Legionella: autoridades evitaram consequências “piores”
Especialista da Direcção-Geral de Saúde considera que a taxa de mortalidade registada em Vila Franca de Xira há um ano foi baixa, se comparada com outros surtos de intensidade semelhante.
Uma especialista da Direcção-Geral de Saúde (DGS) defendeu esta quinta-feira que as consequências do surto de legionella de Vila Franca de Xira em 2014, que vitimou 12 pessoas, só não foram mais devastadoras devido à rápida acção das autoridades. Segundo Teresa Marques, da DGS, apesar de terem sido identificados durante o surto 403 casos de possíveis doentes - dos quais se confirmaram 377 -, a taxa de mortalidade registada foi baixa, se comparada com outros surtos de intensidade semelhante, o que se deveu, em parte, à acção precoce das autoridades.
"Houve vários factores coincidentes que fizeram com que houvesse um número elevado de doentes, apesar de termos atuado precocemente e de a taxa de mortalidade ter sido baixa", afirmou aquela responsável, recordando que, ao segundo dia da investigação sobre a origem do surto, foram encerradas as torres de refrigeração que depois se confirmou serem a fonte de disseminação da doença. A coordenadora do Programa de Vigilância Epidemiológica Integrada da Doença dos Legionários falava durante o 31.º Congresso da Sociedade Portuguesa de Pneumologia, que decorre entre esta quinta-feira e sábado em Albufeira, onde fez uma apresentação subordinada ao tema "Surto de doença dos legionários de Vila Franca de Xira: a acção de uma equipa multidisciplinar".
O surto de legionella teve origem nas torres de refrigeração da empresa Adubos de Portugal, na freguesia de Forte da Casa, em Vila Franca de Xira, tendo afectado sobretudo homens entre os 50 e 60 anos, um padrão comum para surtos daquela doença.
Teresa Marques sublinhou que o surto foi originado por uma "coincidência de condições meteorológicas, ambientais e microbiológicas" favoráveis à propagação da doença, nomeadamente o facto de terem estado dias de muito calor, para a época, de o vento predominante ter sido de nordeste e de a humidade relativa ter estado muito alta. Além disso, a bactéria tinha "características particulares de virulência" e houve ainda a ocorrência de ventos do norte de África que transportavam areia, sendo que os grãos de areia "podem servir de núcleo às gotículas" que propagam a doença, explicou.
O momento em que a equipa que investigou o caso percebeu que o surto não tinha origem na rede pública de água deu-se quando foi identificada uma doente que estava acamada e que era lavada na cama, logo, não poderia ter sido infectada através da inalação de água, tendo-se concluído que as gotículas foram transmitidas por via aérea, devido às janelas do quarto terem estado abertas, recordou. Segundo Teresa Marques, as primeiras pessoas a iniciarem sintomas foram dois trabalhadores de uma empresa do norte do país que tinham ido fazer a limpeza das torres, sendo que um deles morreu.
Após o surto, foi elaborado um relatório que recomendava a criação de legislação específica que enquadrasse a actuação dos responsáveis por este tipo de equipamentos, mas, questionada pela Lusa, aquela responsável disse desconhecer se já teria sido criada alguma lei nesse sentido, remetendo a questão para o ministério do Ambiente. O surto, o segundo com maior número de casos a nível mundial, teve início a 7 de Novembro de 2014 e foi considerado extinto a 21 de Novembro, tendo o ministro da Saúde na altura, Paulo Macedo, realçado a resposta dos hospitais que terão tratado mais de 300 pneumonias.
A doença do legionário, provocada pela bactéria 'Legionella pneumophila', contrai-se por inalação de gotículas de vapor de água contaminada (aerossóis) de dimensões tão pequenas que transportam a bactéria para os pulmões, depositando-a nos alvéolos pulmonares.