Portas: "Não podemos voltar a ter governos de seis meses"

Líder do CDS e vice-primeiro-ministro assegurou, na TVI, não haver nenhuma surpresa nas contas públicas. E disse estar disponível para abdicar de ser o número dois da coligação caso o PS viesse a integrar o governo.

Foto
Bruno Lisita

O líder do CDS-PP, Paulo Portas, dramatizou na noite desta segunda-feira um cenário de um possível impasse político — “não podemos voltar a ter governos de seis meses” —, em que se discute a "legitimidade" de um Governo e a sua viabilidade: "Seria gravíssimo." O ainda vice-primeiro-ministro garantiu não haver nenhum problema nas contas públicas e acusou o secretário-geral do PS de "falta de sentido de Estado" ao fazer "insinuações" sobre os dados financeiros. Portas disse ainda estar disponível para abdicar de ser o número dois da coligação, caso o PS viesse a integrar um governo com o PSD.

Em entrevista esta noite à TVI, o líder do CDS-PP reafirmou a legitimidade da coligação PSD/CDS para governar e respondeu com alguma dramatização sobre a possibilidade de um cenário de um Governo e um Parlamento paralisados durante meses.

“Seria gravíssimo. Eu contribuirei para minimizar esse risco, como a coligação tem contribuído. É muito grave o risco que vamos correr depois de um enorme esforço feito pela generalidade dos portugueses, entrar num período de impasse político onde se discute a legitimidade de um Governo, onde se discute a viabilidade de governar, a menos que haja sentido de responsabilidade entre a coligação — que tem tido — e o PS, que tem deixado muito a desejar”, afirmou.

Portas reiterou os argumentos que têm sido usados pelos dirigentes da coligação, sublinhando que deve ser a aliança PSD/CDS chamada a formar um governo pela expressão dos votos dada nas urnas. “Enquanto nós dizemos que a coligação ganhou sem maioria, o que significa compromissos com o PS — 80% dos deputados são pró-euro —, o PS diz que estes resultados impedem a coligação de governar. Temos de saber aceitar os resultados. As pessoas não votaram num impasse crónico”, afirmou. O líder dos democratas-cristãos deu nota, aliás, do que considera ser a preocupação dos eleitores com a actual situação política e do “comportamento inesperado” do secretário-geral do PS, António Costa.

Criticando todo o processo negocial conduzido pelo PS com a coligação, Portas atacou Costa por ter dois pesos e duas medidas à direita e à esquerda. Como exemplo, referiu a questão da educação de adultos, que o PS considerou uma prioridade. “O problema da educação para adultos é um obstáculo para [o PS] não chegar a acordo [com a coligação] e o euro e a NATO já não são para os partidos à esquerda?”, questionou.

Num recado para dentro do PS, Portas disse que Costa “desviou o eixo central” do partido “muito para a sua esquerda”. E dramatizou a aliança com o PCP e com o BE, ao considerar que representam “soluções precárias” e que estão em “competição” um com o outro. “O que não pode é ter uma discussão sobre se o Governo dura seis semanas ou seis meses”, disse.

Essa ideia de instabilidade viria a ser retomada noutro ponto da entrevista em que Portas acenou com o disparar do défice. “O que está em causa é muito sério. Não podemos voltar a governos de seis meses. Não podemos, no dia 1 de Janeiro, fazer um caminho não para nos livrarmos do défice excessivo, mas para voltarmos outra vez ao défice exagerado”, afirmou, criticando o PCP e o Bloco por “fazerem de conta que, para se entenderem, não falam do euro, da dívida, da Europa ou da NATO”.

Já da parte da coligação, Portas reafirmou a inteira disponibilidade para chegar a um entendimento com os socialistas, interpretando como sendo essa a vontade dos eleitores. Uma disponibilidade que chega ao ponto de o próprio admitir vir a abdicar de ser vice-primeiro-ministro caso o PS viesse a integrar um governo liderado por Passos Coelho, cenário que Costa já rejeitou esta segunda-feira. “Se eu tivesse que deixar de ser número dois, deixaria”, afirmou o líder do CDS.

Relativamente às contas públicas, Portas acusou Costa de ter “menos sentido de Estado” ao fazer uma “insinuação” sobre eventuais problemas nas contas públicas. Rejeitou haver surpresas escondidas e lembrou que as contas são “auditadas por várias entidades”, entre as quais a Unidade Técnica de Apoio Orçamental, o Banco de Portugal e os credores.

Sugerir correcção
Ler 32 comentários