Mulheres portuguesas com piores indicadores de saúde do que os homens

Resultados do Inquérito Nacional de Saúde do Instituto Nacional de Estatística, relativos a 2014, mostram que doenças como a depressão, a hipertensão e as dores nas costas afectam mais as mulheres.

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A depressão afecta mais mulheres do que homens Miguel Madeira

Obesidade, depressão, consumo de medicamentos e doenças crónicas como a hipertensão, as dores lombares ou as alergias. Praticamente todos os indicadores de saúde publicados nesta quarta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) são encabeçados pelas mulheres, em alguns casos pelo valor global, noutros pelo aumento na última década. Aliás, logo no início, o Inquérito Nacional de Saúde destaca que “aumento da obesidade foi o mais expressivo, tendo afectado principalmente as mulheres e a população com idades entre 45 e 74 anos”.

Os dados do INE pretendem caracterizar as pessoas com mais de 15 anos e que vivem em Portugal. Para isso agregam-se indicadores sobre o estado de saúde, cuidados de saúde e determinantes de saúde. As conclusões indicam que cerca de um terço das pessoas com mais de 15 anos apresentam dores lombares crónicas. Aliás, no ano passado, esta foi a “doença crónica referida com maior frequência pela população residente com 15 ou mais anos (32,9%), sendo também elevadas as proporções de pessoas que referiram ter hipertensão arterial (25,3%), dores cervicais ou outros problemas crónicos no pescoço e artrose (24,1% nos dois casos)”.

O trabalho, feito em parceria com o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, distingue as proporções destas doenças entre homens e mulheres e percebe-se que, em quase todas, é no sexo feminino que a taxa é mais elevada. Por exemplo, 39,7% das mulheres referiram dores lombares crónicas, contra 25,2% dos homens. A hipertensão arterial também é mais comum nas mulheres (28,5%) do que nos homens (21,6%).

“A análise dos resultados evidencia que, comparativamente aos homens, as mulheres são significativamente mais afectadas” pela esmagadora maioria das patologias, destaca o inquérito.

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O mesmo acontece nas dores cervicais e problemas de pescoço, nas artroses, alergias, incontinência urinária, bronquites e doenças pulmonares, asma, problemas renais, doenças coronárias ou angina de peito. As excepções estão na diabetes, com os homens a chegarem aos 9,4% e as mulheres a ficarem ligeiramente abaixo, nos 9,2%. No caso do acidente vascular cerebral o valor é o mesmo, independentemente do sexo (1,9%), e no enfarte as mulheres ficam abaixo dos homens (1,6% contra 1,9%), assim como na cirrose hepática (0,5% contra 0,8%).

No entanto, o INE alerta que estes não são problemas exclusivos das mulheres e têm vindo a aumentar nos últimos dez anos: “A comparação dos resultados para as doenças crónicas recolhidas nos dois inquéritos (2005/2006 e 2014) evidencia o aumento da percentagem de população afectada por estas doenças, com destaque para o aumento da percentagem de pessoas que referiram sofrer de problemas renais, de 1,8% para 4,6%”. Em linha com os valores de há dez anos estão alguns consumos, como o tabaco e o álcool – que continuam a ser práticas mais comuns nos homens.

Um país a engordar
De acordo com os dados do INE, em 2014 mais de metade da população com mais de 18 anos tinha excesso de peso ou obesidade. O valor ficou-se nos 52,8%, quando há dez anos era de 50,9%. São sobretudo as mulheres que estão a pesar neste aumento, diz o inquérito. Em 2005 existiam 16% de mulheres com obesidade e 31,2% com excesso de peso. No ano passado os valores subiram para 17,5% e 31,6%. Nos homens, a taxa de obesidade subiu de 14,3% para 15,1%. Já o excesso de peso passou de 40,6% para 42%. Quanto a diferenças por idades, entre os 45 e os 74 anos encontram-se os dados mais preocupantes relacionados com a obesidade, enquanto o excesso de peso está muito concentrado entre os 65 e os 74 anos.

O inquérito foca-se especificamente na depressão e conclui que a doença afectava, no ano passado, 25,4% das pessoas com 15 ou mais anos. Em 16,4% dos casos, os sintomas foram descritos como ligeiros e em 5,8% como moderados. No entanto, 3,2% das pessoas disseram ter sintomas fortes ou mesmo muito fortes.

“Para estes sintomas era muito acentuada a diferença entre homens (16,0%) e mulheres (33,7%), particularmente nos de intensidade ligeira”, lê-se no inquérito.

Contudo, o sexo não é a única variável com peso na depressão. “A intensidade de sintomas depressivos aumentava com a idade, sendo a população reformada a mais afectada pela depressão, qualquer que seja a intensidade considerada. No total, 36,5% da população reformada apresentava sintomas de depressão, face a 18,5% da população empregada.” Nos desempregados, os valores encontrados também são superiores aos da restante população com trabalho.

90% dos idosos medicados
O INE avaliou, ainda, o consumo de medicamentos – com ou sem prescrição médica – e percebeu que 90% dos idosos consumiam fármacos receitados por um clínico. “Cerca de 56% da população com 15 ou mais anos consumiu medicamentos nas duas semanas anteriores à entrevista que foram prescritos por um/a médico/a, com proporções que aumentam de forma acentuada com a idade”, explica-se, adiantando-se que o consumo sem receita é mais comum nas camadas mais jovens da população. Uma vez mais, o consumo de medicamentos “é maior na população do sexo feminino: 62,7%, face a 48,6% no caso dos homens”. Comparativamente com há dez anos, há menos pessoas abaixo dos 55 anos a tomarem medicamentos, mas há mais acima dessa idade.

Quanto à vacina da gripe, quase metade dos idosos disseram que tinham tomado esta vacina no Inverno anterior. As pessoas com mais de 65 anos podem receber a vacina gratuitamente nos centros de saúde por serem consideradas um grupo de risco para a gripe sazonal. O trabalho olhou também para dados de exames. Por exemplo, mais de um terço das pessoas com mais de 50 anos já fez pelo menos uma colonoscopia, sendo o valor dos homens mais elevado. Também 85% das mulheres entre os 50 e os 60 anos disseram ter feito uma mamografia nos últimos dois anos. O valor subiu consideravelmente, já que em 2014 era de pouco mais de 50%.

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