Costa atropelado, amassado e levantado do chão
Campanha socialista marcada pelas duas arruadas e comício no distrito de Braga. Líder do PS foi levado em ombros duas vezes no mesmo dia.
Mais do que a mensagem política dos discursos ou do que as propostas reveladas, o que este domingo sobressaiu da caravana socialista foram os números das arruadas e comício no distrito de Braga. Em Fafe, Guimarães e Barcelos o cortejo de Costa encheu ruas e lotou largos.
No arranque da arruada era já ensurdecedor o barulho que a comitiva fazia. Os passeios e as típicas varandas do centro histórico estavam já compostos de gente e confetis. E aquela massa humana largou uma aclamação quando os militantes Afonso Ribeiro e Domingos Leite decidiram pegar em ombros no líder do partido.
Leite, gerente há 26 anos de uma pequena empresa de construção civil explicou porque o fez. “Acredito nele porque tem o mesmo espírito que eu: luta pelo povo como eu luto pelos meus filhos”, disse depois de acusar o Governo de Passos de ter “feito tudo para acabar com as pequenas empresas”.
Primeiro, Costa pareceu ficar entre o embaraço e o susto. Mas depois deixou-se ir. Virou-se para trás de mãos no ar, fechou o punho e gritou vezes sem conta “vitória, vitória, vitória”, junto com os apoiantes. Muita gente estava nos passeios da Rua da Rainha à espera para ver passar Costa. O candidato tentou ir a todos.
Foi ter com Zeca Paulo no momento em que este, emocionado, empunhava bem alto um postal do candidato enquanto a caravana passava pela sua porta. Durante uns segundos, deixou o socialista de mão estendida, porque não o viu ali mesmo ao lado. Quando finalmente percebeu, agarrou-se a Costa a “chorar de emoção”.
“Ex-CDS que vai votar PS”
O secretário-geral não conseguiu chegar a todos, mas foi capaz de encontrar um “ex-CDS que vai votar PS”. Freitas do Amaral abraçou Costa e depois justificou o gesto: “Voto no PS por causa da prioridade que dá à justiça social.” Minutos depois Costa estava a acenar para o vazio fazendo render a arruada. Ao subir para o carro, os fotógrafos chamaram-no. O socialista deixou-se ficar, sorridente, de braços no ar, com uma rua cheia de apoiantes atrás de si.
O socialista teve até direito a uma desgarrada à concertina ajustada à sua campanha. “Eu dou e torno a dar/Guimarães é uma beleza/Com o António Costa/ Ele ganha de certeza.”
Barcelos não foi diferente. A mesma confusão e reboliço com a organização a ver-se forçada a rodar o secretário-geral com um cordão, deixando passar apoiantes à vez. Ainda antes de chegar o candidato, o espaço do comício (no Largo da Porta Nova) já estava cheio. Quando Costa começou a falar, a mole transbordava para trás das equipas de som e imagem.
Com o sucesso de adesão, Costa nem se deu ao trabalho de trabalhar para o turno dos “sound bites” de campanha. O discurso mais relevante acabou, assim, por ser o que fez no fórum com jovens pela manhã, onde mais do que uma vitória, pediu “condições para governar” e “executar o seu programa”.
Os pequenos percalços, que começam a ser uma imagem de marca da campanha do ex-autarca, também não ensombraram o dia. Costa não se atrapalhou com o sino da igreja mesmo ao lado tocou quando começava a discursar. “Estamos a uma semana do sino tocar. Ao dar as badaladas das sete horas, estarão a encerrar das urnas com uma grande vitória do PS”, gingou o candidato. Minutos depois, os militantes ajudaram a disfarçar quando uma quebra de electricidade deixou a voz do comício a meio da frase que lançaria o hino. “Estamos todos aqui, todos aqui por Portug...” Por essa altura, o ex-ministro João Cravinho ainda estava no hospital “público” de Braga, depois da indisposição sofrida ao almoço.
E ninguém da campanha poderia prever que um eurodeputado fosse recordar outros momentos conseguidos da liderança de Costa. Depois de acusar o Governo de ser uma “máquina do tempo que fez Portugal andar para trás”, Francisco Assis, que apoiou Seguro nas primárias do PS, assumiu a sua “convicção profunda” de que, “neste momento”, Costa era “a pessoa mais preparada para ser primeiro-ministro em Portugal”. Porque sabia “decidir”, sabia “romper e rompeu algumas vezes”. E terminou com ironia o elogio exponencial ao candidato. “Podes não perceber muito de cartazes, mas vais ser um grande primeiro-ministro.”
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