PSP chamada à sede do Montepio por suspeitas de votos falsificados nas eleições
Participaram nas eleições para os órgãos sociais da Associação Mutualista Montepio Geral (AMMG), para o triénio 2016/2018, cerca de 57. 800 mil associados, ou seja, quase menos 27 mil do que em 2012.
O PÚBLICO apurou que duas das listas concorrentes às eleições - a D ("Renovar o Montepio") e a E ("O Montepio é seu") -decidiram convocar esta quarta-feira as autoridades policiais depois de confrontadas com indícios de irregularidades na votação por correio cívico.
Na sequência, ao final da tarde quatro elementos da PSP deslocaram-se à sede do Montepio Geral, em Lisboa, onde decorreu a contagem dos votos das eleições para os órgãos sociais da Associação Mutualista Montepio Geral (AMMG), para tomar conhecimento da suspeita.
De acordo com um dos elementos da lista D, liderada por António Godinho, estão em causa 283 votos enviados em condições aparentemente irregulares. A Lista A ("Montepio para todos”), encabeçada por Tomás Correia, convocou de urgência a Comissão Eleitoral, que reuniu por volta das 19h, com um ponto único em cima da mesa: deliberar sobre a aceitação dos 283 votos para efeitos de contagem. Posição que foi aceite. Mas ficou decidido colocar este lote "num ficheiro" autónomo para serem mobilizados caso uma das cinco listas a disputar as eleições pretenda pedir uma peritagem.
O resultado destas eleições, com uma campanha pautada por denúncias de irregularidades e de ilicitudes cometidas pela lista A (liderada pelo actual presidente Tomás Correia), só será conhecido amanhã, quinta-feira. Estiveram a disputar os órgãos sociais da Associação Mutualista Montepio Geral (AMMG) quatro listas, com uma quinta a candidatar-se apenas ao conselho geral.
A afluência a estas eleições para nomear os órgãos sociais da Associação Mutualista Montepio Geral foi menor do que a registada há três anos, tendo desta vez mobilizado 13% dos 440 mil associados do grupo em condições de votar. O que se traduziu numa queda face a Dezembro de 2012 quando se mobilizaram quase 24% dos mutualistas. Nessa altura, de um universo de apenas 360 mil associados, pronunciaram-se 84.675, mas só foram aceites 74.857 votos.
Dos associados que agora exerceram o direito de voto (à volta de 57.800), cerca de 98% fizeram-no por correspondência. Para serem validados os boletins enviados por correio tiveram de chegar à sede da AMMG ao longo desta quarta-feira. Os que optaram por votar fisicamente (apenas 1410 associados) só tiveram uma opção: ir à rua do Ouro, em Lisboa, onde apenas uma urna esteve a funcionar.
Após o fecho da mesa de voto deu-se início à abertura dos envelopes que ao longo dos últimos dias foram enviados por correio e à leitura dos boletins depositados fisicamente. Se até às 3h desta quinta-feira a contagem dos votos não estiver concluída, então, o escrutínio será interrompido para ser retomado horas depois. Este ano a AMMG destacou 45 pessoas para a contagem dos votos, das quais 30 recrutadas a uma empresa externa. O processo que agora começa vai ser acompanhado por representantes das cinco listas que se submeteram a sufrágio.
O actual presidente da Associação Montepio Geral (dona da Caixa Económica Montepio Geral) Tomás Correia, liderou a lista A (“Montepio para todos”). Já a lista C (“Segurança, transparência, confiança na gestão do Montepio: Defender o mutualismo”) foi encabeçada pelo economista Eugénio Rosa, enquanto a lista D teve à frente o gestor António Godinho (“Renovar o Montepio”), e a E foi liderada pelo presidente da União das Mutualidades Portuguesas, Luís Alberto Silva (“Vote: O Montepio é seu”). Manuel Ferreira candidata-se apenas ao conselho geral pela lista B (“Por um Montepio Mais Forte e Democrático, com uma Caixa Económica mais ética”).
Em Dezembro de 2012, data em que votaram 84.675 associados, a lista de Tomás Correia foi apoiada por 55.965 mutualistas, ou seja 74,8% do total. Já a lista rival, liderada por Luís Alberto Silva (que concorreu agora na lista E), contou com os votos de 18.892 eleitores (25,2%).
Durante o último mandato à frente do grupo Montepio Geral, Tomás Correia foi alvo de críticas fortes por parte de vários sectores mutualistas e que levaram os grupos concorrentes, durante a campanha eleitoral, a acusá-lo de potenciais ilicitudes. Recorde-se ainda que o Banco de Portugal ordenou várias inspecções e auditorias ao banco mutualista, que detectaram irregularidades nunca assumidas pelo supervisor.
As múltiplas polémicas associadas à gestão de Tomás Correia contribuíram para o Banco de Portugal “aconselhar” o candidato da lista A a deixar a presidência da Caixa Económica. A recomendação abriu a porta à entrada de José Félix Morgado, mas Tomás Correia manteve-se à frente da associação mutualista. O resultado destas eleições vão revelar se mantém a confiança da maioria dos associados votantes.