Assad diz-se confiante na vitória da “sua” coligação
Ou o terrorismo é derrotado ou é o fim do Médio Oriente, afirmou o Presidente sírio. Putin ainda está à espera que lhe expliquem o que é a “oposição moderada”
Pelo quinto dia consecutivo, os aviões russos bombardearam diversos alvos, destruindo, segundo Moscovo, posições do grupo jihadista radical Estado Islâmico (EI). Uma vez mais, os países ocidentais lamentaram que esses bombardeamentos estejam a visar sobretudo grupos rebeldes anti-Assad, e não exclusivamente o EI. A Rússia tem que “mudar de rumo”, avisou o primeiro-ministro britânico, David Cameron
Exprimindo-se pela primeira vez desde o início da intervenção russa, o Presidente sírio considerou indispensável o sucesso da coligação contra “o terrorismo”, formada pelo seu país, a Rússia, o Irão e o Iraque. Estas forças “têm que conseguir, senão a região inteira será destruída e não apenas um ou dois países”, disse Assad, numa entrevista à televisão iraniana Khabar. “O preço a pagar por uma derrota será certamente elevado”, continuou, acrescentando que as “hipóteses de sucesso” desta coligação são “grandes e não mínimas”.
No poder há 15 anos e sobrevivente de uma revolta popular que noutros países árabes fizeram cair ditadores, o presidente sírio agradeceu a intervenção militar russa, que pediu na esperança que este apoio lhe permita reverter a série de reveses militares a que o seu exército foi sujeito nestes últimos meses.
Moscovo informou que os seus aviões Sukhoï efectuaram 20 saídas em 24 horas e atingiram “dez alvos dos bandidos do EI”. Estes novos raides foram efectuados poucas horas depois de a Rússia ter anunciado que ia “intensificar” a campanha de ataques feitos pelos seus aviões que estão posicionados numa base no ocidente da Síria.
A entrada em força de Moscovo no conflito sírio foi considerada como “inaceitável” pelo Presidente turco Recep Tayyip Erdogan, cujo país, que faz fronteira com a Síria, segue com crescente preocupação a internacionalização do conflito. Sinal desta escalada, é a percepção de vários analistas citados pelo jornal Guardian que dão conta de preparativos para uma maior intervenção militar no terreno dos países vizinhos que têm apoiado os rebeldes sírios: Arábia Saudita, Qatar e a própria Turquia.
O Observatório sírio dos direitos humanos (OSDH), organização com sede em Londres que monitoriza o conflito na Síria, indicou que vários raides visaram na noite de sábado para domingo a cidade de Raqqa, a “capital do EI”, grupo radical que já controla quase metade do território sírio. Mas esta organização não estava em condições de determinar se os ataques foram feitos por aviões russos, do regime sírio ou da coligação liderada pelos Estados Unidos.
Por outro lado, informou o OSDH, “aviões, quase de certeza russos, efectuaram vários raides contra duas localidades no norte da província de Homs (centro do país), uma zona em grande parte controlada pelos grupos rebeldes, nomeadamente a Frente al-Nusra, braço sírio da Al-Qaeda.
Um alto-responsável do estado-maior russo, o general Andreï Kartapolov, repetiu no sábado que a Rússia só está a visar “terroristas”, um termo que engloba, tanto para o Kremlin como para o regime sírio, todos os grupos que combatem Assad.
Por seu lado, o porta-voz do Presidente russo Vladimir Putin lamentou que os Ocidentais ainda não tenham conseguido explicar a Moscovo o que consideram ser “a oposição moderada” ao governo de Bashar al-Assad.
No decorrer de um encontro na sexta-feira com Angela Merkel e François Hollande em Paris, o Presidente Putin “demonstrou um grande interesse sobre esta questão e perguntou à chanceler alemã e ao Presidente francês qual era diferença entre a oposição moderada e aquela que não é. Até agora ninguém lhe conseguiu explicar o que é a oposição moderada”, disse Dimitri Peskov, em declarações a uma televisão russa.