Greve não chegou a parar aulas no superior, mas “ajudou a passar mensagem”
Candidatos do PS, BE e Livre juntaram-se ao protesto do Snesup no Porto.
No Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP), para onde estava marcado o principal protesto, não foram mais de 70 os docentes que participaram na sessão onde, simbolicamente, era “encerrado” o ano lectivo, como forma de alertar para as dificuldades de financiamento e os problemas laborais que põem em causa o funcionamento do ensino superior. A greve teve também impacto noutras instituições de ensino superior, onde foram organizados debates e reuniões de trabalho para discutir os problemas do sector. Ao todo, terão sido poucas centenas de professores e investigadores a responder à chamada do Snesup.
No átrio do ISEP viam-se cartazes com as principais exigências desta greve: "Chega de cortes no Ensino Superior. Sem formação não há futuro", "Reorganizar sim, destruir não" ou "por um Ensino Superior e Ciência acessível a todas as classes sociais". Mas essas frases terão sido uma das poucas formas de os estudantes da instituição que pertencem ao Instituto Politécnico do Porto se aperceberem do protesto.
“Os números da adesão não eram o mais importante. A greve servia, acima de tudo, para permitir aos colegas participar nas acções de protesto”, justifica o presidente daquele sindicato, António Vicente. O dirigente considera, por isso, que a paralisação desta terça-feira teve “efeitos positivos”. “Ajudou a passar a mensagem dos problemas que afectam o ensino superior e a ciência”, defende, acrescentando que quer entre professores e investigadores, quer entre alunos e mesmo junto da opinião pública ficaram claros os motivos da luta dos docentes das universidades e politécnicos.
A greve desta terça-feira é a primeira convocada pelo Snesup desde 2009. O protesto pretendia alertar para os sucessivos cortes do financiamento público às instituições de ensino superior estão, novamente, a causar à medida que se aproxima o fim do ano civil e o nível de precariedade elevado na docência (45% dos professores do sector público e 75% dos do privado não têm vínculo estável para com as instituições onde trabalham). A estes problemas junta-se o perigo de despedimento de centenas de professores nos institutos politécnicos, que estavam abrangidos pelo período transitório do Estatuto da Carreira Docente que terminou a 1 de Setembro.
Helena Bento, uma professora doutorada na área de Ciências do Desporto, na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, que fez greve esta terça-feira, lamentava, em declarações à Agência Lusa, as "condições precárias" a que está sujeita e conta que este novo ano letivo chegou a ser-lhe proposto metade das horas de serviço e um ordenado na ordem dos 400 euros. Professora contratada há três anos e a tempo parcial de 59%, esta professora conta que "mais de 40% do corpo docente na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto são contratados a tempo parcial", ou seja, apesar de trabalharem para o Estado, têm os cortes que estão subjacentes aos funcionários públicos, mas não têm direito à assistência na saúde e outros benefícios.
Ao protesto que aconteceu no ISEP juntaram-se os cabeças de lista pelo distrito do Porto às eleições Legislativas do PS (Alexandre Quintanilha), Bloco de Esquerda (José Soeiro) e Livre/Tempo de Avançar (Ricardo Sá Fernandes). A presença de candidatos ao sufrágio do próximo dia 4 de Outubro corresponde ao objectivo do Snesup “de fazer chegar os problemas do ensino superior e da ciência e as nossas soluções aos partidos políticos ”, explica António Vicente. Até ao final da campanha, o sindicato vai continuar a fazer chegar às forças que concorrem à Assembleia da República um conjunto de propostas para o sector. Nesse documento são incluídas todas as questões que constavam o pré-aviso de greve e apontadas ainda outras, como a da necessidade de reorganização da rede de instituições de ensino superior. com Lusa