Partidos de esquerda dizem que números do INE contradizem narrativa de retoma

PS, PCP e BE acusam PSD e CDS de terem feito propaganda com fins eleitorais.

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Comunistas referem "grande embuste". Daniel Rocha

O PS considerou esta segunda-feira que os mais recentes dados que apontam para uma estagnação da economia portuguesa demonstram que era falsa "a narrativa vendida" antes das eleições legislativas por PSD e CDS sobre "retoma económica".

Esta posição foi transmitida pelo porta-voz e vice-presidente da bancada socialista, João Galamba, depois de o Instituto Nacional de Estatística (INE) ter indicado uma taxa de variação nula do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre deste ano face ao trimestre anterior - e um aumento de 1,4% em termos homólogos -, assim como uma taxa de desemprego inalterada em Outubro, face a Setembro, nos 12,4%.

Já o PCP acusou os partidos da coligação de terem promovido um "grande embuste" sobre a situação da economia portuguesa, contrapondo que os mais recentes dados indicam que o crescimento desacelerou face ao período homólogo do ano transacto.

"Depois das notícias da semana passada sobre a não devolução da sobretaxa de IRS aos contribuintes, estes dados mostram que a narrativa da retoma económica que vinha sendo vendida por PSD e CDS antes das eleições, mas que sempre foi contestada pelo PS, afinal não era verdadeira", declarou João Galamba aos jornalistas na Assembleia da República.

Perante os dados do INE agora divulgados, o porta-voz da direcção do PS defendeu que se torna "mais urgente a aplicação do programa do novo Governo" socialista.

"Estes dados mostram que as prioridades do novo Governo em matéria económica estão certas e são absolutamente necessárias: Aumentar o rendimento das famílias e aumentar investimento. As variáveis do consumo e do investimento são as principais responsáveis pela desaceleração do PIB no terceiro trimestre", advogou.

De acordo com João Galamba, para que seja possível cumprir a meta definida pelo anterior Governo, Portugal "terá de ter um quarto trimestre com um crescimento económico muito robusto - e isso só é possível com novas políticas, dando prioridade ao reforço do rendimento das famílias e do investimento".

Ao nível da população empregada, o dirigente socialista, baseando-se nas mesmas estimativas do INE, disse que está a cair "sistematicamente" desde Junho até Outubro.

"Nas vésperas das eleições assistiu-se a uma narrativa fantasiosa de PSD e CDS, segundo a qual estaria em curso uma aceleração do crescimento da economia - algo que o PS sempre contestou. Mas os dados conhecidos não devem servir para andar aqui num jogo de passa culpas e apenas tornam mais urgente a execução do programa do novo Governo. A nossa responsabilidade é alterar este ciclo de estagnação", acrescentou.

O "grande embuste"

Pelo PCP, o deputado António Filipe disse aos jornalistas que "PSD e CDS andaram a dizer que a crise estava ultrapassada e que o futuro que se aproximava seria risonho, mas ficamos agora a saber pelo INE que a economia portuguesa estagnou [no terceiro trimestre] relativamente ao anterior e desacelerou relativamente ao trimestre homólogo de 2014", sustentou.

Para o deputado comunista, os mais recentes dados do INE "demonstram que tudo aquilo que foi dito intensamente aos portugueses nos meses de campanha eleitoral, antes das eleições legislativas de 4 de Outubro, não passava afinal de um "grande embuste".

"Efectivamente, a evolução da economia portuguesa não foi aquela que se disse, mas antes foi caracterizada pela estagnação e desaceleração", frisou.

De acordo com António Filipe, no terceiro trimestre desse ano assistiu-se antes "a uma quebra significativa do investimento e do consumo privado, inclusivamente das próprias exportações".

"Os números mostram claramente uma estagnação"

A deputada do BE, Mariana Mortágua, disse à agência Lusa que os dados que revelam uma estagnação da economia mostram que "foi criada uma imagem fictícia da recuperação económica" pelo Governo PSD/CDS, considerando que o programa socialista marca uma ruptura com políticas de empobrecimento.

"Os números mostram claramente uma estagnação. (…) Isto permite-nos comparar o desempenho actual da economia com aquelas que foram promessas e uma descrição da realidade feita pelo anterior Governo do PSD/CDS em período de campanha eleitoral", considerou, acrescentando que foi criada "uma imagem fictícia da recuperação económica que não corresponde à realidade".

Questionada se o programa de Governo do PS - que esta semana é discutido na Assembleia da República - permite uma mudança de políticas, a deputada do BE afirmou que, apesar de não ser "a solução para todos os problemas", este "marca uma ruptura com as políticas de empobrecimento que foram seguidas até agora e dá de facto novas perspectivas na economia portuguesa".

Segundo Mariana Mortágua, o programa do PS tem elementos e medidas - nomeadamente algumas que resultam de negociações com o BE - que "permitem uma reposição mais rápida e mais acentuada de rendimentos aos trabalhadores e também um aumento do nível salarial e um apoio maior aos nãos trabalhadores", podendo esta injecção de rendimentos na economia "levar a uma recuperação económica mais rápida, mais acentuada".

"Foi-nos dito e repetido que a economia portuguesa estava num período de crescimento sustentado, com um ‘boom' de crescimento e que isso se devia às reformas e à prestação do Governo. E o que estamos a ver nestes dados económicos é que nem há crescimento sustentado da economia, nem há um ‘boom’ sustentado de crescimento, o que há é uma estagnação e picos de investimento que não são sustentados no tempo", descreveu.

Para a deputada do BE, "a economia portuguesa está numa armadilha da qual não está a conseguir sair com este tipo de políticas económicas que foram implementadas até agora".

"Olhar para estes dados e compreender que é preciso mudar a política económica e a forma como o país tem sido dirigido", defendeu, pedindo medidas que combatam o empobrecimento para reverter esta estagnação.