NATO rejeita explicações da Rússia sobre incursões aéreas na Turquia

Ancara denuncia novo incidente com aviões na fronteira com a Síria. Erdogan avisa Moscovo que relações bilaterais poderão sofrer consequências

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O secretário-geral da NATO diz ter informações de que o Kremlin está a enviar mais tropas para a Síria Thierry Charlier/AFP

A violação do espaço aéreo da Turquia, detentor do segundo maior Exército da Aliança Atlântica, simboliza bem o risco que há de uma escalada incontrolável da guerra na Síria, onde pela primeira vez desde a II Guerra Mundial estão a operar em simultâneo aviões norte-americanos e russos. Apesar de identificarem um inimigo comum – os jihadistas do Estado Islâmico – as duas missões têm objectivos estratégicos opostos e qualquer incidente, mesmo não intencional, tem potencial para gerar uma confrontação que nenhuma das partes deseja.

“Não vou especular sobre os motivos, mas as informações que recebemos não nos levam a crer que tenha sido acidental”, disse o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, sublinhando que a Turquia detectou pelo menos duas as incursões: sábado um caça Sukoi-SU 30 sobrevoou durante dois minutos e meio a província de Hatay, no extremo sul do país; no domingo um Sukoi Su-24 voltou a cruzar a fronteira. Diplomatas na NATO disseram que no primeiro incidente o avião russo fixou os seus radares nos dois F-16 que a Turquia enviou para o interceptar, manobra que antecede eventuais disparos, mas o secretário-geral não quis comentar esta informação.

Segunda-feira, o Ministério da Defesa russo reconheceu que um dos seus caças entrou em espaço aéreo turco “por alguns segundos”, num erro que atribuiu ao “mau tempo” – os aviões russos estão sediados na base aérea de Latakia, a 50 quilómetros da fronteira, e têm lançado vários ataques contra posições dos rebeldes na zona.

Mas a NATO não aceita as explicações. Estes incidentes “duraram muito tempo em comparação com anteriores violações do espaço aéreo a que assistimos na Europa”, disse Stoltenberg, assegurando não ter recebido uma “verdadeira explicação” para o sucedido. O secretário-geral adiantou ainda que a NATO detectou “um reforço substancial de forças russas na Síria”, envolvendo aviões, sistemas de defesa aérea, “mas também forças terrestres associadas à sua base aérea, além de uma crescente presença naval”.

Reagindo às suspeitas, o representante da Rússia junto da NATO, Alexander Grushko, disse “ter a impressão” que o caso de está a ser usado para arrastar a organização para a “ campanha de desinformação levada a cabo pelo Ocidente para distorcer os objectivos das operações da Força Aérea russa na Síria”.

Fúria turca
Em Moscovo, o vice-ministro da Defesa russo, Anatoli Antonov, garantiu também estar disponível para receber uma delegação turca e discutir formas de evitar novos “mal-entendidos”. Mas, no mesmo momento em que falava, o Exército de Ancara emitia um comunicado dizendo que, na segunda-feira, dois dos seus F-16 “foram assediados” por um caça russo junto à fronteira com a Síria e foram depois colocados na mira de uma bateria de mísseis terra-ar que Moscovo enviou para a zona.

“As nossas relações com a Rússia são conhecidas, mas se a Rússia perder um amigo como a Turquia, com quem coopera em muitos assuntos, irá perder muito”, avisou o Presidente Tayyip Erdogan, de visita a Bruxelas para discutir a situação na Síria e a crise dos refugiados. Sublinhando que Ancara não irá tolerar o contínuo desrespeito do seu espaço aéreo, o chefe de Estado turco rematou: “Um ataque à Turquia é um ataque à NATO”. As incursões, escreveu o correspondente da BBC em Istambul, agravam a ira de Erdogan com ofensiva russa na Síria, quer porque cria o potencial de um incidente de consequências imprevisíveis, quer porque mina dois dos objectivos centrais da sua política síria – o derrube do Presidente Bashar al-Assad e a criação de uma zona tampão a sul da fronteira, sob protecção dos aviões da coligação liderada pelos EUA.

Apesar da fúria turca, a preocupação imediata da NATO, e sobretudo dos EUA (desejosos de evitar um confronto com os militares russos na Síria), é conseguir o acordo de Moscovo para normas de actuação comuns, que impeçam acidentes e garantam a continuidade das duas operações. A AFP adianta que o comando militar da Aliança Atlântica vai recorrer às linhas de comunicação que mantém com o Exército russo, um canal que não era usado desde o auge da crise na Ucrânia, em Maio de 2014. Por seu lado, o secretário da Defesa norte-americano, Ashton Carter, revelou que no início do mês militares russos e americanos discutiram protocolos básicos de segurança aérea, mas Moscovo ainda não respondeu às propostas que lhe foram feitas.

Entretanto, a aviação russa mantém os ataques cerrados a alvos na Síria. Acusada na primeira semana de ter bombardeado sobretudo posições da rebelião apoiada por ocidentais e árabes, para reforçar os bastiões sob controlo de Assad, terá atacado nesta terça-feira posições do Estado Islâmico em Palmira, cidade património mundial que está em poder dos jihadistas desde Maio. Moscovo negou este ataque, mas segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos, pelo menos 15 combatentes foram mortos e mais de 20 blindados destruídos.

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