Turquia aponta o dedo ao Estado Islâmico e mantém data das eleições legislativas

Primeiro-ministro diz que o atentado de sábado em Ancara foi uma "tentativa de influenciar os resultados" e pede prudência à oposição. Autoridades estão perto de identificar um dos bombistas suicidas.

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As explosões fizeram cerca de uma centena de mortos Tumay Berkin/Reuters

Numa entrevista em directo ao canal NTV, Ahmet Davutoglu garantiu que a votação decorrerá na data prevista. “Não há nenhuma razão para adiar as eleições”, considerou. O Governo já fez saber que estão asseguradas todas as condições de segurança para o dia da votação. Ainda assim, o Partido Justiça e Desenvolvimento (AKP), no poder, anunciou a suspensão de todas as suas actividades de campanha até sexta-feira, por precaução.

O AKP, de Davutoglu e do Presidente Recep Tayyip Erdogan, ambiciona recuperar a maioria absoluta perdida em Junho. Esse escrutínio resultou num governo minoritário, que não conseguiu negociar uma coligação, e concedeu ao Partido Democrático do Povo (HDP), pró-curdo, a sua primeira representação parlamentar.

Em comunicado, o HDP responsabilizou directamente o Presidente e o Governo de Davutoglu pela violência e polarização política na véspera das eleições. Segundo o partido, a recente escalada de violência faz parte da estratégia eleitoral do AKP, que segundo a tese da oposição pretende amedrontar os eleitores para fomentar a abstenção e criar as condições para um fortalecimento dos poderes presidenciais de Erdogan.

“As declarações públicas [de Davutoglu e Erdogan] evidenciam enorme vontade de culpar as vítimas dos ataques e o nosso partido. Essa tendência também revela que os verdadeiros responsáveis pelo massacre não serão lavados à justiça, e que a investigação será escondida do escrutínio público”, dizia o comunicado.

Esta segunda-feira, Erdogan foi alvo de denúncias e fortes críticas durante os funerais de várias das vítimas do atentado de sábado e em protestos organizados, em Istambul e na capital do país. “O Estado assassino tem de prestar contas pela violência”, gritaram os manifestantes que marcharam em Ancara.

Na sua entrevista, Davutoglu informou que as investigações sobre o duplo atentado suicida de sábado apontam para o envolvimento do autoproclamado Estado Islâmico, e disse que as autoridades estão prestes a identificar um dos atacantes. “Não conseguirão transformar a Turquia na Síria”, frisou.

No domingo, Davutoglu tinha apontado como suspeitos o Partido/Frente Revolucionária de Libertação do Povo (DHKP-C), um grupo de extrema-esquerda que cometeu muitos ataques na Turquia desde a década de 1970 e, sobretudo, o grupo jihadista Estado Islâmico (EI) – responsabilizado pelo atentado em Suruç, a 20 de Julho, que matou 32 jovens activistas curdos que se preparavam para ajudar na reconstrução de Kobani, a cidade no Curdistão sírio reconquistada ao EI.

Os ataques de sábado ocorreram durante uma manifestação convocada por sindicatos e forças de esquerda e pró-curdas em Ancara, em protesto contra o conflito do exército e da guerrilha do Partido dos Trabalhadores do Curdistão. De acordo com Davutoglu, os investigadores encontraram várias semelhanças entre os dois ataques, nomeadamente o tipo de explosivos usados nas bombas artesanais.

O jornal Yeni Safak, que é próximo do Governo, escreveu esta segunda-feira que os investigadores estão a testar amostras de ADN dos dois bombistas suicidas, comparando-as com amostras recolhidas de pelo menos 20 indivíduos que já tinham sido identificados como membros do Estado Islâmico.

O governo da Turquia fala oficialmente em 97 mortos, mas o Partido Democrático do Povo (HDP) coloca o balanço em pelo menos 128 vítimas mortais.

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