Um terço dos portugueses consome notícias online mas mais de metade mantém-se fiel à TV
Relatório revela que o Facebook lidera entre as redes sociais consultadas para ver informação e que há ainda uma preferência pelas versões tradicionais na altura de consumir notícias.
Os portugueses acedem à Internet para saber o que se passa no mundo mas é na televisão que a maioria procura as notícias do dia. Naquele que é o primeiro relatório do Reuters Institute for the Study of Journalism (RISJ), da Universidade de Oxford, sobre o consumo de notícias em Portugal, as conclusões apontam para hábitos que passam pelo recurso à Internet, incluindo as redes sociais, e pelo uso preferencial do computador para consumir informação, ainda que muitos portugueses já usem o smartphone.
O estudo sobre Portugal teve como amostra 1086 utilizadores de Internet, questionados sobre os seus hábitos de consumo de notícias. Sobre o meio mais utilizado para aceder a informação noticiosa, o relatório do RISJ, patrocinado pelo Google e que, em Portugal, teve como parceiros o OberCom - Observatório da Comunicação e o Centro de Investigação e Estudos de Sociologia-Instituto Universitário de Lisboa, adianta que 55% dos inquiridos indicaram a televisão e 33% a Internet, incluindo as redes sociais. A rádio e os jornais impressos foram ambos apontados por 4% da amostra.
O coordenador da equipa OberCom/CIES-IUL, Gustavo Cardoso, indica ao PÚBLICO ainda que 13,5% dos portugueses “dizem que os noticiários televisivos são a sua principal fonte de notícias e só 3,9% [referem] que é a imprensa escrita”. O coordenador observa que a televisão “ganhou um papel que dificilmente será rapidamente substituído”, esperando-se que venham a surgir “novas formas de consumir televisão através da Internet e que essa mestiçagem tecnológica produza também novos hábitos do relacionamento com as notícias”.
Na Internet, a utilização das redes sociais para estar a par das notícias também se mostrou um hábito. O Facebook é o mais usado (67%), bem distante da segunda opção, o YouTube (26%), bem como do Google + e do Twitter (3%).
Com base em dados reunidos pela equipa OberCom/CIES-IUL, no âmbito do inquérito Sociedade em Rede realizado nos últimos anos, Gustavo Cardoso indica que “as taxas de utilização em Portugal de redes sociais tendem a ser mais altas, para fins gerais (e não apenas notícias), sendo o entretenimento e as relações interpessoais dimensões de utilização muito expressivas na presença nas redes sociais”. No caso do Facebook, o coordenador sublinha que mais de 90% dos portugueses ouvidos para o inquérito Sociedade em Rede usam a rede social para fins gerais, uma percentagem acima dos 67% que a procuram para notícias.
“Todos os estudos mostram que as notícias são vistas em telejornais, seja nas televisões ou nos ecrãs de PC ou tablet, e que são lidas no Facebook. O que parece surgir cada vez mais é uma conjugação entre o valor da marca noticiosa, que continua a ser valorizado, com a facilidade de aceder à notícia - no Facebook, no SAPO, no Notícias ao Minuto, no Google, tudo espaços online onde as notícias vão parar. Há, portanto, mudanças de formas de consumo enquanto outras se mantêm”, argumenta Gustavo Cardoso.
O relatório do RISJ concluiu ainda que quanto aos suportes escolhidos para ver e ler informação online, 78% das pessoas questionadas usam o computador, 10 pontos percentuais acima da média total dos 18 países incluídos no relatório do RISJ. Os smartphones (34%) e os tablets (21%) seguem-se nas preferências.
À pergunta sobre se acedeu mais a produtos noticiosos nascidos de forma tradicional ou aos que só existem em formato digital, 78% mostraram-se mais interessados pelos conteúdos noticiosos criados no mundo offline. A marca nascida online mais repetida pelos inquiridos portugueses para aceder a notícias foi o SAPO (26%), um agregador de notícias, seguido do site Notícias ao Minuto (23%). Do lado internacional, as escolhas recaíram sobre o Google News (17%).
Portugal distancia-se mais uma vez da média dos 18 países estudados quando se fala sobre o pagamento de conteúdos de informação noticiosa disponíveis na Internet. Apenas 7% indicaram que o fazem – uma percentagem semelhante aos consumidores de notícias alemães ou britânicos -, quando a média dos países incluídos no relatório é de 11%.
O RISJ questionou ainda os consumidores de notícias se confiam no jornalismo feito em português. Uma maioria de 66% respondeu que confia na maioria das notícias, na maior parte do tempo. Gustavo Cardoso lembra que em anteriores inquéritos Sociedade em Rede concluiu-se ainda que os portugueses quando questionados sobre a confiança em notícias em formato tradicional e online, mesmo quando têm como fonte a mesma marca, “tendem sempre a confiar mais” na versão tradicional.
Portugal foi um dos seis países que pela primeira vez foram analisados quanto a esta temática pelo Reuters Institute for the Study of Journalism. Depois de em Junho o instituto ter revelado dados sobre 12 países, agora mostra a realidade na Áustria, República Checa, Holanda, Polónia e Turquia, além de Portugal. Num curto resumo das conclusões desta segunda fase do trabalho do RISJ, o seu director, David Levy, afirma que estes países registam “altos níveis de penetração móvel e de Internet” e que “as organizações de media precisam de entender o impacto desta tecnologia sobre a forma como o público consome notícias”.