculadas de 29,1 milhões de euros.