Jerónimo: "Foi o pior discurso de um Presidente da República desde 1974"
O líder do PCP acusa Presidente da República de ser "tutor do PSD" e poder vir a ser responsável por "longos meses de instabilidade". Mas quase nada avançou sobre a forma, o prazo e o conteúdo do acordo com o PS, que disse apenas "estar bem encaminhado".
Jerónimo de Sousa foi este sábado à noite à TVI garantir que o PCP dá garantias ao PS de que pode formar Governo e viabilizará o programa socialista no Parlamento, mas nada disse sobre a forma, o conteúdo ou o prazo do acordo com o PS, que afirmou apenas "estar bem encaminhado". Mas assertivo foi o líder comunista em relação ao discurso de Cavaco Silva na noite de quinta-feira: "Foi o pior discurso de um Presidente da República desde 1974".
Em seu entender, o Chefe de Estado assumiu "uma postura de arrogância, discriminatória, em que procura ser tutor do PSD, invoca argumentos inaceitáveis, como se fossem os mercados e instituições estrangeiras que determinam o Governo de Portugal". Considerando que Cavaco Silva está a "assumir de forma rotunda" o contrário daquilo por que "sempre pugnou", Jerónimo alertou para "a instabilidade que seria estar meses a fio com um governo de gestão" e avisou: "Se o Presidente da República tomar essa opção, terá que assumir as consequências".
Mas quando questionado por Judite de Sousa sobre as garantias de estabilidade que a alternativa de esquerda poderá dar, o secretário-geral do PCP foi evasivo e repetiu aquilo a que o próprio chamou "a cassete": "Nós afirmamos que o PS tem condições de formar governo, assumir funções a aprovar o seu programa no Parlamento". E logo aí sublinhou que isso não é um cheque em branco: "Isso não é independente de conteúdos políticos concretos, como salários, reformas e pensões".
Foi o mais longe que admitiu ir sobre esse acordo com o PS, que diz estar "bem encaminhado". Questionado por várias vezes, recusou-se a dizer se era um acordo para quatro anos ou sequer para apenas o primeiro Orçamento do Estado, a que nunca se referiu. Nada disse sobre o conteúdo das negociações, porque "seria desleal estarmos aqui a avançar o resultado de reuniões à revelia do PS". E contornou a questão sobre uma eventual participação no Governo, afirmando apenas que, "mesmo neste processo, o PCP não anda à procura de lugares de poder nem favores de ninguém", mas sim de "políticas para os trabalhadores e para o povo".
Afirmando que o PCP está "de boa-fé" neste processo, sublinhou que o compromisso dos comunistas é com políticas concretas: "Encararemos sempre como boas medidas e políticas para os trabalhadores, reformados e pensionistas, pequenos e médios empresários". Noutra formulação: "O que o PCP está a discutir são as grandes questões que interessam aos portugueses". Mas não - "ó Judite, por amor à santa" -, o PCP "não abdica de coisa nenhuma, da sua natureza nem identidade". Só que o que está em cima da mesa com o PS "não é o marxismo-leninismo, mas uma solução de governo".