Irão os gregos dar uma segunda hipótese a Tsipras?
Sondagens mantêm empate entre Syriza e Nova Democracia. O partido de esquerda continua a defender que pode fazer melhor. Os seus rivais conservadores pedem o “fim das experiências”.
Estas eleições são importantes porque o governo terá metas estritas para cumprir, com entregas calendarizadas para evitar atrasos e derrapagens. Desta vez, ao contrário do que tem sido hábito, ouviram-se poucas vozes de responsáveis europeus dizendo aos gregos o que escolher. Apesar disso, o espectro de uma saída da Grécia do euro continua a existir.
Com tudo isto, as sondagens dão um empate entre o Syriza e a Nova Democracia (ND), com uma ligeira vantagem na maioria da parte do partido de Alexis Tsipras - (29-28,4% segundo o instituto Kappa, 24,5-24% segundo o Metron, sendo que o Metrisi dá a ND à frente com 28,5% e o Syriza com 27,1%). No entanto, há quem veja sinais de uma vantagem para o Syriza.
O analista Nick Malkoutzis nota que a Universidade da Macedónia dava o Syriza em segundo lugar e começou a mostrá-lo à frente (31% contra 28,5%). E num país em que as sondagens já erraram tanto (no referendo previam um empate quando o "não" venceu com mais de 60%), até as apostas eram tidas em conta: e pendiam para o Syriza. No entanto, com o enorme número de indecisos, agora em cerca de 10%, é demasiado arriscado fazer uma previsão quanto ao vencedor.
Ainda assim, no seu comício final na praça Syntagma, Alexis Tsipras mostrou-se convencido de que vencerá, e que a questão é apenas com quanto.
O terceiro lugar parece incontestavelmente do partido neonazi Aurora Dourada, na casa dos 6-7%. Pasok, Partido Comunista (KKE), To Potami (O Rio), aparecem todos em posição de contestar o quarto lugar, com números à volta dos 5-6%. Todos são potenciais parceiros de coligação de qualquer um dos vencedores, excepto o KKE, que recusa alianças.
Segue-se o partido Unidade Popular, liderado por Panagiotis Lafanis, o ex-ministro da Energia, que saiu do Syriza não concordando com a assinatura do acordo para o terceiro empréstimo, que entraria no Parlamento com pouco mais de 3%. Está ainda em dúvida se o partido do veterano Vassilis Leventis, que normalmente consegue menos de 1%, ultrapassá os 3% necessários para entrar eleger deputados, e mais ainda incerto se os Gregos Independentes (ANEL), parceiros do Syriza no Governo, com 2-3%, conseguiriam entrar no Parlamento.
"Pelo menos lutaram"
Os argumentos dos dois principais partidos são bastante simples: o Syriza defende que em sete meses e ocupado com as negociações não teve tempo de fazer o que queria no campo da luta contra a corrupção, e que com o tempo e mudanças noutros países europeus será mais fácil conseguir simpatia para posições contra a austeridade.
Foi o que disse ao Público, num restaurante em Atenas, o candidato do Syriza Yannis Theonas, que foi durante dez anos deputado no Parlamento Europeu. Com eleições e potenciais mudanças noutros países – Portugal, Espanha, Itália, enumerou – será mais fácil que a Grécia obtenha condições diferentes; ainda está por discutir uma potencial restruturação da dívida.
A campanha, disse Theonas, “está a ser feita num espírito positivo”, considera. “Pelo menos Tsipras lutou e tentou um resultado melhor.”
É o que diz Eleni, professora de 56 anos, no comício na praça Syntagma. O entusiasmo desapareceu, e a esperança diminuiu, mas ainda resta qualquer coisa: “Tsipras foi obrigado pela Europa. Os outros acreditam na austeridade. Passo a passo, vamos conseguindo algumas mudanças”, acredita.
Um dos principais inimigos do Syriza é a abstenção, já que muitos que pensam não votar tinham antes escolhido o Syriza. Por isso Tsipras apelou: “Quem estiver desiludido, vá votar”, mesmo que não no seu partido.
"Não a experiências"
A frustração e o desapontamento de muitos gregos é bem visível. A onda de euforia do referendo ainda está bem marcada na cidade, com graffiti a lembrar o Oxi – não – ao acordo com os credores mesmo que sob condições muito duras, com os bancos fechados. Desde então, os controlos de capitais ainda existem, ainda que tenham sido bastante suavizados, tendo sido aumentado o limite de levantamentos para 420 euros por semana e permitidas algumas transferências e pagamentos para o estrangeiro.
Evangelos Meimarakis, o candidato da Nova Democracia, inicialmente interino mas cuja popularidade começou a crescer, acusou o Syriza de não ter trazido nada de novo “excepto o controlo de capitais.” Como o Syriza também tem dito que não se aliará à Nova Democracia caso vença, e a Nova Democracia a admitir esta aliança caso fique em primeiro, Meimarakis argumenta que um voto em Tsipras é um voto num governo frágil e a prazo, ou mesmo numa nova volta das eleições, como aconteceu em 2012.
No seu comício na praça Omonia, a primeira vez em que o partido conservador teve um líder a falar numa praça do centro de Atenas desde que esteve no Governo de 2012 ao início de 2015, Meimarakis pediu aos eleitores que “acabem com as experiências”.
O discurso do político que fala com um tom informal e até calão convenceu Angela, 52 anos, que se descreve como “directora financeira de uma pequena empresa e com o marido desempregado”. “Nada vai melhorar de repente no dia seguinte, mas acredito que se a Nova Democracia vencer vamos ter mais estabilidade, e mais investimento no país”, defendeu.
O braço esquerdo de Alexis
Entre o desapontamento, que se mostra tanto nas conversas como em apontamentos - na zona do porto, alguém escreveu "urna de voto" num caixote do lixo - a campanha foi marcada pelo humor.
Alguns anúncios televisivos, especialmente de partidos mais pequenos, recorreram a piscares de olhos mais ou menos subtis aos eleitores. Lafazanis, o candidato da Unidade Popular, que um dia foi citado por ter dito que se preparava para tomar a casa da moeda, aparece num anúncio em que chama um táxi, entra, e diz o destino: “a casa da moeda”. O taxista vira-se para trás, para ver Lafazanis com um sorriso irónico. Lafazanis tem defendido um regresso a uma moeda nacional, mas não explica como esse se faria.
Outra face do partido que saiu do Syriza, Zoe Konstantopoulou, bem mais popular que Lafazanis, aparece num anúncio em que um rapaz lê o relatório parlamentar à dívida grega em que esta é declarada “ilegal e odiosa”. Ele vai mudar um pneu, e há um pneu que rola, enquanto Konstantopoulou explica que a verdade anda mais depressa. A referência é a uma série de notícias sobre como a presidente do Parlamento teria tratado com má educação e desprezo um empregado de uma oficina de uma loja de pneus – notícias que depois se vieram a verificar falsas.
Os Gregos Independentes também fizeram o seu anúncio com referências pouco subtis: protagonizado pelo “pequeno Alexis”, que tem uma T-shirt vermelha, e está no hospital porque partiu o braço esquerdo. “Não te preocupes pequeno Alexis”, diz-lhe o presidente do partido, Panos Kammenos. “Vamos ensinar-te a escrever com o direito”.
Com tudo isto, uma personagem antiga da política grega surgiu como a beneficiária de alguma da insatisfação: Vasilis Leventis, líder de um partido chamado União dos Centristas, que nas eleições de Janeiro tinha ultrapassado pela primeira vez 1% de eleitores e surge agora com hipóteses de entrar no Parlamento.
Leventis esteve tanto no Pasok como na Nova Democracia antes de se tornar, a partir dos anos 1990, um feroz crítico destes partidos, das suas ligações perigosas, dinastias políticas, em vários programas de televisão. Se entrar no Parlamento, vários membros da família de Leventis estão na lista do partido em lugares elegíveis.