Tusk pede à Alemanha que se empenhe na protecção das fronteiras externas da UE
Antes de encontro com Merkel, presidente do Conselho Europeu deixa claras divergências com Berlim sobre gestão da actual crise de refugiados
Donald Tusk, presidente do Conselho Europeu e antigo primeiro-ministro polaco, quer que a Alemanha adopte uma política mais restritiva em relação aos refugiados e se comprometa com a defesa das fronteiras externas da UE – uma posição que torna mais clara a distância que o separa da chanceler alemã sobre as prioridades da acção europeia face à actual crise.
Em entrevista ao jornal Die Welt am Sonntag, horas antes de um encontro com Angela Merkel, Tusk elogiou o protagonismo assumido por Berlim, que está a acolher a fatia de leão dos quase 800 mil refugiados que desde o início do ano chegaram à Europa por mar, sobretudo à Grécia e Itália. Mas deu a entender, uma vez mais, que a promessa feita por Merkel de não fechar as portas a quem chega ao país fugido da guerra está a criar problemas aos restantes Estados.
“Eu compreendo que, por razões históricas, a Alemanha tenha dificuldade em adoptar um regime mais restritivo nas suas fronteiras. Mas para a Alemanha, a responsabilidade de liderar também significa controlar as fronteiras externas europeias, se necessário de forma energética através de uma unidade pan-europeia”, defendeu o dirigente europeu, aproximando-se da posição que tem sido assumida pelos países de Leste.
Já em Outubro, Tusk tinha classificado de “ingénuo” o debate sobre a redistribuição entre os Estados-membros dos refugiados que já estão na Europa, sublinhando que se nada for feito para reforçar as fronteiras externas os números actuais de chegadas (já em valores recorde) vão continuar a aumentar. Palavras que ecoam as preocupações dos países menos dispostos a acolher as quotas de refugiados que lhes foram atribuídas ao abrigo do plano europeu. É o caso da Hungria, que tem insistido na criação de uma força para travar a chegada de mais barcos à Grécia, mas também da Polónia, onde os nacionalistas eurocépticos do Partido Lei e Justiça (PiS) acabam de chegar ao governo, o que promete agudizar a oposição de Varsóvia ao acolhimento dos refugiados.
Merkel, com o apoio do presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, insiste, no entanto, que mais do que fechar fronteiras – uma hipótese que vários governos avisam só é praticável se a UE estiver disposta a usar a força para travar a chegada dos refugiados – a actual crise exige da Europa “solidariedade” e uma “distribuição mais justa de esforços” entre todos os Estados.
Sob pressão dos aliados e de uma opinião pública cada vez mais céptica da capacidade do país para receber tantos refugiados – os últimos números referem 758 mil chegadas desde o início do ano –, a chanceler alemã diz que é urgente pôr em marcha o plano acordado há mais de um mês entre os Vinte e Oito para a distribuição de 160 mil refugiados e que ninguém se pode furtar a este esforço. “Precisamos de falar uma e outra vez sobre o facto de que a forma como lidamos com estes refugiados é uma questão comum a todos os Estados-membros, pelo menos entre aqueles que fazem parte do acordo [de livre circulação] de Schengen”, afirmou Merkel, sábado, no mesmo dia em que cinco mil pessoas se manifestaram em Berlim contra o acolhimento de mais refugiados.
A questão vai voltar a estar em cima da mesa na cimeira informal europeia de quinta-feira, em Malta, na véspera de um encontro entre os líderes da UE e os seus parceiros africanos para discutir formas de limitar o actual fluxo migratório.