Em Novembro, Lisboa desassossega outra vez

Nesta edição, os Dias do Desassossego procuram pensar o acto de ler e perceber as diferentes formas de como se pode ler. A iniciativa tem início a 16 de Novembro, dia em que Saramago faria 93 anos, e termina a 30, dia em que passam 80 anos da morte de Fernando Pessoa.

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Rui Gaudêncio

Os Dias do Desassossego estão de volta a Lisboa. Entre 16 e 30 de Novembro, a Casa Fernando Pessoa e a Fundação José Saramago unem-se para a 3.ª edição da iniciativa, em que a literatura se desassossega e entra em diálogo com outras linguagens artísticas como a música, o cinema e até a arte urbana.

“Esta edição, mais do que ser sobre autores, é sobre o acto de ler”, disse Clara Riso, directora da Casa Fernando Pessoa. Nesta edição, cujo programa foi apresentado na semana passada e pela primeira vez se estende ao longo de duas semanas, a organização procura pensar o acto de ler e perceber as diferentes formas de como se pode ler. A iniciativa tem início a 16 de Novembro, dia em que Saramago faria 93 anos, e termina a 30 de Novembro, dia em que passam 80 anos da morte de Fernando Pessoa.

Para assinalar as efemérides, os Dias do Desassossego propõem, no dia 16, três momentos que decorrem na Fundação José Saramago com entrada livre. Destaque, por exemplo, para a actividade em que, às 11h30, serão apresentadas as bases da Declaração dos Deveres Humanos, uma proposta lançada por Saramago no discurso de agradecimento do Prémio Nobel, em 1998, que está a ser desenvolvida por académicos e pensadores no México. No dia 30, entre outras propostas, celebra-se Fernando Pessoa com Ode Marítima, uma encenação de João Grosso, no São Luiz Teatro Municipal.

O programa inclui três actividades que, como explica a organização, têm uma “temporalidade diferente”- a ideia é que se desenvolvam ao longo das duas semanas do evento e que sejam apresentadas no final. Deste leque fazem parte a “Oficina do Desassossego”, um trabalho com três escolas lisboetas, o “Desassossego Sussurrado”, actividade em que Miguel Horta trabalhará com utentes do Hospital Júlio de Matos para criar poemas e quebrar barreiras, e “Pessoa e Saramago nas Ruas de Lisboa”, em que um conjunto de artistas de arte urbana vão criar um trabalho na cidade a partir da obra dos dois autores.

Para comprovar que literatura e música têm tudo para se dar bem, o programa apresenta três momentos musicais, dos quais se destaca, no dia 18, às 21h, A Biblioteca dos Músicos, um concerto do Mário Laginha Trio construído a partir das leituras dos membros do grupo - Mário Laginha (piano), Bernardo Moreira (contrabaixo) e Alexandre Frazão (bateria) - e que vai apresentar duas peças inéditas dedicadas a José Saramago e Fernando Pessoa. Para ver e ouvir no Pequeno Auditório do Centro Cultural de Belém, com entrada a 7.5 €.

Entre os dias 19 e 21, a organização junta-se ao projecto Falso Movimento: Estudos sobre Escrita e Cinema, do Centro de Estudos Comparatistas da Faculdade de Letras de Lisboa, e leva ao Cinema Monumental o ciclo “Inadaptações: Filmes com Livros” para mostrar o que acontece quando a literatura invade o cinema

A programação continua com debates, sob o mote lançado por Hélia Correia ao ganhar o prémio Camões: “Se a literatura salva? Não, não salva. Mas se ela se extinguir, extingue-se tudo.” Em duas mesas-redondas, vai-se procurar responder à pergunta da escritora com base na experiência de leitura dos intervenientes, leitores assíduos. A 20 de Novembro, às 18h30, o jornalista Pedro Santos Guerreiro convida Tiago Rodrigues e António Mega Ferreira para a primeira mesa-redonda, que se realiza na Fundação José Saramago. A 27 de Novembro, à mesma hora, terá lugar a segunda mesa-redonda, na Casa Fernando Pessoa, moderada pelo jornalista Luís Caetano e com a participação de Laborinho Lúcio e Gabriela Canavilhas.

E porque a literatura é feita de caminhos, o programa inclui dois "Passeios Literários" entre as casas de autor da capital. Na manhã de dia 21, às 10h, tempo para palmear a Lisboa de Fernando Pessoa ao som das suas palavras, com visitas a ruas, cafés e locais onde o poeta habitou. Dia 28, às 14h, é a vez de José Saramago – serão visitados os locais que integram O Ano da Morte de Ricardo Reis, acompanhados da leitura de excertos do romance.

Para fechar a programação, a 29 de Novembro o Largo de São Carlos é o cenário escolhido para a leitura de palavras de almas inquietas como Cesário Verde e Almeida Garrett, para além dos habituais Fernando Pessoa e José Saramago. A dirigir a actividade estarão nomes como Carla Bolito, Maria João Vicente e Marcello Urgeghe.

Dias do Desassossego é uma iniciativa que, como explicaram Clara Riso e Sérgio Machado Letria, director da Fundação José Saramago, quer “promover a leitura” e a capacidade que os livros têm de fazer os leitores pensar. As duas instituições, que têm trabalhado juntas desde o ano passado com o objectivo de “cruzar os públicos das duas casas de autores”, formalizaram um acordo em Março deste ano no sentido de desenvolver acções conjuntas.

Sérgio Machado Letria sublinhou que foi essa parceria que tornou possível o programa desta edição, com um orçamento que “ronda os 20 mil euros”.

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