Praxe deixou caloira da Universidade do Algarve em coma alcoólico
Reitor já anunciou que haverá consequências disciplinares para os estudantes envolvidos.
Segundo informações prestadas na manhã desta quinta-feira por fonte do Hospital de Faro, a estudante mantém-se sob observação, mas deve ter alta "em breve".
Maria José, proprietária de um apoio de praia na zona, testemunhou a praxe. “Estava aqui, no restaurante, e de vez enquanto ia dar uma espreitadela à festa dos estudantes. Eles abriam covas, ficavam cobertos de areia até ao pescoço, e quando não estavam suficientemente enterrados, vinha o padrinho e obrigava-os a beber”, relatou ao PÚBLICO, acrescentando que “ficaram muitas garrafas de vodka, whisky e vinho na praia”.
A situação que resultou no internamento, depois das 21h de quarta-feira, foi primeiro relatada, em declarações à TVI por uma amiga da família da universitária. As consequências foram confirmadas pelo reitor da Universidade do Algarve, António Branco.
Num comunicado divulgado nesta quinta-feira, o reitor recorda que já tinha avisado que não haveria tolerância relativamente a quaisquer actos de recepção dos novos alunos, “dentro ou fora dos campi da Universidade do Algarve", que atentassem “contra os direitos à integridade física e moral, à liberdade e à segurança de qualquer estudante, direitos esses consagrados na Lei e, por isso, acima de qualquer praxe, regulamento ou tradição”.
Na mesma nota interna prometera que qualquer reclamação recebida relativamente àquela matéria “seria cabalmente averiguada, com todas as implicações disciplinares daí decorrentes”.
É isso que está já a fazer, segundo o comunicado em que apela “à serenidade dos membros da Academia” e diz esperar que o “momento proporcione uma reflexão individual e colectiva sobre os valores que devem prevalecer e ser preservados na Universidade do Algarve, em defesa de uma convivência sã e verdadeiramente académica”.
O próprio Governo está a promover, este ano, uma segunda edição de uma campanha contra “condutas abusivas, humilhantes e vexatórias” praticadas na recepção aos caloiros. A primeira foi lançada em 2014, na sequência do debate gerado pela morte, um ano antes, de seis estudantes da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, no Meco, e incluíu um endereço electrónico — o praxesabusivas@mec.gov.pt, que se mantém activo.
No ano lectivo que está a começar o Ministério da Educação e Ciência (MEC) recebeu duas queixas, segundo informações dadas nesta quarta-feira ao PÚBLICO. Através do gabinete de imprensa, o MEC referiu que, "obedecendo a um princípio de confidencialidade (e de confiança) a que aquele meio de denúncia está vinculado, não divulgará o conteúdo, o autor ou a instituição a que cada queixa diz respeito".
Segundo o gabinete de imprensa do ministério, no ano passado, as 74 denúncias enviadas para aquele e-mail chegaram entre Setembro e Dezembro. A maioria (41) foi encaminhada para as reitorias das universidades e para as presidências dos institutos politécnicos. As restantes (33) não se enquadravam no âmbito da campanha”, fez saber a tutela em Agosto, quando divulgou a imagem da campanha. Estas últimas estavam relacionadas, por exemplo, com o uso do traje académico.