Antigo bombeiro voluntário fez o transplante mais extenso de cara
Enxerto incluiu orelhas, tubos auditivos e couro cabeludo. Cirurgia não deixou cicatrizes na cara.
Uma equipa do Centro Médico Langone da Universidade de Nova Iorque, nos Estados Unidos, realizou um transplante total da cara, do couro cabeludo, das orelhas e dos canais auditos a um antigo bombeiro voluntário. A intervenção foi apresentada como tendo sido o transplante de cara mais extenso de sempre até hoje.
Este não é o primeiro transplante total de cara, mas o professor e cirurgião Eduardo Rodriguez, que dirigiu a operação em Agosto, assegurou que vários elementos da intervenção são um avanço. Notavelmente, é a primeira vez que a cirurgia não produz nenhuma cicatriz ou irregularidade na cara (as cicatrizes estão no pescoço e no crânio), explicou o médico, numa conferência de imprensa esta segunda-feira.
O resultado foi obtido graças ao trabalho preparatório da operação, que consistiu em retirar uma quantidade importante do tecido do antigo bombeiro antes de lhe ser enxertada a nova cara, explicou Eduardo Rodriguez. A equipa transplantou igualmente fragmentos de ossos, e colocou placas e parafusos, para dar à cara um aspecto simétrico e regular. Os enxertos das orelhas e dos canais auditivos também foram estreias.
O cirurgião sublinhou que, neste caso, foram feitos progressos para gerir melhor a reacção imunitária do organismo, que terá de lidar agora com um corpo estranho. O doente, chamado Patrick Hardison, com 41 anos, deverá, ainda assim, ter de tomar medicamentos imunossupressores durante o resto da sua vida.
Em Setembro de 2001, quando estava a combater um incêndio num prédio no Mississípi, o bombeiro voluntário sofreu queimaduras na cara, no pescoço e no tronco. Como resultado das queimaduras, perdeu as orelhas, os lábios, grande parte do nariz, o cabelo e as pálpebras.
Um milhão de dólares
Três meses depois da operação, as fotografias de Patrick Hardison mostram uma cara sem cicatrizes aparentes e sem marcas evidentes, a não ser os olhos e as pálpebras que parecem inchados. As fotografias mostram ainda que o seu cabelo e a sua barba crescem agora de forma normal.
Ele está agora pronto para se alimentar “normalmente” e a sua fala, embora ainda seja difícil a pronunciação, “irá melhorar significativamente” nos próximos meses, afirmou o cirurgião. “Acabou de comer um kebab”, disse Eduardo Rodriguez, referindo-se ao doente, que não esteve presente na conferência de imprensa.
Durante um ano, mais de 150 pessoas organizaram e prepararam esta cirurgia. A intervenção durou 36 horas.
Patrick Hardison recebeu a cara de um homem de 26 anos que teve morte cerebral após um acidente de bicicleta em Brooklyn, em Julho.
A operação, estimada entre 850.000 e um milhão de dólares (entre 796.630 e 940.000 euros), foi apoiada por uma bolsa especial do Centro Médico Langone, referiu Eduardo Rodriguez.
O cirurgião disse que tinha informado Patrick Hardison e a sua família de que a intervenção tinha uma probabilidade de sucesso de 50%, embora a equipa contasse com uma probabilidade de 90%, explicou Eduardo Rodriguez.
O doente vai ainda ser operado em Janeiro e em Fevereiro para ajustar os tecidos ao redor dos olhos e da boca, referiu o cirurgião, que defendeu ainda que as técnicas de transplante estão hoje suficientemente avançadas para se começarem a operar feridos de guerra.
O primeiro enxerto de cara de sempre foi realizado há dez anos, em Novembro de 2005, em França, por uma equipa de Bernard Devauchelle, do centro hospitalar de Amiens, no departamento de Somme, no Norte de França. Isabelle Dinoire, de 38 anos, foi a primeira pessoa a receber um transplante de cara – ainda que parcial. Tinha sido desfigurada por um cão.
O primeiro transplante de cara total, com pálpebras e todo o sistema lacrimal, foi feito cinco anos depois, em Junho de 2010, também em França, no Hospital Henri Mondor de Créteil (Val-de-Marne), pela equipa de Laurent Lantieri.
Em 2012, Eduardo Rodriguez já tinha realizado com sucesso um transplante de cara integral a Richard Norris, um norte-americano da Virgínia, vítima de um acidente de caça, em 1997.
Em todo o mundo, fizeram-se já mais de 30 transplantes de cara.