Bactéria ligada a oito mortes em Gaia mantém 13 doentes em isolamento

Hospital de Gaia confirmou oito óbitos de doentes em que foi detectada uma bactéria hospitalar. Mas diz que as mortes não podem ser totalmente associadas à infecção porque eram pessoas com doenças graves.

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Clínicos alertam para a degradação da situação que pode pôr em causa a segurança dos doentes e a qualidade dos actos médicos Enric Vives-Rubio/Arquivo

O Hospital de Gaia garantiu nesta quarta-feira que não há, neste momento, nos seus cuidados intensivos doentes infectados com a bactéria identificada em Agosto naquela unidade. Ao todo, a bactéria contaminou até agora 30 doentes, dos quais oito acabaram por morrer, mas a unidade ressalva que em muitos casos eram pessoas com outras doenças graves. Ainda há 13 doentes internados em regime de isolamento.

“Houve alguns óbitos em doentes que tinham a bactéria, mas não se pode dizer que a bactéria é que motivou o óbito, foi a doença que motivou o internamento do paciente”, esclareceu ao PÚBLICO a responsável do Grupo Coordenador Local do Programa de Prevenção e Controlo de Infecção e Resistência aos Antimicrobianos do Centro Hospitalar Gaia/Espinho (CHVNG/E), Margarida Mota. A bactéria Klebsiella pneumoniae foi detectada a 7 de Agosto, segundo noticiou o Jornal de Notícias.

Bactéria em 30 doentes
A médica explicou também que “uma coisa são as manifestações clínicas, que são as infecções, outra coisa são doentes com a bactéria. No total, acrescentou, já foram feitos 44 rastreios a pessoas que possam ter estado em contacto com a bactéria e estão em curso mais quatro. A bactéria foi detectada em 30 doentes, “mas só oito é que apresentaram manifestações clínicas”, sendo os restantes portadores assintomáticos. Contudo, Margarida Mota esclareceu que estes oito doentes não corresponderam aos oito óbitos, já que algumas das mortes aconteceram em pessoas que não apresentaram sintomas.

Questionada sobre se a bactéria é a responsável pelas oito mortes, a médica frisou que “não se pode dizer que a bactéria é que motivou o óbito, mas sim a doença que motivou o internamento do paciente”. “A relação directa de óbito e bactéria só pode ser estabelecida em três doentes e mesmo nesses doentes não pode ser estabelecida a 100%”, afirmou, explicando que em alguns casos eram doentes com cancros terminais. Quanto aos 13 doentes que permanecem isolados em regime de internamento, a responsável do centro hospitalar adianta que o isolamento é feito por precaução e explica que “os doentes estão internados porque têm uma doença que base que motivou o internamento e que ainda não está resolvida”.

Ainda não há certezas sobre qual terá sido o primeiro doente a contrair a bactéria, mas Margarida Mota adianta que tudo aponta para que tenha sido “uma doente do foro cirúrgico que já estava internada há mais de 50 dias com uma complicação de pós-operatório com infecções e com o uso de múltiplos antibióticos, o que levou ao desenvolvimento da bactéria”. Alguns dos 13 doentes que ainda estão em isolamento são também pessoas que tinham sido operadas e a quem foram colocados drenos, “o que facilita quer a colonização pela bactéria, quer a evolução para quadro infeccioso”.

Margarida Mota apelou, também, à tranquilidade dos doentes e família, frisando que os doentes que já tiveram alta não representam qualquer risco. “Esta infecção é uma infecção hospitalar e que não põe em risco nem a população em geral nem os utentes da instituição”. A médica informou também que os doentes em isolamento estão a ser tratados por profissionais de saúde que estão em exclusivo com esses casos. “O risco é agora muito reduzido”, reiterou a responsável do Grupo Coordenador Local do Programa de Prevenção e Controlo de Infecção e Resistência aos Antimicrobianos do CHVNG/E.

Já numa conferência de imprensa nesta quarta-feira, Margarida Mota, questionada sobre o facto de a Federação Nacional dos Médicos defender que as instalações do centro hospitalar dificultam o combate a este tipo de bactérias, admitiu que o espaço não tem as “condições ideais”, mas garantiu que os protocolos estão adaptados à realidade que existe. A médica acrescentou, ainda, que esta é uma bactéria que faz parte do intestino humano, mas que “recebeu um gene que lhe dá a capacidade de produzir uma enzima que vai destruir os antibióticos”. A responsável sublinhou, também, que a bactéria está a afectar sobretudo pessoas já fragilizadas e que tinham sido sujeitas a cirurgias com colocação de um dreno – que facilita a infecção.

Antes, através de um comunicado, a médica já tinha adiantado que “após a identificação do primeiro caso” foram adoptadas medidas imediatas de “reforço da capacidade do laboratório de microbiologia”, através da “aquisição de métodos específicos de identificação da bactéria; reforço da equipa nos turnos de fim-de-semana para resultados mais rápidos; implementação de protocolo de rastreio de contactos”. O centro hospitalar notificou também a Direcção-Geral da Saúde no que diz respeito às estirpes identificadas, tal como prevê a norma da Vigilância Epidemiológica das Resistências aos Antimicrobianos.

Foram ainda, segundo a mesma nota, organizadas unidades para isolar os doentes e dada formação específica aos profissionais de saúde. Houve também a “implementação imediata de medidas de isolamento específicas a casos positivos e suspeitos” e reuniões para uniformizar os procedimentos perante casos suspeitos ou positivos. Foi feito o “reforço da restrição do uso de dispositivos médicos invasivos” e da “actividade do Programa de Apoio à Prescrição de Antimicrobianos na consultadoria e monitorização de prescrição de antimicrobianos”.

“Segundo vários estudos publicados sobre o risco ocupacional de contágio entre profissionais de saúde, verifica-se que o mesmo é pouco significativo ou nulo, desde que asseguradas as medidas de precauções básicas”, garantia a mesma nota do centro hospitalar, que acrescentava que ainda decorrem as análises sobre o “genótipo dos isolamentos efectuados” – o que poderá ajudar a “determinar o foco da infecção”.

Portugal entre os países com mais infecções
Portugal está entre os países da Europa com uma prevalência de infecções hospitalares mais elevada: os dados relativos a 2014 apontam para 10,5%, quando a média dos países europeus é de 5,7%. Só Roménia e Malta têm valores comparáveis aos portugueses.

Mesmo assim, pela primeira vez desde 2003, o país conseguiu reduzir a resistência do estafilococo áureo ao antibiótico meticilina (conhecido como MRSA), que fica agora nos 46,8%. Foi também a primeira vez, desde 2008, que se conseguiu recuar para uma taxa abaixo dos 50%. Este é um dado relevante, uma que vez é uma das bactérias que mais contribui para o cenário.

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