Presos em França os dois chefes do que resta da ETA
A ETA tem sofrido sucessivas “decapitações” acompanhadas pelo desmantelamento do seu aparelho político-militar
Sorzabal, que usa o nome de guerra “Ezpela”, 43 anos, e Pla, “Mintxo”, de 40, foram os chefes terroristas que leram o comunicado em que a organização declarou o fim “definitivo” da luta armada, em 20 de Outubro de 2011, encerrando um ciclo de 40 anos de atentados sangrentos. Esta decisão foi posteriormente aprovada pelo “colectivo de presos” da ETA.
“Ezpela” milita na ETA desde a adolescência, passou à clandestinidade em 2001, ascendeu à chefia em 2010 e é acusada de três assassínios. Segundo fontes policiais, ela e Pla asseguravam a direcção do que resta da organizaçãp, ao lado do veterano José Antonio Urrutikoetxea, “Josu Ternera”, 65 anos, um dos líderes da organização nos anos 1980 e membro da “frente armada” desde 1971. Depois de ter cumprido uma pena de prisão e de ter sido deputado basco, voltou à clandestinidade em França em 2003. Especulou-se esta manhã sobre a sua possível detenção mas o rumor foi desmentido.
A ETA tem sofrido sucessivas “decapitações”, sobretudo na última década, acompanhadas pelo desmantelamento do seu aparelho político-militar. Em 2014, a polícia afirmava que a organização estava reduzida a 15 ou 20 membros clandestinos, logisticamente apoiados por 40 legais ou semiclandestinos. Em 2010, teria 60 militantes clandestinos. Nos anos 1980 chegou a ter 500 operacionais. Tem cerca de 120 fugitivos na Venezuela, Cuba e México. Perto de 500 militantes estão ainda nas prisões espanholas ou francesas.
A ETA parou de matar em 2011 porque dela já pouco restava, sendo qualificada pelos especialistas como um “bando tecnicamente em estado de decomposição”. Antes disso tinha sido maciçamente rejeitada pela população basca. Fracassou em todos os objectivos, suspendeu a “luta armada” mas recusou a sua dissolução. Continua a exigir a Madrid e Paris uma “negociação de paz”.
A “decomposição” da ETA teve um importante efeito político no País Basco. O seu “braço político”, hoje representado pelo partido Sortu, emancipou-se pela primeira vez da organização “militar”, procurando atingir os mesmos objectivos por meios políticos. Mas não rompeu com o passado. Explica o analista Florencio Domínguez, autor de vários estudos sobre a organização: “Não é só a ETA, é o conjunto da esquerda abertzale [“patriótica”]. Estão implicados na tentativa de impor à maioria da sociedade uma visão que justifique a trajectória terrorista passada, para diluir as culpas e fazer que aqueles que mataram não tenham nenhuma responsabilidade. Não são capazes de fazer uma autocrítica do seu passado violento.”