Corbyn divide Labour com escolha de aliado para número dois da sua equipa

Novo líder diz que "governo-sombra" é inclusivo, mas a nomeação de McDonnell, o futuro do Reino Unido na UE e poucas mulheres em cargos-chave geram polémica.

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Corbyn foi eleito sábado líder do Partido Trabalhista Justin Tallis/AFP

Os primeiros dias de Corbyn à frente dos trabalhistas provam que a crispação veio para ficar: O novo líder mostra-se agastado com a animosidade da imprensa e o assédio dos jornalistas; os conservadores insistem que o Labour passou a ser “uma ameaça à segurança nacional e à segurança económica” do país; e os deputados da ala mais centrista saem de cena mas não sem antes criticarem Corbyn.

O clima não promete desanuviar com a chegada ao Parlamento da polémica lei dos sindicatos, um diploma que a oposição diz ser um ataque sem precedentes ao direito à greve e que, entre outras propostas, define que uma paralisação só pode ser convocada se mais de 50% dos trabalhadores sindicalizados participarem na votação prévia. Corbyn, que nesta segunda-feira se sentou pela primeira vez na bancada da frente da oposição em Westminster, e as centrais sindicais prometem bater-se com todas as armas contra “este novo ataque aos trabalhadores”, abrindo a perspectiva de um confronto que evoca a luta dos sindicatos contra o Governo de Margaret Thatcher.

Mas, para já, é ainda nos estilhaços da eleição de Corbyn que as atenções estão centradas, numa tentativa para perceber se conseguirá unir o partido ao ponto de calar, pelo menos no curto prazo, os que lhe pressagiam uma liderança breve.

As nomeações para o “governo-sombra” – o grupo de deputados que repartem a resposta aos ministros nas várias áreas da governação – foram feitas a conta-gotas, mas depressa se percebeu que eram raros os que iam transitar da equipa de Ed Miliband. E dos três adversários na corrida à liderança só Andy Burnham aceitou o convite de Corbyn, assumindo a pasta do Interior. O novo líder foi também criticado por ter escolhido apenas homens para os cargos mais importantes, apesar de 16 dos 31 porta-vozes serem mulheres e de Angela Eagle acumular a pasta do Comércio com a responsabilidade de substituir Corbyn no debate semanal.

A polémica maior surgiu, porém, com a confirmação de que será McDonnell, que foi seu chefe de campanha, a conduzir a política económica do Labour. Socialista como o novo líder, o novo porta-voz para as Finanças vai ainda mais longe nas suas propostas, ao defender a nacionalização da banca ou o fim da autonomia do Banco de Inglaterra para definir a política monetária. Ideias que prometem deixar lívida a City e, temem os centristas, remetem o Labour para o estatuto de partido de protesto.

A escolha de McDonnell foi vista como “uma declaração de guerra” às outras alas do partido, escreveu a editora de política da BBC, Laura Kuenssberg, adiantando que a sua entrada na equipa foi a principal razão pela qual outros moderados se afastaram. O próprio admitiu que não é figura de consenso quando, num encontro com sindicalistas, elogiou a moderação que Corbyn demonstrou na campanha. “A isso chama-se bondade, significa respeito pelo outro mesmo quando não concordamos. Eu não sou muito bom nisso e é por isso que eu não sou líder do Labour.”

O incómodo estende-se à ala mais à esquerda. O secretário-geral da Unison, uma das centrais sindicais que apoiou Corbyn, admitiu ter reservas sobre a escolha de McDonnell e Hilary Benn, que se mantém como porta-voz para as questões externas, disse apenas “respeitar” a decisão do líder. McDonnell respondeu na mesma moeda. Depois de Benn ter afirmado numa entrevista à BBC que o Labour fará campanha a favor da permanência do Reino Unido na União Europeia, independentemente das circunstâncias em que se realizar, o “número dois” do “governo-sombra” assegurou que os trabalhistas vão reservar a sua posição até perceberem que renegociação o primeiro-ministro, David Cameron, vai conseguir.

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