Comissão prevê impacto económico positivo da chegada de três milhões de refugiados
Bruxelas avisa que o cenário ainda é de grande incerteza, mas afirma que os dados “desafiam alguns equívocos sobre a imigração”
Na primeira estimativa oficial do impacto económico potencial do recente fluxo de refugiados que se verifica na União Europeia, a Comissão chegou a resultados que “desafiam alguns equívocos sobre a imigração” e que mostram que a deterioração das contas públicas pode ser marginal e que o valor do PIB até pode sair moderadamente beneficiado.
A análise feita pelos técnicos do executivo europeu começa por assinalar que quaisquer estimativas sobre este tema estão nesta fase ainda bastante afectada pela incerteza, uma vez que dependem de diversos factores, como o número de refugiados que acabará por entrar na Europa na sequência da actual crise humanitária, das características e qualificações profissionais dos novos migrantes e da capacidade dos países que os recebem para absorver este acréscimo de froça de trabalho.
Anda assim, apesar da incerteza, a Comissão arriscou fazer as suas estimativas. Assume em primeiro lugar que até 2017 poderão entrar na Europa três milhões de refugiados, o que significa um aumento da população residente na União Europeia de 0,4%,
Perante isto, e olhando para diferentes cenários em relação às qualificações da mão de obra imigrada, o estudo estima que se registe um crescimento adicional situado entre 0,14% e 0,21% do PIB logo em 2016, reforçando-se ligeiramente ao longo dos anos seguintes. O efeito positivo no crescimento deve-se, no curto prazo, à despesa pública realizada e, no médio prazo, ao reforço da oferta de mão-de-obra.
“Assistiremos a um impacto económico fraco, mas será positivo para a UE como um todo”, afirmou o comissário europeu para os assuntos económicos, Pierre Moscovici, assinalando contudo que o impacto económico não será “espontâneo”. “É preciso os Estados membros fazerem um esforço”, disse, salientando especialmente a necessidade de cada país estar preparado para abrir os seus mercados de trabalho. Para Moscovici, há no entanto uma certeza: os resultados “desafiam alguns equívocos sobre a imigração”.
A Comissão publicou ainda uma análise a um país em particular: a Alemanha. Aí, por causa do facto de ser o país para onde mais refugiados se pretendem dirigir e pelas suas próprias características demográficas, a maior economia europeia apresenta estimativas de impacto económico bastante mais positivas do que a média. Em 2016, o crescimento adicional do PIB vai de 0,31% a 0,43% do PIB em 2016, podendo chegar aos 0,72% em 2020.
Mas em relação às finanças públicas, será que o aumento de despesa exigida aos Estados poderia desequilibrar as contas? A resposta da Comissão é que, em média, se deverá sentir um agravamento do défice, mas marginal.
Em 2016, a estimativa é de que, por causa dos refugiados, o défice seja em 2016 entre 0,04% e 0,07% maior. A médio prazo, à medida que o impacto positivo na economia se fortalece, o efeito negativo nas contas dilui-se, podendo mesmo passar a ser positivo.