Com pneus e solas de sapatos reciclados nasce uma cadeira inspirada em Jimi Hendrix
Quatro estudantes de Arquitectura em Coimbra querem ruas com mais cor e ganham Prémio Ibérico Larus Design. Hendrix Chair será apresentada em Madrid
É mais do que uma cadeira. A 11 de Setembro de 1970, perguntaram a Jimi Hendrix quais as coisas que gostaria de ver mudadas. Mais cor nas ruas, respondeu o guitarrista, cantor e compositor norte-americano. Quatro rapazes estudantes de Arquitectura na Universidade de Coimbra fazem-lhe a vontade 45 anos depois. Inspirados na frase de Hendrix, reciclaram materiais, pneus e solas de sapatos, criaram uma cadeira que se molda ao corpo, e ganharam o Prémio Ibérico Larus Design na categoria de projecto académico atribuído pela Larus, empresa de mobiliário urbano de Albergaria-a-Velha.
Rodrigo Melo, António Vale, José Almeida e Sebastião Ataíde assinam a Hendrix Chair que nasce para proporcionar momentos divertidos a quem se quer sentar ou deitar em ruas e praças. Esta cadeira funciona como um puff, adapta-se ao corpo, e a sua composição permite a estampagem que se quiser - colorida, geométrica, florida. Dá para sentar, para deitar, para partilhar o espaço com mais pessoas nos dois metros de diâmetro. Não é rija e não quer passar despercebida. “Nenhum banco em espaço público tem estas características”, adianta Rodrigo Melo, um dos autores. “Estas cadeiras podem, por exemplo, estar espalhadas por uma praça que tenha um edifício com valor patrimonial, permitindo uma perspectiva diferente a quem se senta”. Ou seja, contemplar monumentos de baixo para cima, sentados, deitados, sozinhos ou acompanhados. A ideia é colocar a arte ao serviço do espaço público para que todos possam tirar o máximo partido de locais ao ar livre.
A Hendrix Chair é composta por duas peças de aglomerados de borracha, reaproveitados de pneus e solas de sapatos e que lhe dão bastante flexibilidade. A ideia é essa. “São duas conchas, a de baixo dá a forma à cadeira e tem borracha mais grossa. A de cima, que encaixa na de baixo, tem borracha mais maleável que dá forma ao corpo”, explica.
A cadeira existe apenas no papel, mas o prémio, que valeu 500 euros e a oportunidade de participar na Bienal Iberoamericana de Design que se realiza em Madrid de 23 a 26 de Novembro, é um empurrão. Os quatro rapazes estão entusiasmados e o protótipo está numa fase inicial. “Estamos à procura de investimento para o molde de fabricação, o mais dispendioso de toda a fase de produção”, revela Rodrigo Melo.
A Talk Box de Ana Barbosa e António Cruz Lopes, arquitectos recém licenciados da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, já existe, nasceu no âmbito da Capital Europeia da Cultural – Guimarães 2012, inspira-se no papel das namoradeiras medievais nas casas e palácios da cidade, e ganhou o Prémio Ibérico Larus Design em equipamento lúdico. É uma caixa que permite tudo o que se quiser, feita em contraplacado marítimo que se pode pintar em qualquer cor, e que cabe em qualquer espaço. Estimular a interacção social é o principal objectivo.
Os dois arquitectos leram histórias do passado e adaptaram-nas ao design moderno. E assim nasceu um elemento icónico que se reinventa de forma contemporânea. António Cruz Lopes refere que a Talk Box tem inúmeras utilizações: espaço de leitura, conversas informais, reuniões, jogos de mesa, piqueniques, actividades culturais, conferências ao ar livre, ponto de descanso. O módulo, com 2,4 metros de altura, tem dois elos invertidos simétricos. “Cada elo tem um postigo, uma mesa e um banco que colocados frente a frente passam a dois postigos, duas mesas e dois bancos”, explica. Uma caixa com elementos simples que podem ser rebatidos e que possibilita que mais peças sejam acopladas. Uma caixa para conversas que se molda ao que se quiser fazer.
Aranha do arquitecto José Paulo Garrido, do Porto Urban Mob, foi premiado na categoria de mobiliário urbano. Trata-se de uma linha composta por bancos e uma floreira. “Quando desenhei estes objectos via-se muito mobiliário em madeira que se degrada bastante no exterior. Decidi reagir a esse paradigma e voltar aos materiais modernistas, ao betão e ao aço”. “É uma linha funcional, durável e com um desenho delicado”, acrescenta. Quatro varões de aço galvanizado elevam assentos e a linha Aranha pode ser alterada ao sabor do tempo e das vontades. Pode ser para uma pessoa ou para multidões. Para espaços públicos ou privados.
Hotel itinerante e banco biblioteca
O prémio de design da Larus atribuiu ainda três menções honrosas. PlayLand é um anfiteatro informal para espectáculos e concertos para os mais pequenos, uma torre cilíndrica para crianças explorarem e ainda um pequeno pavilhão em formato de túnel. É insuflável e muito colorido, feito com bóias de praia, construído a pensar no imaginário infantil. O projecto da Likearchitects, desenvolvido para o espaço público de Paredes de Coura, assinado por Diogo Aguiar, João Jesus e Teresa Otto, ganhou uma menção honrosa em equipamento lúdico.
Ecotri é um micro-hotel, itinerante e que, por isso, pode ser colocado em qualquer lado, inclusive em espaço urbanos emblemáticos e abandonados, e consoante a época do ano. A ideia dos alunos Luís Guernes, Luís Pacual e Rocío Cuadra, do Instituto Europeu de Design de Madrid, chamou a atenção e ganhou uma menção honrosa na categoria de projecto académico. A menção honrosa em equipamento lúdico também foi para Espanha, ou melhor, para um banco versátil que pode ser uma biblioteca ao ar livre com peças construídas com cascos de madeira de embarcações tradicionais. Os livros e revistas podem ser colocados debaixo dos assentos e o banco pode ainda servir de palco para representações. Este Banco Cultural do Atelier Santos Y Mera Arquitectos, assinado por José Carlos Rodríguez, foi assim distinguido pelo júri constituído por Glória Escribano, coordenadora-geral da Bienal Iberoamericana de Design, Lígia Lopes, designer e professora na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Pedro Feduchi, arquitecto, e Pedro Silva Dias, professor na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. Francisco Providência, designer e professor na Universidade de Aveiro, presidiu ao júri.
Desde 2011 que o Grupo Larus, que detém as marcas Larus e Alba, quer valorizar trabalhos com impacto social e no urbanismo das cidades, mesmo que lhe possam fazer concorrência. Os objectivos são claros. “Promover bons exemplos de design urbano, afirmar os seus autores, divulgar essas experiências”, refere Pedro Martins Pereira, presidente da Larus “O design é uma forma de poder criar valor, criar novos conceitos, novas ideias, novos produtos”, acrescenta.
Mas este prémio de design promovido e sustentado por uma empresa ligada ao sector, e que tem no currículo cinco prémios Red Dot, pode estender a passadeira vermelha a produtos que lhe façam frente. “É uma questão assumida por nós e isso acontece. É uma imagem que nos diferencia, é uma forma diferente de estar, e que faz parte do nosso ADN”, comenta o empresário que enquadra o prémio na “atitude solidária”, de responsabilidade social”, da Larus.