Passos duvida que maioria dos socialistas queira chumbar OE
Coligação PSD/CDS ataca António Costa em jantar com apoiantes.
Durante um jantar com pouco mais de 1100 pessoas — e alguns lugares vazios —, o líder da coligação PSD/CDS começou por saudar a melhoria do rating de Portugal para apontar o dedo ao secretário-geral do PS por manifestar intenção de vetar o próximo Orçamento do Estado.
“Quem aspira na oposição a ser primeiro-ministro promete conflitualidade, instabilidade, promete a velha política, pondo a demagogia ao serviço partidário e não colocando a política ao serviço dos portugueses e de Portugal. Não acredito que a maioria dos socialistas se revejam nessa posição”, disse.
A farpa arrancou palmas dos apoiantes da coligação e relançou a mensagem do discurso dos perigos do regresso ao passado. De resto, Passos recorreu às ideias-chave da mensagem, desde a justificação das medidas difíceis que foram obrigados a tomar até à lição do Syriza na Grécia.
Já antes, no mesmo pavilhão decorado com as cores da coligação e onde nem faltaram os guardanapos cor-de-laranja nas mesas, o vice-presidente do CDS, Nuno Melo, tinha aproveitado a revelação de António Costa para atirar a primeira pedra: “Enquanto candidato a primeiro-ministro e líder da oposição que será, [o líder do PS] não constrói nada, destrói”, afirmou, sem esquecer a ideia de que Costa “tem de explicar” onde vai cortar nas prestações não contributivas.
De fábrica em fábrica
Os discursos desta noite culminam um dia de campanha dedicado a fábricas e a encontros com empresários nos distritos da Guarda e Castelo Branco. A meio da tarde, os alertas começaram a chegar aos telemóveis da comitiva: a S&P melhorou o rating de longo prazo de Portugal para BB+, que fica mais perto de sair do nível de lixo. Poucos minutos depois, um dos assessores aproxima-se de Passos Coelho e dá-lhe conta da notícia. Naquele momento, o líder da coligação iniciava uma demorada visita a uma fábrica, em Castelo Branco. “Lá vamos para BBB”, comentou para o seu interlocutor, com visível satisfação.
Passos Coelho passou duas horas a percorrer uma fábrica de equipamentos de refrigeração, entre tubos de cobre e alguma maquinaria pesada. Com mais ou menos atenção, ouvia as explicações do proprietário e de trabalhadores sobre o processo de fabrico dos equipamentos, detinha-se nos pormenores, e fazia perguntas sobre a maquinaria ou peças já produzidas. De vez em quando consulta o telemóvel, mas é rápido a fazê-lo. Esteve sem Paulo Portas (que fez uma pausa para preparar um debate com Heloísa Apolónia, de “Os Verdes”) e ao lado de Nuno Melo, o vice escolhido por Portas para se fazer substituir nas suas ausências.
Nuno Melo esforçou-se por acompanhar o líder da coligação, mas deixou-lhe sempre o protagonismo. Foram voltas e voltas às instalações que, ao final da tarde, já quase não tinha trabalhadores a laborar — o horário já tinha sido cumprido. Ainda assim, um dos operários que se aproximou para dar uma explicação sobre uma das fases do fabrico desejou o regresso de Passos Coelho: “Espero tê-lo cá nos próximos quatro anos, como primeiro-ministro”. O agora candidato a chefe do Executivo deu uma gargalhada e agradeceu com um vigoroso aperto de mão.
Mesmo sem protestos à vista, a caravana da coligação tem uma equipa avançada (incluindo elementos de segurança) que chega com meia hora de antecedência ao local da iniciativa e prepara os pormenores da visita dos dirigentes da coligação. Nesta sexta-feira, Passos esteve sempre em ambientes fechados e controlados. Uma escolha semelhante está prevista no programa deste sábado. Sem rua, sem multidões.